Antes elas ficavam nos bastidores, eram o apoio dos maridos, pais e filhos. Agora as mulheres estão levantando a cortina, mostrando os rostos e se candidatando a vereadora, deputada, prefeita, senadora, governadora e presidente da República. Nas eleições municipais de 2016, elas representavam 31,6% do total de candidatos. Este percentual já é maior do que a cota de gênero de 30% estipulada pela Justiça Eleitoral.
Mas candidatar-se não significa ganhar a eleição e assumir um cargo eletivo. Prova disso é que apenas cerca de 10% das cadeiras da Câmara dos Deputados e pouco menos de 15% das vagas do Senado são preenchidas por mulheres. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o percentual é idêntico nas Assembleias Legislativas e menor ainda nas Câmaras de Vereadores.
Diferente do restante do país, Roraima é governado por uma mulher, Suely Campos. Dos 14 municípios, quatro têm prefeitas mulheres: Teresa Surita, em Boa Vista; Socorro Guerra, em Caracaraí; Eronildes Gonçalves, em Mucajaí; e Vera Lúcia Cardoso, em Amajari.
No Legislativo, porém, a realidade é a mesma do âmbito nacional. Ângela Portela ocupa uma das três cadeiras de Roraima no Senado. Das oito vagas para deputado federal, duas são de Maria Helena Veronese e Shéridan. Das 24 cadeiras na Assembleia Legislativa, três são ocupadas por elas: Aurelina Medeiros, Ângela Águida Portella e Lenir Rodrigues.
O motivo? A cientista política, professora doutora Geyza Pimentel, explica: a sociedade ainda é muito machista quando se trata de colocar uma mulher no poder. “Por mais que nós tenhamos bons nomes e que o trabalho realizado por elas seja digno de ser eleito, muitas vezes o eleitor prefere votar no homem que na mulher pelo simples fato de ela ser mulher”.
Segundo a análise da cientista política, Roraima é uma exceção, em que a governadora e a prefeita da Capital são mulheres. “Mas temos que lembrar que elas têm um histórico familiar que as fortalece, têm um apoio por trás”, lembrou. “A mulher acaba incorporando um papel de segunda pessoa. No governo do marido, ela assume uma Secretaria do Trabalho e do Bem-Estar Social, que é a pasta que faz todo o trabalho social”, exemplificou.
As mulheres, para Geyza, estão aptas a assumirem os cargos políticos, pois têm maior qualificação do que os homens, mas ainda são marginalizadas. “A ex-presidente Dilma [Rousseff] era uma mulher solteira e ela teve dificuldades no governo. Falavam que ela era uma pessoa difícil, e a política é a arte de saber negociar. Mas, ela recebeu muitas críticas por ser solteira. Nas redes sociais a chamavam por palavras que jamais falariam para um homem”, lembrou.
Como as campanhas são caras, é preciso ter um suporte financeiro, seja de um familiar ou de uma pessoa política que a financie. “Muitas vezes as mulheres não se sujeitam a isso. Se a gente for olhar com atenção, menos mulheres respondem a processos administrativos e jurídicos por exercer cargo de chefia ou político. Elas tendem a ser muito corretas. Se acontece de uma mulher ser processada, geralmente tem um homem por trás que a levou a cometer atos de improbidade”, comentou.
E como mudar isso? “É uma questão de mudança da cultura do eleitor em relação à mulher. É preciso mostrar que a mulher faz um bom trabalho, não que os homens não façam isso, mas a mulher faz algo pensando sempre no bem-estar da população. Mas ainda não tem receita para uma mudança”, explicou Geyza.
O importante, conforme a cientista política, é que a mulher se candidate. “Tem trabalhos sendo feitos por mulheres nos bairros que precisam ser fortalecidos. O papel dessas mulheres é político e isso traz um benefício muito grande. E isso as qualifica a serem candidatas, porque, por mais humildes que sejam elas têm a capacidade de ver o problema na base. É bom a gente começar a ver isso, começar a trabalhar com essas mulheres. É um começo”, avaliou.