A Polícia Federal instaurou inquérito para investigar uma denúncia feita pelo Conselho Distrital Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi), de que profissionais de saúde estariam comercializando ilegalmente vacinas que deveriam ser aplicadas nos indígenas, em benefício de garimpeiros. Segundo a polícia, as pessoas citadas na denúncia serão ouvidas nos próximos dias.
Segundo a denúncia, cada vacina seria vendida por 15 gramas, o equivalente a mais de R$ 4 mil pela cotação oficial.
No ofício do Condisi, os indígenas relataram que nas comunidades Komamassipi, região do Parafuri, no município de Alto Alegre “nem todos os indígenas foram vacinados, e as vacinas foram utilizadas nos garimpeiros, um total de 45 pessoas, e que foi pago para equipe de profissionais em torno de 15g por vacina”.
O documento denuncia ainda que viram os profissionais vacinando os garimpeiros na região do Parafuri e Parima, e que estes mesmos trabalhadores foram vistos retornando para a cidade em um voo pago pelos garimpeiros.
18 indígenas do distrito Yanomami morreram de covid-19
A denúncia coloca em cheque a eficácia da estratégia de vacinação na área indígena. Segundo o “vacinômetro” da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), 19.001 doses foram aplicadas no distrito até a última segunda-feira (26). Dezoito indígenas do Distrito Yanomami morreram de covid-19 em 2020 e 2021.
Para o presidente do Condisi, Júnior Hekurari Yanomami, é inadmissível que, em meio à piora nos índices de saúde das comunidades indígenas da Terra Yanomami, o órgão responsável pelo atendimento da saúde indígena tenha seus recursos desviados para atendimento de não indígenas que atuam em garimpo ilegal.
“Foi-nos informado ainda que, ocorreram desvios de vacina das Regiões do Parima e Homoxi, totalizando em 61 não indígenas (garimpeiros) que foram vacinados, segundo relato dos indígenas. Diante disso, solicitamos que as equipes presentes nessas localidades sejam desligadas imediatamente e que sejam encaminhados relatórios para os órgãos responsáveis para o cumprimento do dever legal”, disse o Hekurari.
Além da Polícia Federal, o ofício foi enviado para a Coordenação Distrital de Saúde Indígena Yanomami, Secretaria Especial de Saúde Indígena, Ministério Público Federal.