Cotidiano

Parque Aquático e Praça Interativa viram abrigo para sem-tetos e viciados

Espaços que serviam como opção de lazer para os boa-vistenses estão abandonados há anos e estão tomados por lixo e matagal

Espaços que antes serviam como opção de lazer a milhares de boa-vistenses aos fins de semana, o Parque Aquático e a Praça Interativa José Renato Hadad, que ficam localizados nas dependências do Parque Anauá, no bairro dos Estados, zona Norte, agora servem como depósito de lixo e abrigo para moradores de rua e usuários de drogas.

A estrutura do parque aquático tem sido alvo constante de denúncias e reclamações de frequentadores do local, que temem pela insegurança. A Folha visitou o espaço, na manhã de ontem, e constatou um cenário de completo abandono. Sem nenhum vigia e com as grades de proteção no chão, o local virou “casa” de moradores de rua, que utilizam partes das construções restantes para armar redes e utilizar drogas. No chão, havia várias latinhas de alumínio que são utilizadas para o uso de crack.

Além disso, as construções do parque aquático foram pichadas por vândalos, que também arrancaram várias cercas de proteção. As portas e janelas quebradas se juntavam ao cenário de deterioração dos tobogãs e piscinas, tomadas por água parada e suja, além do matagal formado ao redor.

No exato momento em que a equipe de reportagem estava no local, alguns funcionários de uma empresa terceirizada faziam o serviço de capina. Um deles informou que o Governo do Estado havia solicitado a revitalização do local, que também passaria por pintura.

Local de lazer serve de cenário do descaso com o bem público

A Praça Interativa José Renato Hadad, ao lado do Ginásio Totozão, é outro espaço de lazer em situação de abandono há anos. Antes frequentada por centenas de pessoas durante os fins de semana, as antigas áreas de lazer servem atualmente como abrigo para usuários de drogas e moradores de rua.

Na praça, que está há cerca de dois anos sem funcionar, uma grande quantidade de matagal cobre toda a estrutura construída entre os chafarizes. O espaço era uma das opções de lazer abertas à população. A praça era aberta de sexta-feira a domingo, das 17h às 20h. Os chafarizes chamavam a atenção dos frequentadores, que costumavam se refrescar, e até de turistas.

Em agosto de 2014, o governo chegou a contratar empresa com especialização para executar manutenção nos parques aquáticos de Boa Vista e na praça interativa José Renato Haddad.

À época, o objetivo alegado pelo então governador Chico Rodrigues era de que o serviço iria manter as unidades em funcionamento por meio de atendimento permanente, a fim de evitar que pequenos problemas fossem causados por desgaste natural ou por mau uso, e prejudicassem ou interrompessem a prática de atividades recreativas nestes locais.

Os recursos, na ordem de R$ 1,7 milhão, a serem aplicados na contratação do serviço foram alocados pela Secretaria Estadual de Educação e Desportos (Seed), responsável pela administração da praça e dos parques aquáticos, mas nada foi feito.

Desde 2010, Parque Anauá  já recebeu R$ 5,5 milhões

Quem pensa que a situação de abandono de vários espaços de lazer no Parque Anauá ocorre por conta da falta de recursos, está enganado. Desde 2010, segundo levantamento feito pela Folha, mais de R$ 5,5 milhões foram destinados para a revitalização das áreas. À época os recursos foram destinados pelo então governador José de Anchieta Júnior (PSDB).

A má prestação dos serviços, no entanto, foi alvo de ação civil pública por parte do Ministério Público de Roraima (MPRR), que em 2012 denunciou o então secretário de Infraestrutura e Obras e representantes da empresa responsável por improbidade administrativa.

Segundo a Promotoria do Patrimônio Público, em novembro de 2010 a Seinf realizou processo licitatório para contratação de empresa especializada para revitalização do parque. A empresa vencedora do certame assinou o contrato em 2011, no valor de, aproximadamente, R$ 4,1 milhões.

Ainda conforme a promotoria, diversos aditivos foram feitos ao contrato, que passou ao valor cerca de R$ 5,5 milhões. Porém, a obra, entregue oficialmente em março de 2012, não foi realizada a contento, de forma integral, apesar de ter sido totalmente paga à empresa. O engenheiro responsável pela fiscalização atestou, de modo ilegal, a realização da reforma no Parque Anauá.

Já em 2016, o MPRR ingressou novamente com ação civil pública contra o Governo do Estado por conta da falta de manutenção nos parques aquáticos de Boa Vista, entre eles o do Parque Anauá.

De acordo com o MP, os locais não estão funcionando “devido ao claro cenário de abandono, falta de manutenção e depredação das instalações e equipamentos”. Conforme a promotoria, as irregularidades foram constatadas durante diligências e medidas extrajudiciais foram tomadas para sanar os problemas.

GOVERNO 

A Seed (Secretaria Estadual de Educação e Desportos) informou que os parques aquáticos recebem serviço de limpeza todos os meses. O trabalho das equipes consiste em esvaziar as piscinas e retirar todo o lixo dos locais. O Governo do Estado reitera o interesse em reformar todos os parques aquáticos da capital e interior, por entender que são espaços que proporcionam lazer para a comunidade e ressalta que está em curso, o processo de licitação para manutenção e reforma geral em todas as unidades.