Por Fabrício Araújo
Nessa segunda-feira, 25, uma portaria foi publicada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep) excluindo alunos do 2o ano do ensino fundamental da avaliação do nível de alfabetização das crianças brasileiras. As avaliações estão mantidas para os estudantes do fim dos ciclos do ensino fundamental, ou seja, 5º e 9º anos, e do ensino médio, no 3º ano.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinter) afirmou que esta avaliação é necessária para que se melhore o sistema de educação no Brasil, pois, no segundo ano, as crianças já receberam a educação oferecida pelo Estado e já fazem parte da rede escolar.
Já a pedagoga Leuda Evangelista de Oliveira disse que não defende que as crianças do ciclo de alfabetização sejam avaliadas, mas esta avaliação serve como um direcionamento de políticas públicas. É como se fosse um instrumento que visa sanar as dificuldades que se tem em cada nível de ensino.
“Excluir o processo de alfabetização dessa avaliação aponta para duas coisas em minha leitura: os dados que não serão produzidos e assim não temos como reorientar e sanar as possíveis falhas que existem e também é forma de ocultar dados”, declarou a pedagoga.
DESEMPENHO – Resultados anteriores têm mostrado que mais da metade dos alunos de oito anos, do 3o ano do ensino fundamental, não consegue localizar informações em textos de literatura infantil ou escrever corretamente palavras como “lousa” e “professor”.
Baseando-se nestes resultados, ainda na gestão de Michel Temer (MDB), em 2018, foi anunciado que a avaliação seria feita um ano mais cedo a partir de 2019, ou seja, para os alunos de sete anos que cursam o 2o do ensino fundamental. A prova deste ano seria aplicada em outubro.
Tanto o presidente do Sinter, quanto a pedagoga afirmaram que não há um único motivo para esses resultados. Flávio Bezerra citou as superlotações de turmas, falta de investimento em capacitação e a falta de material didático como fatores que contribuem para esta situação.
“É preciso ter a contratação de pessoal para que haja uma educação mais individualizada. É preciso investir também em cursos de capacitação dessa mão de obra porque muitas vezes só a universidade não é suficiente para o preparo do professor”, pontuou.
Já Leuda Evangelista da Silva afirmou que é preciso levar em conta os contextos socioculturais dos alunos, a forma como a metodologia é trabalhada na escola ou na sala de aula e como é aplicada nas provas.
“Não é só escolher um método e fazer uma prova de avaliação. Não temos na grande maioria das escolas uma definição de que perspectiva ou de que processo de alfabetização a gente está considerando ou qual é a proposta de alfabetização. As grandes redes [de educação] têm comprado um sistema apostilado, que querendo ou não têm um conceito de alfabetização”, comentou.
SOBRE A AVALIAÇÃO – As provas fazem parte do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que existe desde os anos 1990 no Brasil e aplica testes de Português e Matemática. São a partir dos resultados do Saeb que o MEC calcula o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que se tornou o grande indicador de qualidade do ensino no País.
MUNICÍPIO – Entramos em contato com a Prefeitura de Boa Vista para saber o posicionamento do município e obter dados sobre a alfabetização local, mas até o fechamento desta matéria, não obtivemos resposta. (F.A)