Cotidiano

Paralisação continua e ganha apoio de populares

Manifestação contou com participação de taxistas, motoristas da Uber, alunos de escolas estaduais e população em geral

Centenas de pessoas participaram de uma manifestação na Praça do Centro Cívico na manhã de ontem, 28. O protesto de apoio à greve dos caminhoneiros contou com a presença de membros da categoria, taxistas, motoristas da Uber, alunos da rede estadual de ensino e da população em geral.
De acordo com a Polícia Militar de Roraima (PMRR), aproximadamente 500 pessoas participaram da manifestação. Os organizadores, no entanto, avaliam que o protesto contou com mais de duas mil pessoas.

Mesmo embaixo de chuva, os grupos se reuniram em torno de um carro de som elétrico tocando o hino nacional, onde representantes das categorias declaram palavras de apoio à greve, pedindo redução dos preços dos combustíveis e melhor atuação do Governo Federal. Houve buzinas, apitos e cartazes com “Fora, Temer” e “Apoio aos Caminhoneiros”. A maioria trajava camisetas da seleção brasileira ou roupas com as cores da bandeira do Brasil e estava com rostos pintados.

Os grupos seguiram em passeata pelo Centro Cívico até a Avenida Ville Roy, onde se concentraram em frente a um posto de gasolina. Pouco tempo depois, seguiram de volta até em frente à Assembleia Legislativa. Por volta das 11h, seguiram diretamente até a 1ª Brigada da Infantaria de Selva e depois até o posto de concentração dos caminhoneiros grevistas, na BR-174. À tarde se concentraram novamente no Centro da Capital, onde permaneceram até a noite. A previsão é que ocorra outro protesto nesta terça-feira, 29, no mesmo horário e local.

Eliel Lima, tesoureiro do Sindicato dos Taxistas e da Cooperativa dos Táxis Lotação, explicou que a paralisação foi convocada inicialmente pela categoria por conta das dificuldades enfrentadas neste período de crise, e que o movimento ganhou adeptos através das redes sociais.

“Decidimos aderir à greve em parceria com os caminhoneiros. Não temos condição de trabalhar. Tem muitos companheiros que pagam aluguel de carro e chega o final de semana não tem lucro, pois o dinheiro que está se fazendo é só para abastecer”, afirma Lima.

O tesoureiro disse que cerca de 70% da frota do lotação aderiu à paralisação, mas os motoristas fizeram questão de documentar a greve junto a Empresa de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Emhur). “Não fizemos nada na ilegalidade. Fizemos documento, entregamos para a Ehmur, ela nos pediu um prazo de 72 horas até ontem e com o fim do prazo estamos aqui. Nosso objetivo é chamar a atenção da população para brigar junto conosco. Enquanto não tomarem uma atitude, nós não vamos parar. Decidimos paralisar e não tem hora para terminar”, completou.

Deucimar Silva Leal, representante da classe caminhoneira, esteve presente no protesto, agradeceu o apoio da população e defendeu uma intervenção militar. “Nós não aguentamos mais esses preços abusivos feitos pelo governo [Michel] Temer. Nós queremos renúncia do Temer e queremos intervenção militar. Nós não aguentamos mais, chega de tanto roubo desses políticos”.

A favor e contra a intervenção militar

Também durante a manifestação algumas pessoas se mostravam a favor ou contra a intervenção militar. As irmãs Maria Helena Cabral, de 70 anos, e Eneida Melo Cabral, de 73 anos, também participaram da manifestação. Elas, que já ocuparam cargos nas Forças Armadas e têm militares na família, afirmam que também são favoráveis à intervenção militar.

“Nós queremos um país livre, democrático, com muita saúde, segurança. Já que hoje não se pode sair de casa. Eles falam da época dos militares, mas hoje está pior. Os militares mataram, a gente sabe, mas eram bandidos. Hoje os bandidos estão matando os inocentes. Isso não é justo”, afirmou Eneida.

Já Maria Helena disse estar no manifesto pela sua família e pelos seus netos, ainda pequenos e que não sabem o que está acontecendo. “Nós queremos deixar um país correto para eles, não com ‘bandidismo’, não com comunismo”, pontuou.

