Cotidiano

Número de crimes envolvendo menores de idade cresceu em RR

Dados parciais do relatório de ocorrências, com vítima menor, aponta aumento nos casos de roubos e furtos envolvendo crianças e adolescentes

O número de ocorrências graves como roubo e homicídios envolvendo menores de idades cresceu em Roraima. É o que aponta os dados parciais de 2014 do relatório de ocorrência com vítima menor, do Setor de Estatística e Análise Criminal (SEAC), órgão ligado à Secretaria Estadual de Segurança Pública de Roraima (Sesp).
Conforme análise feita pela Folha, os crimes de homicídios, roubos, furtos e tentativas de estupro envolvendo adolescentes foram os itens que registraram aumento em relação ao ano de 2013. Vale ressaltar que os dados correspondem ao período de janeiro a setembro de 2014, ou seja, podem sofrer modificação, já que o setor responsável pela organização dos dados ainda está finalizando o documento.
No ano de 2013, foram registrados pela Seac três casos de homicídios com pessoa menor. Em 2014, esse número subiu para seis. Os roubos envolvendo menor de idade também apresentou elevação. Em 2013, foram computados 122 casos. Em 2014, o número pulou para 134. Nesse mesmo período, os furtos registraram um crescimento de dois novos casos, subindo de 93 para 95. E as tentativas de estupro subiram de 17 para 20 casos.
Apesar de preocupante, itens mais graves, como crimes de lesão corporal, estupro, favorecimento à prostituição e abandono de incapaz, apresentam até agora tímida queda. Em 2013, o quantitativo de vítimas de lesão corporal ficou em 283, contra os 267 casos até então registrados em 2014. Crime de estupro registou até o momento 166, contra 192 do ano anterior. O favorecimento à prostituição até o momento tem um caso registrado. Em 2013, foram dois. O abandono de incapaz representa até o momento 22 casos, contra 36 em 2013. 
Violência acaba refletindo no número de atendimentos no Conselho Tutelar
Nos conselhos tutelares espalhados pelos municípios do Estado, o ritmo de trabalho no ano passado foi considerado intenso, surpreendendo até quem já está acostumado com a situação. “É uma situação que preocupa bastante as pessoas, principalmente a nós. Eu sou conselheiro desde 2011, então posso assegurar que 2014 foi um ano marcado pela elevação de todos os tipos de violência”, comentou o conselheiro tutelar da unidade central de Boa Vista, Franco da Rocha.
Segundo ele, a unidade central, conhecida também como unidade 01, realiza em média 65 atendimentos mensais a menores vítima de todos os tipos de violência. “Quando a denúncia é feita, o Conselho Tutelar age imediatamente para aplicar medidas protetivas para aquela vítima. A ação é primeiramente no intuito de resguardar essa criança e, em seguida, fazer com que os agressores possam responder judicialmente por essa ação, além de evitar que outras crianças venham a ser vítimas de tais violências”, explicou.
Ainda segundo Rocha, uma das questões mais pontuadas no ano anterior foi o alto índice de menores envolvidos com a criminalidade. Segundo ele, algo preocupante para uma capital ainda em desenvolvimento. “Nós tivemos também muitos casos envolvendo galeras, que são aqueles jovens, de diversos bairros, que se reúnem por aí, formando quadrilhas, que agem livremente para cometer crimes. Todo mundo sabe que pelo ECA [Estatuto da Criança e Adolescente], menor de 18 anos não responde criminalmente. Quando é fichado por algum delito mais grave, como assassinato, pega uma detenção de no máximo três anos. As autoridades poderiam rever essa questão, porque isso ocorre no país inteiro. E, o que é pior, muitos deles são usados por traficantes, o que expõe ainda mais a precariedade das nossas leis”, disse
Para ele, a falta de políticas sociais e aplicação de leis mais rígidas é outro ponto que impede a diminuição de delitos cometidos pelos jovens. “O adolescentes de hoje não são mais como o de antigamente. Hoje eles possuem uma mentalidade muito mais avançada, no sentido de dispor de informação, de ter noção de suas responsabilidades. Então, eles têm plena convicção dos seus atos e do que qualquer atitude errada pode gerar para eles e para as pessoas que são próximas. Infelizmente, a classe política, que é a que pode reverter essa situação, parece viver em estado de demência permanente. Elas ainda não perceberam a tamanha gravidade da situação. Em contrapartida, já que as autoridades não se movem, a população vira alvo da criminalidade cometida por esses adolescentes, pagando às vezes até com a própria vida. E quem deveria proteger esse cidadão, criando leis mais eficazes, e porque não dizer mais severas, não fazem nada”, pontuou.   
“Existe um alto índice de violências contra criança e adolescente, mas é bom deixar bem claro que violência física só gera ainda mais revolta. Lógico que o Conselho Tutelar dá todo o respaldo para os pais educarem seus filhos. O Conselho não está aqui para tirar a autoridades deles, mas é preciso ter cuidado. É importante, sim, aplicar medidas disciplinares, como um castigo, que tenham realmente uma conversa mais firme, mas no sentido de não empregar a violência física. A criança tem que ter regras como a obrigação de estudar, horário para dormir e acordar, até horas para poder ficar fora de casa, porque é muito comum a gente ver crianças altas horas da tarde com o responsável em bares, e isso não é aceitável. Crianças têm que ter rotina de criança, e não o contrário”, complementou.