Na noite de ontem, 30, às 23h40, o recém-nascido Davi Gomes de Sousa, de apenas um mês de vida, faleceu no Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA). No sábado, 25, o pai da criança, Jean Gomes de Sousa, recorreu à Folha para denunciar o estado complexo de saúde do seu filho, que precisava urgentemente de medicamentos necessários para auxiliar no combate a uma doença no coração e pneumonia, além do tratamento fora de domicílio.
O pai alegou que a doença da criança, truncus arteriosus tipo II, uma má formação que impede a circulação apropriada de oxigênio e sangue para o coração do bebê, poderia ter sido facilmente detectada em exames de pré-natal, mas que durante o acompanhamento da gravidez, sua esposa tentou por mais de duas vezes realizar o exame no Centro de Referência da Saúde da Mulher (CRSM) e foi informada que o aparelho estava com defeito.
Jean inclusive salientou que, após a realização de outros exames, a família se tranquilizou e prosseguiu com os preparativos para o nascimento de Davi.
“A gente por não entender e por não ter condições financeiras pra procurar outros meios, simplesmente, a opinião médica de que o bebê tava bem, pra nós foi o necessário”, comentou Jean.
A criança nasceu com dificuldades respiratórias e precisou ser incubada por um dia, até ser liberada para casa com a mãe. Segundo o pai, em casa, o bebê apresentava muito cansaço, o que eles achavam ser natural de um recém-nascido, mas decidiram retornar após uma semana ao hospital.
Várias tentativas de diagnóstico para Davi foram falhas, onde diferentes médicos analisaram o bebê e recomendaram em um dos casos, um remédio para dor e a suspensão do leite materno. Outro médico solicitou exames de fezes e urina, mas antes mesmo da família entregar o material para avaliação, o estado de saúde de Davi piorou e ele precisou ser internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Hospital da Criança.
Na unidade de saúde foi detectado que a criança apresentava um grau leve de pneumonia e um problema grave no coração. O pai salienta ainda que dois remédios que seriam de extrema importância para a qualidade de vida de Davi estavam em falta no Estado.
TFD
O pai afirma que a família recorreu à Prefeitura através do pedido de TFD, para buscar um tratamento que pudesse salvar a vida do seu filho e foi informado que o tempo de espera para atendimento era de no mínimo três meses.
Aliado ao TFD, os familiares buscaram maneiras alternativas, tentando contato com clínicas particulares e doações para arrecadação de dinheiro.
PREFEITURA
Com relação ao TFD, a Prefeitura informou que encaminhou a solicitação de TFD da criança à Central Nacional de Regulação de Alta Complexidade – CNRAC, em Brasília, que é responsável pelo encaminhamento do paciente ao Hospital de destino, de acordo com a disponibilidade de vaga.
“Acionamos a UTI aérea e estávamos aguardando a liberação de vagas em hospitais especializados no Paraná, Rio de Janeiro, Brasília ou Recife.” Segundo a PMBV, nenhum dos hospitais especializados disponibilizou vaga para o tratamento fora do estado.
Com relação aos medicamentos, a Prefeitura informou que a medicação “não faz parte das medicações padronizadas pelo município e não há estoque disponível no estado para aquisição. Ainda assim, a Prefeitura de Boa Vista estava providenciando outra medicação compatível com o caso”.
GOVERNO DO ESTADO
Em nota, o Governo do Estado contestou a informação repassada pelo pai da criança e informou que a mãe de Davi foi diagnosticada com diabetes, apresentava sobre peso e fazia uso de insulina para baixar o nível de glicemia.
Segundo o Governo, a mãe de Davi foi avaliada por uma equipe multidisciplinar e que prontuário da paciente registrou faltas em algumas consultas do pré-natal com o obstetra, e não identificou nenhum relato extraordinário em relação à saúde do feto.
Além disso, conforme o Governo, a paciente não teria realizado o exame cardiotocografia, disponível pelo SUS e de ultrassom morfológica, conforme prontuário médico.
A direção esclareceu que a ultrassom é feita no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth, uma vez que os dois aparelhos de ultrassom utilizados no CRSM estão em pleno funcionamento, mas não têm resolução compatível com a necessidade da USG morfológica.
O Governo ressaltou ainda que caso a criança apresentasse qualquer sintoma de alterações no estado de saúde, a alta médica não seria autorizada após a realização de todos os exames necessários.
Matéria completa na edição impressa da Folha de amanhã, 01.