Diferente de outros estados do país, onde o número de divórcios aumentou durante a pandemia do novo coronavírus, Roraima vem mantendo número estável. Com base nos cartórios 1º e 2º Ofício de Roraima, de janeiro a dezembro deste ano, foram 128 casos, enquanto que em 2020 foram 101.
Segundo dados do Colégio Notarial do Brasil — Conselho Federal (CNB/CF), foi constatada alta do número de divórcios em 22 estados e no Distrito Federal. A entidade também divulgou balanço que aponta que quase 20% das separações no Brasil são feitas por meio dos cartórios de notas.
A tendência de alta também foi confirmada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a entidade, o número de divórcios no país cresceu 75% em cinco anos e, no meio do ano passado, o total de divórcios saltou para 7,4 mil apenas em julho, um aumento de 260% em cima da média de meses anteriores.
O sociólogo Linoberg Almeida, considera que o crescente número de separação de casais possa ser apontado como reflexo do maior período de convivência em ambiente doméstico por conta do isolamento imposto pela Covid-19.
“Por mais maluco que possa parecer, a convivência, ou o excesso dela na pandemia, expõe as fissuras de um relacionamento. O divórcio vira escape ou solução para supostamente resolver conflitos domésticos e sociais. Engana-se quem remedia estresse nas relações, depressão, ansiedade, hostilidade, medo, raiva, abuso de álcool ou drogas, e até pouco comprometimento com tarefas do casal ou familiares com o fim de um relacionamento”, destacou.
Para o especialista, na sociedade, o que já foi “até que a morte os separe”, hoje é visto como “bom enquanto dure”.
“Se a relação não é mais compensatória ao acordo, resinificam-se valores tradicionais, avalia-se a relação conjugal e bola pra frente. Instituição menos sacralizada que outrora, com menor regulação religiosa ou coletiva, é possível ver no aumento dos divórcios, nos nossos dias, como consequência da individualização, o cada um por si, em detrimento a esquemas gregários, como os diversos formatos de família”, apontou.
Outro fato apontado para o aumento dos divórcios é a facilidade em desoficializar a relação. Os cartórios já faziam o procedimento de forma rápida, porém, com a pandemia, o setor começou a atender de forma remota o que permite que qualquer pessoa solicite o serviço sem sair de casa.
O que fazer para que o divórcio seja evitado?
A psicóloga Mariana Pessoa também acredita que o aumento da convivência significa o aumento de conflitos.
“O que ocorre é que os casais passaram a conviver mais e essa convivência tendo muitas vezes que conciliar os cuidados com os filhos, as aulas on-line que as crianças precisavam assistir de casa, trabalhos e etc. Então isso querendo ou não provocou vários fatores estressantes entre os casais que antes tinha uma rotina totalmente diferente”, avaliou.
A especialista relatou que muitos casais preferem não conversar sobre os problemas, por acreditar na ideia de que conversar sobre os problemas significa aumentar os conflitos. Ela defende que conversar sobre os problemas significa colocá-los para resolver.
“Mesmo que isso proporcione um desconforto inicial, conversar sobre o que incomoda torna a relação mais leal. Uma vez que eu coloco o que eu penso, o que eu sinto para o outro isso é importante. Pois quando existe um casamento entre duas pessoas existe também a união de duas mentes, a união de dois cérebros que pensam completamente diferente. Então é necessário que haja um entendimento e ao mesmo tempo uma flexibilização”, destacou.
Ela acrescenta, que uma coisa muito necessária que os casais precisam continuar fazendo é manter a paquera aflorada dentro do relacionamento.
“É preciso dá uma fugidinha, fazer um programa diferente, quebrar a rotina, desrespeitar o momento de lazer, os trabalhos dentro de casa. Muitas pessoas passaram a trabalhar muito mais do que trabalhavam antes. Então respeitar o momento de lazer, saber a hora de começar a trabalhar e a hora de parar, bem como respeitar as refeições em família, além de outros detalhes que podem fazer a diferença, contribui sim para um relacionamento saudável e que muitas vezes acaba evitando esse desfeche com o divórcio”, concluiu.