Éder Rodrigues
Colaboração Folha de Boa Vista
Yanomami estão em situação de risco no Baixo Rio Branco. A constatação foi feita por uma equipe de pesquisadores de uma expedição organizada pela Universidade Federal de Roraima (UFRR).
A expedição analisou, no período de 15 a 30 de maio, o ordenamento e gestão territorial, os aspectos socioambientais e socioeconômicos das comunidades ribeirinhas do Baixo Rio Branco, existentes ao longo dos rios Branco, Xeurini, Jufari e Jauaperi, no estado de Roraima.
Ao todo, 16 vilas foram analisadas por meio de anotações, entrevistas, aplicação de questionários e registros fotográficos. Foram visitadas as comunidades de Santa Maria do Boaiçu, Santa Maria Velha, Remanso, Floresta, Itaquera, Sumaúma, Bela Vista, Xixuau, Dona Cota, Sacaí, Canauiní, Lago Grande, Terra Preta, Cachoeirinha, Caicubí e Panacarica.
Um dos vários fenômenos observados nas comunidades de Santa Maria de Boiaçu e Santa Maria ‘Velha’ foi o triste estado de mendicância e subempregos ao quais estão submetidas algumas famílias de indígenas Yanomami, provenientes da região do rio Catrimani, que deslocaram-se para os vilarejos do Baixo Rio Branco. Em 2018, as comunidades Yanomami do Rio Catrimani sofreram com uma epidemia de malária, sendo registrados, à época, 45 casos.
O povo Yanomami também é vítima constante de invasões de seus territórios pelo garimpo ilegal. Um dos moradores de Santa Maria ‘Velha’, localidade vizinha a Santa Maria do Boiaçu, afirmou que mesmo com dificuldades extremas, os indígenas ainda estão em melhor condição do que na sua terra de origem.
Índios remam 10 dias para encontrar comida e ajuda, e vivem de mendicância
De acordo com o professor e pesquisador Giovanni Seabra, do Programa de Pós-graduação em Geografia (PPGEO/UFRR) que é doutor em Geografia Física, estas famílias indígenas estão em grave estado de vulnerabilidade. “Estamos tratando e conhecendo uma área, incluindo os territórios protegidos da natureza e territórios indígenas, que representa 15% a 20% de extensão territorial do estado de Roraima. A importância do Baixo Rio Branco já se inicia com sua extensão”, explicou.
Segundo Seabra, estas são áreas protegidas por lei e por isso os governos federais, estaduais e municipais devem criar mecanismos para ampliar a proteção, não só dos bens naturais como também o patrimônio cultural, representado pelos povos que ali habitam. “Há um turismo empresarial excludente praticado em reservas extrativistas e outras categorias de unidades de conservação. A floresta está sendo dizimada nas cercanias de Santa Maria do Boiaçu com a abertura da pista de pouso, que presta serviço e comodidade aos turistas de ‘luxo’ que vêm para a prática da pesca esportiva. É um turismo extremamente excludente e inadmissível quando se trata de reserva extrativista”, asseverou.
Para o pesquisador, a reserva é destinada aos povos extrativistas que podem prestar serviços ambientais, e não para entregar o rio e a floresta ao mercado e às grandes empresas de turismo. “Não somente pistas de pouso são abertas, mas campos de pastagens em meio à floresta, como podemos observar em Santa Maria do Boiaçu”, disse.
O professor Seabra reitera que a mão de obra no Baixo Rio Branco é muito barata e emprega também os imigrantes Yanomami. “Estas famílias de migrantes indígenas deveriam permanecer em seus territórios indígenas vivendo da caça, da pesca e da roça. Eles precisam de maior investimento na assistência médica e odontológica governamental. Como estão em situação de abandono, eles estão migrando em massa para localidades nas redondezas, como as comunidades ribeirinhas e sítios isolados. São famílias inteiras que remam durante 10 dias até alcançar para eles um lugar seguro. Lá encontram trabalho e também praticam mendicância pedindo comida, roupa ou qualquer outra coisa que lhe seja útil, como acontece em Santa Maria do Boiaçu”, concluiu.
A expedição é composta por pesquisadores da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Universidade Federal do Ceará (UFC), com apoio da Universidade de São Paulo (USP). A atividade realizada no Baixo Rio Branco compõe as ações do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia (PROCAD), vinculado à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
O coordenador da expedição, professor e geógrafo da UFRR, Antonio Veras, afirma que os Yanomami estão saindo de uma situação vulnerável em seus territórios e indo para outros locais diferentes da realidade cultural deles. “Fatalmente eles serão submetidos a subempregos e vão se tornar hiper vulneráveis, como verificamos”, assegurou.
OUTRO LADO – Procurada pela reportagem, a coordenação regional da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) afirmou que há uma Coordenação Regional Etnoambiental Yanomami e Y’ekuana, que foi também procurada pela reportagem para saber como são mediadas situações de mendicância, subemprego e quais as possíveis causas da migração identificadas ou não pelo órgão. A FUNAI em Roraima informou que apenas a FUNAI Nacional, por meio da assessoria de comunicação, poderia se manifestar. Até o fechamento desta matéria ainda não havia retorno das demandas encaminhadas à nacional.