Os problemas pessoais afetam diretamente a saúde mental e física. Em razão disso, uma grande quantidade de pacientes está na fila das unidades de Saúde do Estado, diariamente, buscando atendimento psiquiátrico ou acompanhamento de psicólogos. Alguns deles relataram para a Folha o drama para conseguirem medicamentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Temendo qualquer represália, os pacientes pediram que suas identidades fossem preservadas.
Uma mulher contou para a reportagem que depois de acompanhar sua mãe em uma consulta com um psiquiatra, foi receitado um medicamento que precisou ser comprado porque não tinha na farmácia do hospital. “Ela teve um surto e estava emocionalmente destruída. Chorava compulsivamente e a gente não sabia mais o que fazer. Minha mãe estava doente de depressão e naquele momento eu levei muito a sério. Depois de fazer a consulta, a gente foi procurar o remédio na rede pública de saúde e não tinha em nenhum lugar. Tivemos que comprar ‘Donarem’ por conta própria”, compartilhou.
A filha disse que depois de alguns meses também passou por problemas pessoais que lhe tiraram o sono, chegando a passar cinco dias acordada, motivo pelo qual precisou de um profissional. “Primeiro fui à psicóloga e, em seguida, fui atrás de um psquiatra que receitou um remédio para mim, mas não encontrei no hospital. Tive que comprar ‘Rivotril’ na farmácia perto da minha casa. São medicamentos caros que o governo não dispõe para a população. Quem já está mental e emocionalmente abalado, ainda tem que tirar dinheiro do bolso para comprar remédio porque os hospitais não se importam com quem sofre de qualquer problema mental, de transtornos. Eles tratam apenas doenças ‘palpáveis’. Nem sei o que o SUS pensa sobre quem está nessa situação”, criticou.
Uma terceira paciente do SUS justificou que faz tratamento psiquiátrico e psicológico desde novembro de 2013 e que inicialmente tomava Nortriptilina e por algum tempo encontou o remédio de forma alternada na farmácia do hospital. Alguns meses, estava disponível no serviço público e depois passavam-se dois ou três meses sem ser ofertado aos usuários do sistema.
“Depois de um determinado tempo, essa medicação foi trocada pelo Velija e a situação ficou ainda pior, porque logo no primeiro ano do governo de Suely Campos [PP] começou a faltar e, quando chegava, o médico me passava receita que dava três meses e quando eu sabia que tinha chegado, corria lá e pegava, mas se eu não pegasse em um ou dois dias após a chegada do medicamento, acabava, porque todos os pacientes faziam a mesma coisa. Essa medicação se esgotava em no máximo 48 horas na farmácia do Coronel Mota”, expôs.
Por fim, a paciente reclamou que nos últimos dois anos os medicamentos não são fornecidos pelo SUS. “Eu compro essa medicação que é cara e eu tomo três comprimidos do Velija por dia. Uma caixa desse remédio custa cerca de R$ 100 com 50 comprimidos que não dá para passar o mês porque eu preciso de 90. Eu tenho que comprar duas caixas. Eu gasto, em média, só com o Velija, R$ 200 por mês. Ainda tenho que tomar outra medicação para síndrome de ansiedade e depressão que também não é fornecido pelo SUS e custa quase R$ 200”, detalhou.
Ela denunciou que fazer uma consulta com o psiquiatra ou ter acompanhamento com psicólogo é uma verdadeira “novela”. “Quando se conseguem as consultas, vai só remarcando os retornos, mas o problema é que os médicos furam muito a agenda. Quando remarca é para 15, 20 dias ou um mês. Tem gente pirando no Estado, louco de correr na rua, porque não tem o tratamento adequado, porque eles não estão preocupados. Nem médico, nem atendente, nem governo. Eles fazem tudo de má vontade. O atendimento do Coronel Mota é reprovável. Eu ainda faço alguns atendimentos pelo plano de saúde que pago. Se eu fosse fazer tudo pelo SUS, já estava no manicômio. Eu posso pagar um tratamento, e quem não pode? De cada cem pessoas com esse tipo de problema, apenas uma ou duas tem condições de bancar um tratamento desses. É difícil, porque tirar 30% do meu orçamento para custear saúde com medicação, fora consulta e exames regulares, é muito difícil”, salientou.
O OUTRO LADO – Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou que possui o medicamento Clonazepam (Rivotril) em estoque que está sendo distribuído à Clínica Especializada Coronel Mota (CECM) e demais unidades. O Duloxetina (Velija) está em processo de aquisição e o Nortriptilina aguarda abertura de orçamento para assinatura do contrato e posterior entrega.
“Vale ressaltar que o medicamento Donarem não faz parte da lista de medicamentos cuja aquisição é de responsabilidade do Estado”, informou a Sesau. (J.B)