Cotidiano

Parada de ônibus estão inseguras dizem usuários 

A insegurança no Estado chega aos usuários dos transportes coletivos, que frequentemente tem sido alvos de assaltos e se sentem impotentes diante da audácia dos bandidos. Na maioria dos casos relatados, os assaltantes aparecem de repente, em duplas, em motos, bicicletas ou a pé e surpreendem as vítimas que estão à espera do ônibus, muitas vezes dispersos e com celular na mão. Aparelhos celulares são os alvos principais, além de bolsas.   

As vítimas são, em sua maioria, estudantes e trabalhadores, que se dizem desprotegidos. “Não vimos mais a polícia nas ruas. É difícil passar um carro da polícia quando estou numa parada de ônibus e isso facilita a ação do bandido. Pedimos proteção da polícia”, afirmou o estudante Edson Nascimento, ao ser indagado pela reportagem numa parada de ônibus na Avenida Capitão Julio Bezerra.

Já o estudante Eduardo Felipe estava aguardando o ônibus na Avenida Centenário, no bairro do mesmo nome, e conta que já foi assaltado naquele local. 

“Nem deu tempo para perceber o que estava acontecendo. Eles subiram a calçada com a moto, pararam na frente e o que estava na garupa, de arma em punho, disse ‘passa celular’. Não reagi, só peguei e entreguei. É uma sensação de impotência, não temos a quem recorrer”, disse.

A Folha divulgou vários casos de roubos, este ano, em paradas de ônibus, em Boa Vista. Como uma que fica no começo da Rua Francisco Expedito da Silva, no bairro Sílvio Leite, que há relatos de dois ataques em uma semana. 

O estudante Thiago Torres foi outra vítima de roubo numa parada de ônibus na Rua Acara-açu, bairro Santa Tereza, quando os dois bandidos chegaram numa Bros vermelha, um deles com uma pistola, e levaram o celular.

Outra dupla de ladrões em uma motocicleta levou a bolsa e o celular da manicure Erenilde Oliveira Barros, que tinha acabado de descer do ônibus numa parada do bairro Bela Vista. 

A Folha buscou informações junto a Polícia Militar, por meio da Secretaria de Comunicação do Estado, sobre essa nova onda de assaltos, e o que a PM estaria fazendo para inibir as ações criminosas nas paradas de ônibus. 

Em resposta, a PMRR (Polícia Militar de Roraima) afirmou que desde o dia 24 de junho não há registros de furtos ou quaisquer crimes em paradas de ônibus da Capital. Informa ainda que viaturas da PMRR fazem policiamento nas ruas da Capital de forma ostensiva, 24 horas por dia.

“É importante ressaltar que a dinâmica desse policiamento promovido pela PMRR tem como parâmetro os índices de ocorrências registradas através do 190 e a disponibilidade de viaturas policiais nos setores de atuação. A população que é vítima de alguma ocorrência policial deve acionar o 190 para que as medidas legais sejam adotadas. Vale ressaltar que a Guarda Municipal de Boa Vista também tem o compromisso pela segurança pública, notadamente os espaços municipais”. (R.R)

Para especialista é preciso se atentar para medidas de segurança 

A onda de assaltos em paradas de ônibus é vista pela especialista em segurança pública e socióloga Carla Domingues como falta de políticas públicas de Estado para combater a violência que se instalou em Roraima. 

Domingues cita dicas de segurança para os usuários de paradas de ônibus: “Antes de sair de casa fale para algum familiar ou amigo seu itinerário; Procure as paradas de ônibus mais movimentadas e bem iluminadas; Antes de entrar no ônibus, separe o dinheiro para pagar a passagem ao cobrador e não abra a carteira; Evite mexer no celular em público; Quando você estiver na parada de ônibus fique atento a aproximação de motoqueiros; Procure uma cadeira mais afastada do cobrador. Tendo em vista que em caso de assalto, ele é o alvo principal; Não reaja ao assalto, evite movimentos bruscos; Evite ficar disperso, assaltantes preferem vítimas distraídas”. (R.R)

Usuários reclamam de imigrantes em paradas e prefeitura diz que orienta e faz retirada 


Alguns imigrantes até atam redes dentro das paradas de ônibus, o que incomoda os usuários (Foto: Diane Sampaio/FolhaBV)

Outro ponto destacado pelos usuários de paradas de ônibus em Boa Vista é que os locais estão sendo ocupados por imigrantes venezuelanos, que usam as paradas como abrigos para dormir e até como refeitórios. Há casos em que atam redes e fazem acomodações para famílias inteiras. 

“Sabemos que a situação é difícil para eles, mas isso incomoda quando chego para esperar o ônibus e eles estão dormindo aqui. Já me deparei com essa situação e não acho que isso está certo. A Prefeitura deveria tomar providências”, disse o servidor público Jurandir Pessoa, enquanto aguardava o ônibus na Avenida Capitão Julio Bezerra. 

A Folha ouviu a socióloga e especialista em segurança pública Carla Domingues, que falou de falência na prestação do serviço público.

“Infelizmente estamos caminhando para o caos social e acredito que não haja um planejamento estratégico para lidar com o problema que está se desenhando com crise migratória. Se houvesse um plano de ação a ser executado pelo município, em conjunto com o estado e governo federal, veríamos equipes multidisciplinares atuando nas paradas de ônibus, cadastrando e encaminhando essas pessoas para abrigos”, afirmou. 

A reportagem falou com a Prefeitura de Boa Vista sobre esta situação e em resposta a Secretaria Municipal de Comunicação informou que a Guarda Civil Municipal faz fiscalização e rondas em todos os abrigos de ônibus e, quando identificado alguém utilizando o espaço de forma indevida, é feita a orientação necessária e a retirada da pessoa. Em 2018, a GCM registrou 62 ocorrências envolvendo imigrantes dormindo ou utilizando os abrigos de forma indevida. Os números deste ano não foram informados. 

A Guarda Municipal informa ainda que a população pode ajudar nesse trabalho e, caso presencie essa situação, pode acionar a Guarda Municipal, no telefone 153, ou ainda na Central de Atendimento 156, que a Guarda irá até o local para fazer a retirada.

“Importante reforçar que é do conhecimento de todos que Boa Vista vive uma situação atípica, nos últimos anos, por conta da crise humanitária na Venezuela. Pelo fato dos abrigos de imigrantes, de responsabilidade do Governo Federal e da Operação Acolhida, estarem lotados, muitos venezuelanos utilizam o local, o que exige da guarda uma abordagem diferenciada e mais humanizada”. (R.R)