Com a intensificação da crise política e financeira da Venezuela, o número de pessoas que busca ajuda no Brasil não para de crescer. Até o dia 25 do mês passado, a Superintendência da Polícia Federal em Roraima havia contabilizado mais de 8 mil atendimentos de entrada, por meio do ponto de migração terrestre em Pacaraima, no norte do Estado.
Diante do aumento cada vez maior de venezuelanos, principalmente em busca de emprego, o engenheiro agrônomo Joaci Luz pretende sugerir a parlamentares da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE) uma audiência pública para tratar da implantação de um projeto voltado para o desenvolvimento da chamada agricultura solidária.
“A gente já sabe que os dois principais motivos para a vinda dessas pessoas são a crise política e a escassez de comida na Venezuela. Diariamente nós observamos muitas pessoas nas ruas da capital, com enxadas nas costas, pedindo emprego. Vendo tudo isso, me parece que essas pessoas, de algum modo, têm ou querem ter algum tipo de relação com a agricultura, então porque não discutir junto com o poder público um projeto que possa viabilizar o desenvolvimento desse tipo de mecanismo? É algo viável e que ajudaria a minimizar os efeitos da imigração no Estado”, afirmou.
À Folha, o agrônomo explicou que a ideia é discutir com representantes de instituições públicas e privadas, além da sociedade em geral, o alinhamento do projeto para a destinação de áreas que possam servir de base para a execução de práticas agrícolas. “A ideia da audiência é justamente conversar com os órgãos que detêm uma parte do patrimônio, seja ele público ou privado, sobre a importância da destinação de áreas que estejam em condições de uso para serem utilizadas nesse projeto de produção solidária de hortaliças. E mostrar também que ninguém quer ocupar o espaço de ninguém, até porque a gente sabe que a legislação brasileira é muito complexa nessa questão de ocupação de espaços”, frisou.
Outra característica do projeto, segundo Luz, é que a iniciativa resolveria os problemas da falta de atividades ocupacionais e geração de renda entre os imigrantes, que diariamente são vistos nas ruas e avenidas da capital.
“Dos meus 40 anos de experiência na área de Agronomia, sendo 31 deles trabalhando com agricultura familiar, acredito que se esse projeto for executado, esses imigrantes teriam uma renda e alimentação acessível. Além disso, essa produção também pode ser destinada ao consumo local”, destacou.
O engenheiro agrônomo acrescenta ainda que a construção de parcerias para a realização de capacitações, treinamentos e oferta de insumos seria algo também previsto dentro das ações do projeto. “Do nosso lado, a gente espera conseguir que não só a Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], que é a instituição da qual faço parte, mas também outras instituições acolham essa iniciativa, de modo que possamos realizar alguns projetos de capacitação e até o repasse de insumos para o melhoramento das atividades, que é o que chamamos de transferência tecnológica. E essas ações não estariam acessíveis somente para os venezuelanos, mas também aos imigrantes de outras nacionalidades e também aos brasileiros que por ventura se interessarem”, concluiu. (M.L)