Cotidiano

Parada LGBTQIA+ de Roraima será transmitido ao vivo

Somente em 2020, o país registrou 237 mortes violentas de LGBTs

Ensaio geral aconteceu na tarde deste sábado; num misto de festa e recado político, parada chega à 20ª edição com quatro horas apresentações artísticas, concurso e luta contra preconceito

Para celebrar a cultura e o respeito à diversidade, a TV Assembleia (canal 57.3) transmite a live da 20ª edição da Parada LGBTQIA+ de Roraima, neste domingo (5), das 15h às 19h, no palco Roraimeira do Teatro Municipal de Boa Vista. Com o tema “O vírus da intolerância também tira vidas, use o respeito e a máscara do amor”, o evento faz alusão às milhares de mortes causadas pela covid-19.

A parada também será transmitida pelo YouTube do Grupo DiverRRsidade (Associação Roraimense pela Diversidade Sexual), que busca chamar atenção para a LGBTQIA+fobia, pois o preconceito presente no cotidiano da comunidade mata. “A parada vai trazer essa reflexão da violência, da intolerância. E nós estamos lutando com as instituições parceiras, como a TV Assembleia, que abriu as portas para fazer essa transmissão”, explicou o coordenador do evento, Sebastião Diniz.

Para o presidente da Assembleia Legislativa de Roraima, deputado Soldado Sampaio (PCdoB), um dos papéis do Parlamento é justamente acolher e respaldar ações dos grupos minoritários. “Nossa gestão é plural e inclusiva. Temos apoiado diversos segmentos, e a exemplo das transmissões dos arraiais, futebol e missas, a TV Assembleia vai transmitir um evento que mostra a diversidade, busca o respeito e o fim da intolerância. O Parlamento também tem desenvolvido programas sociais que fomentam a cidadania”, disse o presidente.

 
Prêmio Direitos Humanos Dr. Marcos Braga

 
Presente em todas as Paradas LGBTQIA+ do país, o Prêmio Direitos Humanos reconhece instituições, empresas e personalidades que dão visibilidade e promovem ações e políticas públicas direcionadas ao movimento.

Na terceira edição, o prêmio agora carrega o nome do professor dr. Marcos Braga, que morreu de covid-19 em fevereiro. Ex-diretor do Grupo DiverRRsidade, importante ativista da causa LGBTQIA+ e ambiental, o educador deixou um legado de luta por justiça social e de respeito ao próximo, sobretudo em defesa dos povos indígenas da Amazônia.

Relação dos agraciados com a honraria:

·         Ana Cristina Carvalho de Oliveira (ABV-Associação de Bem com a Vida);

·         Ana Lucíola Franco (advogada);

·         Eugênia Glauci (médica);

·         Joenia Wapichana (deputada federal);

·         Joziel Loureiro (tabelião);

·         Lenir Rodrigues (deputada estadual);

·         Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RR);

·         Silvia Reis

  

Grupo de DiveRRsidade

Fundada em 2003, a Associação Roraimense pela Diversidade Sexual (DiverRRsidade RR) é uma entidade sem fins lucrativos que tem se destacado no fomento da cidadania, suporte jurídico e organização de eventos e de apoio às políticas públicas de saúde, como prevenção às DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis), junto à população LGBTQIA+, assim como no combate e conscientização da LGBTQIA+fobia com o público em geral.

Em 2017, a associação foi declarada de utilidade pública pelo Estado, por meio do Decreto Legislativo nº 056/17, proposto pela deputada Lenir Rodrigues (Cidadania), aprovado pela Assembleia Legislativa. Desde então, está apta a receber recursos financeiros do governo para o desenvolvimento de atividades e programas.

Tudo pronto para o espetáculo

Na tarde deste sábado, 4, aconteceu o ensaio geral da 20ª edição da Parada LGBTQIA+. Em meio à pandemia o Grupo DiveRRsidade teve que se readequar para continuar lembrando a sociedade que o respeito e valorização da diversidade, são formas de conquistar um ambiente melhor para todos.

O público, além de contar com toda a estrutura técnica da TV ALE para não perder nenhum detalhe, vai poder interagir por meio das redes sociais da Casa (@assembleiarr) e do DiverRRsidade (@paradaroraima), como salienta a diretora da emissora, Camila Dall’Agnol.

