Se não fossem as inúmeras lagoas que se formaram nas ruas sem qualquer infraestrutura no bairro Senador Hélio Campos por conta das chuvas que caíram nos últimos dias, o trabalho da equipe que realiza a pesquisa sobre o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani) teria sido mais produtivo. Profissionais entrevistadores, supervisor e coordenador estão coletando os dados de crianças de seis meses a cinco anos, em 230 domicílios de 20 bairros de Boa Vista. O trabalho deve se encerrar no mês de agosto.
A pesquisa é do Ministério da Saúde, elaborada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em parceria com a Fiocruz, Universidade Fluminense e outras instituições. Em Roraima, a pesquisa é coordenada pelo sociólogo Vicente Joaquim que, junto com os profissionais locais, está aplicando e coordenando os questionários nas residências. “A ideia é mapear a alimentação dessas crianças. Será uma espécie de censo da nutrição, em que estamos fazendo um levantamento minucioso da situação alimentar e da saúde nutricional pelo fato de ser provado pela medicina que essa fase da vida é determinante no futuro para o desenvolvimento corporal e intelectual, que é justamente o período mais vulnerável do desenvolvimento humano”, esclareceu.
Segundo ele, a pesquisa vai elencar a forma e os hábitos de consumo de alimentação, o preparo dessa alimentação para a mamãe e para a criança, inclusive relacionada à amamentação. “A partir do momento que tivermos esses indicadores dos hábitos alimentares, cruzados com 16 resultados de exame de sangue, teremos a situação atual da mãe e da criança”, ressaltou Vicente, dizendo que essas informações irão ser utilizadas como indicadores para a gestão pública, com a finalidade de evitar o desenvolvimento irregular das crianças. “Vamos atender 230 domicílios que podem se transformar em 300 coletas de sangue, o que dependerá do número de crianças em cada casa visitada. Aliás, chegamos a uma casa que tinha quatro crianças de duas famílias e inclusive estamos atendendo com a pesquisa os venezuelanos. A partir do momento em que a pessoa se classifica como moradora daquele domicílio, ela é objeto da pesquisa”, ressaltou o sociólogo.
Joaquim Vicente disse que o Governo Federal tem essa preocupação de ter um censo da nutrição, para a condução da saúde pública. “De posse desses dados, o Ministério da Saúde vai divulgar os resultados em seu site. Outro fator é que as famílias receberão gratuitamente os resultados de exame de sangue com o indicador clínico do problema e quais providências devem ser tomadas e, para tanto, deverão buscar um posto de saúde do bairro para fazer o tratamento da criança”, comentou. Ele disse que é importante que as mães colaborem e recebam os profissionais.
A visita aos domicílios é indicada por meio de um sistema do próprio Ministério da Saúde, que aponta qual residência deve ser visitada para aplicação do questionário com as famílias. O que significa que nem em todas as casas existam crianças na faixa etária de seis meses a cinco anos. “A finalidade da pesquisa é fazer um mapeamento para que se saiba onde estão localizadas essas famílias e, a partir daí, termos acesso às informações constantes no questionário, que deve ser preenchido pela mãe”, disse a entrevistadora Ozilene Abreu.
A pesquisadora Ozilene andou em várias casas indicadas pelo sistema, mas enquanto a reportagem acompanhou o trabalho, em nenhuma dos domicílios visitados tinha crianças com a faixa etária estabelecida pela pesquisa.