Cotidiano

Pacientes denunciam falta de medicamentos e de estrutura

De acordo com mães e acompanhantes, unidade de saúde apresenta sujeira, bem como falta de medicamentos e profissionais da área

Durante o final de semana, pacientes e acompanhantes denunciaram à Folha a qualidade do atendimento do Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMINSN), localizado no bairro São Pedro. As principais reclamações da maternidade estadual são em razão da falta de higiene nos quartos, medicamentos e de profissionais da saúde aptos para atendimento.

“Não é novidade que a nossa maternidade do Estado está um caos, a cada dia definha mais. Não tem material de acesso, não tem praticamente nada de medicamento, nem ácido fólico. Nem o buscopan, que é um remédio básico do básico, tem. Os pacientes que comprem se tiverem condições”, informou uma paciente, que preferiu se manter no anonimato.

“As coitadas das técnicas vão às salas aferir a pressão, temperatura e sempre dizem ‘olha, era para você tomar remédio tal, mas não tem’. ‘Era horário de remédio tal, mas não temos na farmácia’”, revelou a fonte.

Outro ponto levantado na denúncia é a questão da limpeza da unidade de saúde. “As paredes tão cheias de fungos, os banheiros entupidos, as janelas caindo por cima do povo, central de ar suja”, disse outra paciente.

“Tem saído muito mosquito, carapanã, dos ralos do banheiro. O piso quebrado do banheiro ajuda na proliferação de microrganismos patogênicos, que fazem mal a nossa saúde. Nunca sabemos qual a doença da paciente ao lado”, comentou uma das denunciantes.

FALTA DE MÉDICOS – A denunciante também criticou a falta de médicos para atendimento das pacientes internadas. “Demorei duas horas e meia para ser atendida ontem. Tinha só um médico para atender todas que já estavam aqui e as que iam chegando. O médico que me atendeu ontem estava visivelmente cansado”, explicou. “Dizem que médico recebe bem, mas eles estudaram muito tempo para isso e tenho certeza que a grande maioria trabalha o suficiente por cada centavo que recebe”, acrescentou.

A paciente disse ainda que demorou a ser atendida, não tomou nenhum remédio e o exame de ultrassom, marcado para ser realizado à tarde, só foi feito à noite quando descobriu que havia perdido a gestação, após um forte sangramento.

“Não podemos jamais dizer qual foi a causa exata para essa perda. Talvez não fosse dessa vez. Mas quem sabe se as coisas poderiam ter sido diferentes? Se logo depois de eu chegar aqui, tipo meia hora e não duas horas e meia depois, se eu tivesse sido atendida, tomado algum medicamento, quem sabe poderia ainda estar grávida”, lamentou.

PARALISAÇÃO – Além das questões da falta de profissionais e medicamentos, pacientes e acompanhantes do Hospital Materno Infantil também informaram que houve uma paralisação dos servidores de apoio. Segundo os trabalhadores, a greve seria um reflexo de quatro meses de atraso no pagamento do salário.

Por conta da paralisação, pacientes e acompanhantes alegaram que tiveram que esperar em grandes filas no refeitório para receber a alimentação e realizaram a limpeza dos próprios quartos e leitos.

OUTRO LADO – Em resposta à Folha, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou que o HMINSN praticamente dobrou de capacidade sem que, neste período, fossem criados leitos suficientes para ampliar a capacidade de atendimento da unidade, que, segundo o Governo do Estado, deve fechar o ano com mais de 10 mil partos realizados e que o hospital é o único para receber toda a demanda de partos e urgências ginecológicas e obstétricas de pessoas da capital, interior e países vizinhos, além de um aumento expressivo na demanda recorrente nos meses de setembro, outubro e novembro de cada ano.

“Diante deste quadro, a direção da unidade tem se desdobrado para conseguir atender a todas as pacientes da melhor maneira possível, enquanto são adotadas as medidas para reduzir a superlotação na unidade”, disse a Sesau.

Quanto às queixas da paciente em questão, a Sesau lamentou o ocorrido e informou que o exame de ultrassonografia não seria capaz de evitar um aborto espontâneo e que o procedimento apenas analisa a vitalidade do feto.

Já sobre a falta dos medicamentos citados, a Sesau esclareceu que o ácido fólico é uma vitamina fornecida nos postos de saúde e não possui uso hospitalar, logo, não é fornecida pela maternidade. Já a escopolamina (Buscopan) está em falta na forma injetável, mas está sendo substituída por comprimidos, não causando prejuízos aos pacientes.

Quanto aos materiais hospitalares, a unidade está abastecida e recebeu, inclusive, um reforço no estoque em função do feriado prolongado. Já quanto à paralisação dos serviços gerais, a administração não comentou o caso. “A Sesau reforça que a direção da unidade está à disposição para prestar esclarecimentos aos pacientes e acompanhantes sobre qualquer aspecto do atendimento. Se for detectada a falta de algum item, a unidade adotará as providências necessárias”, finalizou. (P.C)