Fugidos da crise financeira e da fome, muitos imigrantes venezuelanos encontraram em Roraima a oportunidade de refazerem suas vidas. Esse crescimento, no entanto, acabou mudando drasticamente a rotina dos munícipios do Estado, principalmente na prestação de serviços essenciais para a população, como os que são ofertados nas unidades de ensino.
De acordo com dados do Censo Escolar realizado no Estado, de 2015 a 2016, Roraima registrou aumento de 30,34% de ingresso de alunos oriundos do país vizinho na rede Estadual de ensino. Atualmente, segundo o Departamento de Ensino Básico (DEB) da Secretaria Estadual de Educação e Desportos, eles somam 184 alunos.
“A gente tem atendido essas famílias não só pelo fato da obrigação, já que eles passam a fazer parte da rede, mas principalmente por uma questão humanitária. Realmente, não existe nenhum tipo de tipo de alteração de cifras na verba que é repassada para ajudar nas necessidades da Educação, que é feita pelo Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação], mas, apesar desse obstáculo, o Estado, por meio da Seed, tem dado esse aporte aos alunos”, disse a diretora do DEB, Lucimar Sales.
Conforme Lucimar, a maioria dos estudantes venezuelanos não possui condições de atender o que preconiza a legislação brasileira, que determina que o responsável entregue a documentação do aluno já traduzida para o Português. Parte desse problema está basicamente relacionada à falta de condições das famílias em poder pagar alguém para fazer esse serviço.
Apesar disso, a Secretaria de Educação recepciona o aluno na rede pública de ensino, por meio da matrícula extraordinária. No período de 60 dias, esse estudante recebe um acompanhamento da direção da unidade escolar, que passa a trabalhar em uma metodologia diferenciada, levando em consideração a idade da criança ou adolescente.
“Assim que esse estudante realiza a matrícula extraordinária, a unidade realiza todo um conjunto de mecanismo para que ele consiga se adaptar o mais rápido possível a nossa língua, que é um dos principais entraves. Vamos supor que, por exemplo, o aluno pretenda matricular-se no 6º Ano. No período de 60 dias, a escola realiza uma prova para um estudante de 5º Ano. Se ele obtiver uma nota satisfatória, a gente efetiva essa matrícula. Essa normativa já está inserida em várias unidades do Estado e isso faz com que a gestão escolar esteja atenta às necessidades deste aluno”, frisou Lucimar.
Atualmente o Estado possui 60 escolas que vão do 6º ao 9º Ano do Ensino Fundamental e de 1º ao 3º Ano do Ensino Médio, o que compreende a faixa etária de 8 aos 17 anos de idade. (M.L)
Alunos roraimenses são receptivos e ajudam na adaptação de venezuelanos
Não diferente da realidade enfrentada pelo Estado, a capital também precisou adaptar-se a uma nova realidade. Segundo dados da Prefeitura de Boa Vista, dos 460 alunos estrangeiros matriculados na rede municipal de ensino, que é responsável por atender da pré-infância ao 5º Ano do Ensino Fundamental, 404 são vindos da Venezuela.
“De dois anos para cá vínhamos nos preparando para esse aumento na demanda, tanto que investimos na qualificação dos nossos professores e nos mecanismos para acolher da melhor forma possível não só os venezuelanos, mas também alunos de outras nacionalidades. Só para você ter uma ideia, temos matriculados até alunos de Portugal e do Japão na rede municipal e o trabalho que é feito com eles é excepcional”, destacou o superintendente de Planejamento Educacional da Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC), Francisco Chagas Carneiro.
Além da metodologia diferenciada, Carneiro contou que a pasta tem investido na busca de parcerias para auxiliar a matrícula das crianças venezuelanas na rede de ensino da capital. “O trâmite de documentação, por exemplo, é uma dessas parcerias. Aqui em Roraima, a Polícia Federal é o órgão que geralmente fica encarregado dessa situação. Então, quando isso ocorre, nós buscamos junto a eles a melhor maneira de dar celeridade na liberação da documentação, para assegurar a assistência a esse aluno, deixando-o integrado ao convívio escolar com as crianças daqui”, frisou.
O superintendente destacou ainda o caráter acolhedor do roraimense aos imigrantes. Segundo ele, moradores da capital têm sido cada vez mais solidários a situação dos venezuelanos residentes na cidade. “O que mais me chama a atenção é que o próprio munícipe é solidário ao povo venezuelano, da criança ao adulto. Isso faz com que a adaptação seja ainda mais tranquila, já que é sempre um choque quando alguém sai do seu local de origem para um lugar totalmente desconhecido”, concluiu Carneiro. (M.L)