A índia Macuxi Lídia Raposo, de 54 anos, produz panela de barro e assim mantém a tradição de seu povo. Há 18 anos como artesã, ela disse que aprendeu com a avó a arte de modelar o barro quando ainda era criança na comunidade indígena de Raposa, no município de Normandia, a 190 km da Capital pela BR-401, região Leste de Roraima.
O que era uma tradição cultural virou empreendedorismo e ultrapassou barreiras. Hoje as panelas indígenas ganharam o mundo. Turistas levaram as peças para França, Suíça e outros países da Europa. Os produtos de dona Lídia também já chegaram aos Estados Unidos da América (EUA). A matriarca macuxi até hoje produz suas peças e vende sob encomenda.
“Eu mesma vou retirar o barro, que tem de ser especial para a produção dessas peças. Percorro 80 quilômetros aqui, da Capital, para pegar a matéria-prima antes da ponte do Rio Uraricoera. Retiro também na comunidade do Napoleão, em Normandia, e à beira do rio Anauá, em São Luiz do Anauá [município ao Sul do Estado]”, disse.
A artesã hoje sustenta toda a família de cinco filhos e ajuda na criação dos 14 netos com a venda de panela de barro. Apenas uma filha ajuda no processo de fabricação. O trabalho é feito por encomenda e tem cliente que pede até 20 peças de uma só vez. O preço das panelas varia de acordo com o tamanho, de R$ 20,00 a R$ 130,00. “Aprendi o ofício vendo minha avó fazer. Eu ainda era criança”, relembrou.
Além das panelas, a Macuxi faz cuscuzeira, travessas, moquequeira e fogareiros. A produção melhorou após a indígena ser demitida em 2003 do hoje extinto Departamento Estadual de Rodagem (DER). “Foi quando comecei a produzir mesmo as panelas. Vendi para francês, suíço e até norte-americano. Comprei minha casa aqui, no bairro Cauamé, só com dinheiro de panela de barro. Mas no começo foi difícil”.
A dificuldade maior enfrentada por dona Lídia foi o preconceito. Ela lembra que, neste período, a sociedade roraimense estava dividida. “Era tempo de demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Então, a sociedade local nos via com preconceito. Cheguei a ser discriminada na Praça das Águas. Falavam: ‘ela é índia, ela é índia’”.
Mas ela continuou fazendo suas panelas. Anos mais tarde, participou de feiras artesanais nacionais e até internacionais. Deu a volta por cima e hoje já tem uma clientela formada até por turistas. “Mas o principal deste trabalho é manter a cultura Macuxi”, frisou. (AJ)