Cotidiano

PF investiga crime ambiental na Caer

O lançamento de esgoto sem tratamento no Rio Branco pela Caer vem sendo investigado pela Operação Knossos

A Polícia Federal em Roraima deflagrou, no início da manhã de ontem, a operação “Knossos”, que investiga prática de crimes ambientais cometida pela Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (Caer). As ações ocorreram em Boa Vista, onde foram cumpridos 34 mandados de busca e apreensão em endereços distintos.

Segundo da PF, a companhia é investigada desde o final de 2014 por despejo de esgoto não tratado nas águas do Rio Branco e seus afluentes, problema que estaria causando uma série de danos à flora e fauna local. Há indícios ainda de que a ação criminosa tenha causado considerável dano à qualidade da água servida à população da Capital.  

“A maior parte dos endereços visitados pelas equipes da PF está relacionada a estações elevatórias de esgoto. E a investigação trata exclusivamente de crime de poluição hídrica realizada pela Caer e por seus dirigentes. Além da coleta de amostra de água e esgoto, nós também realizamos perícia nas mais de 30 estações elevatórias, e busca e apreensão de documentos que servirão de base para a investigação”, afirmou o delegado da Polícia Federal, Alan Robson Ramos.

Segundo o delegado responsável pelo inquérito, Anderson Dias, durante as investigações foram registradas evidências incontestáveis de despejos de efluentes sem tratamento nos rios. Em uma das coletas realizadas no Rio Branco, a análise laboratorial detectou uma quantidade de coliformes fecais cerca de duas vezes maior que o valor máximo tolerado pela legislação ambiental, o que torna a água do Rio Branco, nos pontos coletados, imprópria para a balneabilidade.     

“Nós fizemos uma compilação de notícias jornalísticas onde foram informados bastantes casos pela própria população, principalmente a imprensa escrita, e conseguimos constatar, em muitas delas, que as notícias eram realmente verídicas e se tratavam do inconformismo da população em relação a esses reiterados casos de despejo de esgoto”, comentou.

Ainda de acordo com o delegado, as ações da operação deverão ter desdobramentos futuros, visto a gravidade das evidências encontradas no período de investigação. Somente em multas administrativas, a Caer já foi autuada em mais de R$ 9 milhões. Os materiais coletados na operação serão encaminhados para Campinas (SP), onde passarão por análise. A previsão é de que os resultados saiam em até 30 dias.

“Nós temos 24 horas para essas amostras saírem de Roraima para chegarem até o laboratório de Campinas, que é certificado pelo Inmetro, um dos melhores laboratórios do Brasil. Essas amostras são fundamentais para confirmar a materialização que já consta no processo. A perícia realizada hoje constatou flagrante de extravasamento em dois pontos específicos onde o esgoto estava passando sem o tratamento adequado pelas estações, passando direto para os igarapés, que consequentemente tem o Rio Branco como destino final”, ressaltou Dias.

Caer diz que está colaborando com a investigação dos policiais

Em coletiva de imprensa realizada no final da manhã de ontem, o presidente da Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (Caer), Danque Esbell, ressaltou que a empresa fornecerá todas as informações exigidas pela Polícia Federal. Na ocasião, ele destacou algumas medidas que a empresa vem adotando para minimizar qualquer tipo de dano ao meio ambiente.   

“O que podemos ressaltar é que, desde o início da nossa gestão, a Caer tem tomado todas as medidas possíveis para que a companhia não seja vista como um ente poluidor. Nós temos adquirido equipamentos e revitalizado outros justamente para evitar qualquer tipo de dano ao meio ambiente. Nosso empenho tem sido constante no sentido de que realmente a população fique tranquila em relação ao nosso trabalho”, disse.

No apontamento das ações, Esbell destacou a realização de campanhas de conscientização voltadas para a sociedade, como palestras e ações itinerantes, além do investimento de recursos da ordem de R$ 600 milhões, provenientes do Programa de Aceleração ao Crescimento (PAC), para ampliar as redes coletoras de esgoto.

“Enquanto a média da região Norte em relação aos investimentos no tratamento de esgoto e melhoramento da qualidade da água é de 14%, nós estamos em patamar elevado, com 60% de melhorias. Esse mês, agora, nós somos destaque em nível nacional, tendo Boa Vista como uma das 100 melhores cidades brasileiras com relação a saneamento. Isso demonstra o compromisso do Governo com o meio ambiente e demonstra também o compromisso da Caer em solucionar todos os problemas e tranquilizar a sociedade com relação à qualidade dos nossos trabalhos”, destacou.

Quanto às multas aplicadas à Caer e divulgadas pela PF, o presidente fez questão de frisar que, nem no ano passado, nem neste ano, a empresa sofreu qualquer penalidade. “Provavelmente esse valor divulgado pela PF se refere ao período de 2012 a 2014”, disse. (M.L)