“Seguindo a política de valorização da cultura, das tradições, a Assembleia Legislativa vai apoiar a Parada LGBTQIA+ com a transmissão via TV ALE. Vai ter toda a estrutura de cinegrafistas que a TV Assembleia usou, por exemplo, no arraial ou para transmissão do futebol. Também teremos participação do público pelas redes sociais”, disse a diretora da TV.

Letras que representam!

O embaralhado de letrinhas LGBTQIA+ pode até confundir, mas é se informando e ouvindo quem faz parte e/ou estuda o tema que podemos jogar para escanteio o preconceito e a intolerância, geralmente, frutos da desinformação. Então, vamos aprender quem é quem na sigla que traz à tona uma série de discussões no campo da diversidade sexual e de gênero.

L: Lésbicas: Mulheres que sentem atração sexual e afetiva por outras mulheres.
G: Gays: Homens que sentem atração sexual e afetiva por outros homens.
B: Bissexuais: Pessoas que sentem atração sexual e afetiva por homens e mulheres.

T: Transexual: Pessoas que nascem com um gênero, mas se identificam psicologicamente com outro. Nestes casos, pode ou não haver mudança física para a adequação.
Q: Queer:  Maneira de designar pessoas que não se encaixam na heterocisnormatividade, que é a imposição da heterossexualidade (pessoas que sentem atração sexual e afetiva por outras do sexo ou gênero oposto) e da cisgeneridade (pessoas que se identificam, em todos os aspectos, com o gênero que nascem).

I: Intersexo: Pessoas que nascem com características sexuais biológicas (anatomia reprodutiva ou sexual) que não se encaixam nas categorias típicas do sexo feminino ou masculino.
A: Assexual: Pessoas que não possuem interesse sexual. Podem ou não ter relacionamentos românticos com outras pessoas.

+: O sinal serve para abranger as demais pessoas da bandeira e a pluralidade de orientações sexuais e variações de gênero.

O preconceito mata

 Somente em 2020, segundo levantamento da “Acontece Arte e Política LGBTI+” e Grupo Gay da Bahia (GGB), o país registrou 237 mortes violentas de LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). Além disso, ocupa o primeiro lugar nas Américas no ranking de homicídios de pessoas LGBTs e em assassinato de pessoas transexuais no mundo, de acordo com relatório da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais (ILGA).

Em junho de 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu em favor da criminalização da LGBTfobia e os crimes motivados por orientação sexual ou identidade de gênero foram tipificados na legislação que define o racismo.

Com isso, num misto de festa e recado político, com atrações como o concurso Miss e Mister LGBTQIA+, artistas e bandas locais revezam-se com vídeos e campanhas educativas, entrevistas com militantes, médicos e mães de LGBTs. O evento promete entreter, instruir e cobrar, inclusive sobre o entendimento do STF que, apesar do avanço legal, ainda precisa ser colocado em prática, como esclarece Sebastião Diniz.

“Teremos uma programação extensa, rica em cultura, direitos, políticas públicas. Teremos muitas mensagens sobre cidadania, direito, saúde, educação para que possamos cobrar das autoridades que de fato nos protejam a partir da lei da criminalização da LGBTfobia. Precisamos que a Justiça puna quem continua nos matando e discriminando a nossa população no Estado e no Brasil”, ressalta.

Entre os apresentadores, estão os influenciadores digitais Marcolino e Eros, o cantor Dynho, a jornalista Mari Turco e a Miss Trans 2019, Hayub Thomé. Ela, que também é a primeira digital influencer trans de Roraima, lembra que a festividade dá visibilidade à causa, mas a luta é permanente, especialmente num lugar violento para as minorias.

“Vamos comandar essa live maravilhosa cheia de atrações. É uma festa, mas para nós não é só um dia, é o momento de mostrar nossas lutas nos 365 dias do ano. Estamos num Estado pequeno, mas os percentuais de violência tanto para mulher como para nós são muito altos”, salienta.

A ativista convida o telespectador a assistir à live e disseminar o conteúdo, pois romper o ciclo de violência da LGBTQIA+fobia passa pelo combate aos discursos de ódio e às informações falsas. Para ela, a educação, aliada a fontes seguras de informação, é uma arma poderosa.

“Não vai ser possível ir pra a rua, mas a diversão vai ser a mesma em casa. O importante é você nos prestigiar e com isso adquirir informações, conhecimento e passar pra todas as pessoas ao redor, principalmente num Estado tão violento e preconceituoso como o nosso”, convocou.