No dia 19 de abril, data em que se comemora o Dia do Índio, o Ministério Público Federal em Roraima (MPF-RR) fez a entrega de 100 amostras de sangue Yanomami que foram repatriadas dos Estados Unidos. A entrega do material genético foi feita pelo procurador da República Fábio Brito Sanches, titular do Ofício de Defesa dos Direitos Indígenas, ao líder Davi Kopenawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami.
Essa é a terceira remessa de material genético coletado indevidamente dos indígenas e levadas para os Estados Unidos. O procurador Fábio Sanches explicou que a repatriação das amostras de sangue trata-se de um trabalho que vem sendo feito há muitos anos e de uma luta do povo Yanomami.
“Nosso procedimento foi instaurado desde 2005 e várias tentativas foram realizadas até que, recentemente, o MPF conseguiu, com auxílio do Itamaraty, celebrar um acordo extrajudicial com as instituições americanas que garantiu a devolução desse material biológico”, disse. Duas remessas já haviam sido entregues, uma delas na Terra Indígena Yanomami e outra em Brasília, feita pelo procurador-geral da República Rodrigo Janot.
“Agora estamos entregando ao líder Davi Kopenawa a terceira remessa na sede da Procuradoria da República em Roraima. Mas ainda existe uma remessa para ser devolvida pela Universidade da Pensilvânia, também nos Estados Unidos, e estamos trabalhando para que o acordo com essa instituição seja finalizado e que essa última remessa possa ser entregue ainda este ano”, frisou.
Davi Kopenawa lembrou que o material foi coletado nos anos 60 e 70 sem o consentimento dos índios e do governo brasileiro. “Eu era pequeno, tinha 11 anos quando levaram o meu sangue e o do meu povo para os Estados Unidos sem o consentimento nosso e do governo do Brasil. Mas hoje estamos comemorando a volta desse sangue, que, para cultura Yanomami, é prioridade e pertence a nós. Vamos levar de volta para os parentes que estão esperando e vamos enterrar esse sangue onde nascemos”, disse.
Para Kopenawa, a repatriação do sangue para o Brasil é uma conquista para o povo Yanomami e destacou o trabalho das instituições que ajudaram. “Foi uma grande conquista para nosso povo nesse Dia do Índio, mas foi muito difícil. Muita gente ajudou, e o governo brasileiro conversou com os americanos que levaram nosso sangue sem permissão do nosso povo e da Funai [Fundação Nacional do Índio]. Foi uma falta de respeito”, disse.
O líder Yanomami informou que ainda não sabe quando nem onde será feito o ritual para enterrar o sangue. “Estamos aguardando a definição da Sesai [Secretaria Especial de Saúde Indígena] para dar avião para levar o sangue até a comunidade Piaú ou Toototobi, mas ainda vamos definir o local”, frisou.
Sangue dos índios foi coletado na década de 60 por norte-americanos
O material genético foi colhido, sem autorização, no fim da década de 60 e início dos anos 70 por cientistas norte-americanos. Os trabalhos para a repatriação do sangue começaram em 2002, quando as lideranças Yanomami brasileiras requisitaram ao MPF providências para localizar e recuperar essas amostras. Em 2005, o MPF em Roraima instaurou procedimento administrativo. Posteriormente, a SCI intermediou o acordo com os Estados Unidos sem que fosse necessário acionar a Justiça.
Essa foi a terceira remessa de amostras de sangue recebida pelo MPF e entregue ao povo Yanomami. A primeira ocorreu em abril de 2015, quando foi realizada uma cerimônia, na aldeia de Piaú, na região de Toototobi, na Terra Indígena Yanomami, para enterrar os 2.693 frascos de sangue colhidos sem autorização. A segunda devolução aconteceu em setembro do mesmo ano pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que devolveu 474 amostras. (R.R)