Por volta das 10h30, alguns dos manifestantes começaram a se pronunciar no microfone a favor da intervenção militar.Alunos que participavam do protesto se reuniram em volta do carro de som e, aos gritos de “fora ditadura” e “intervenção não”, chegaram a vaiar e se sentar na frente do veículo, impedindo que ele seguisse viagem. Alguns deles pediram direito de resposta e se manifestaram contrários ao pedido de administração militar. Pouco tempo depois, muitos deles começaram a abandonar a manifestação.

Alunos participam maciçamente de protesto

A manifestação era composta, em sua maioria, por estudantes das escolas Lobo D’Almada e do Instituto Federal de Roraima (IFRR). A equipe de reportagem também reconheceu alunos das escolas estaduais Gonçalves Dias, Ayrton Senna, Maria das Dores, Vitória Mota Cruz, entre outras unidades de ensino.

A estudante Emilia Xavier, de 14 anos, combinou com amigos da escola pelas redes sociais para participar da manifestação. A jovem disse que achava necessária sua presença na manifestação pela defesa da Justiça no país. “Como eu sou menor de idade, eu não vou aos postos de gasolina, mas eu sei dos impactos na população brasileira e por isso que estou aqui”, afirmou.

O aluno Sávio Noronha, de 15 anos, reivindicou a saída de Temer do governo. “Eu acho que o governo não deveria estar no poder. É um governo corrupto que tira o que muitos não têm na própria mesa. O arroz, feijão, está tudo muito caro. Eles aumentam para cobrir um déficit da corrupção deles”, frisou.

Já para o estudante Guilherme da Silva a participação dos jovens é essencial, pois é educação que forma o futuro do país. Ele disse ainda que tem sofrido os impactos dos impostos e dos altos preços dos produtos. “Meu pai não está conseguindo me deixar na escola porque a gasolina está muito cara. O ônibus está atrasando e passando de duas em duas horas. Pra chegar na escola, eu tenho que acordar 4h da manhã. Isso não é justo para ninguém”, avaliou.

SEED – Sobre a participação dos alunos da rede estadual, o Governo do Estado informou que ocorreu um ato individual dos alunos da Escola Lobo D’almada e que a Secretaria Estadual de Educação (Seed) orientou os gestores, professores e alunos que os atos de protestos sejam feitos no papel de cidadão e não representando a escola.

“Outra orientação repassada pela Seed foi que os protestos passem a ser realizados no horário oposto ao da aula, cujos alunos possam participar, e sem farda, além de ser necessário o consentimento dos pais”, frisou o Governo.

Serviços de transporte público e privado são afetados pela greve

Além dos motoristas de táxi lotação que têm dificuldades para rodar na cidade, os motoristas da Uber também têm encontrado obstáculos para manter o serviço em andamento. Trabalhando pelo aplicativo, a motorista Nathalia Soares informa que muitos colaboradores têm deixado de atender a população, principalmente quando a corrida é para bairros mais distantes do Centro.

“Quando o aplicativo chama, só pego se estiver por perto. Se estiver muito longe, eu nem vou. E quando estou dirigindo é em uma velocidade de 40 a 45 quilômetros por hora, no máximo. A viagem mais barata é de R$ 5,75 que é quase o preço do litro da gasolina. O Uber não vai fazer mudança dos preços das viagens. Então, temos que nos virar com a gasolina, estamos até misturando com álcool para render mais”, afirma.

A motorista disse ainda que, com a falta da gasolina, aumentou o número de chamadas no Uber, mas nem todos podem trabalhar pela ausência do combustível nos postos. Nathalia afirmou que não pensa em parar o carro, por enquanto, mas não descarta a possibilidade se o preço continuar subindo. “A Uber é o único sustento que estou tendo por enquanto, então, ainda não dá para parar”, disse.

A Folha também entrou em contato com a empresa Uber, que informou que os motoristas são autônomos e tem toda a liberdade pelas suas decisões, ficando ao seu critério a adesão ou não à paralisação.

DEMAIS TRANSPORTES – Apesar da reclamação dos usuários de demora no aparecimento dos ônibus, a Emhur alegou que o transporte coletivo funcionou na segunda-feira com 100% da frota de veículos.

A empresa disse que iria se reunir ainda ontem com representantes do transporte público em Boa Vista para definir uma programação para a semana. “Assim que definido, será divulgado”, completou o órgão municipal.

Por fim, o presidente do Sindicato dos Taxistas Convencionais, Marino Jorge, disse que os motoristas foram liberados para participar da manifestação a seu critério, mas que a categoria apoia a greve dos caminhoneiros. (P.C.)