Cotidiano

PMBV retira invasores de antigo lixão

Prefeitura afirma que medida tem o objetivo de se evitar aglomerados urbanos sem condições de habitação

Uma ação conjunta da Guarda Civil Municipal, do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar, e da Superintendência Municipal de Trânsito, realizada durante todo o dia desta sexta-feira, retirou invasores que estavam morando no terreno onde, durante anos, funcionou um antigo lixão no bairro São Bento. A desocupação foi uma medida adotada pela Prefeitura de Boa Vista para evitar que se criem aglomerados sem condições de habitação, como escolas, postos de saúde e demais instrumentos sociais.
Diante das frequentes cenas de invasão na Capital, a prefeita Teresa Surita (PMDB) disse que as invasões prejudicam o desenvolvimento ordenado da cidade, colocando em risco o futuro de Boa Vista. “Respeito todas as pessoas que necessitam de moradia digna e que buscam meios para alcançar esse sonho. Entretanto, não concordo com esse tipo de ocupação desorganizada e irregular. Eu sonho com uma cidade estruturada, que continue oferecendo qualidade de vida a todos os seus moradores. Quero que as pessoas morem em locais que ofereçam serviços essenciais básicos. Esse não é o caso das áreas invadidas que, inclusive, representam um risco à saúde pública”, afirmou Teresa.
Conforme a Prefeitura, o grupo de invasores era reincidente e já tinha sido retirado do mesmo local em fevereiro deste ano. Durante a nova desocupação, houve conflitos e resistência das famílias para deixarem o lugar. O presidente da Empresa de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Emhur), Sérgio Pillon, disse que é obrigação do poder público zelar pela preservação da saúde da população.
 “Por acumular lixo de toda espécie durante anos, inclusive hospitalar, o local exala com frequência gases, especialmente o metano. Qualquer fogo ali ateado poderia causar uma explosão de grandes proporções”, frisou o secretário ao falar do perigo que é ocupar aquela área.
ENCONTROS – A decisão da Emhur de retirar os invasores foi tomada depois de várias reuniões com o Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR), inclusive com a participação da prefeita Teresa Surita. O MP recomendou à Prefeitura de Boa Vista, no dia 27 de fevereiro, a retirada dos assentados na invasão do São Bento.
Na ocasião, o Ministério Público, apresentou o depoimento do presidente da Associação dos Moradores do bairro São Bento, Elson Gomes de Souza. Ele expressou preocupação com o andamento da invasão ocorrida no bairro. “Existem crianças que se encontram abrigadas no antigo lixão, correndo risco de saúde. Tem gente invadindo e desmatando a Área de Preservação Permanente do igarapé Grande. E isso está errado”, frisou.
Na próxima terça-feira, 17, a Emhur apresentará ao Ministério Público um relatório sobre as desocupações e definir maneiras de adequar estas famílias em moradias qualificadas, longe de áreas de risco.
HABITAÇÃO – Segundo o último Censo divulgado pelo IBGE, Boa Vista apresenta um déficit habitacional que atinge sete mil pessoas. A gestão municipal afirma que enfrenta o desafio de garantir moradia qualificada para essas famílias. Desde 2013 foram 968 casas e 3,248 mil títulos definitivos entregues à população. A previsão é inaugurar mais 3,6 mil moradias, que atenderão as pessoas que estão no cadastro da Secretaria Municipal de Gestão Social (Semges).
O cientista social Linoberg Almeida avalia que o direito à moradia não se conquista com invasões, porque ocorrem em lugares inapropriados para habitação digna e vão na contramão do que as famílias procuram. “O conceito de moradia é muito mais que uma situação predial, envolve projetos sociais e condições de trabalho”, enfatizou.
Ele destacou que, no Brasil contemporâneo, ainda cabe ao Governo Federal dar a casa e à prefeitura arrumar o lar. “É o conjunto de serviços que representa condições habitacionais, como a coleta do lixo, a rua asfaltada, famílias empregadas, acesso à saúde, entre outros”, frisou.

Local apresenta risco à saúde pública 
O diretor do Departamento de Vigilância Sanitária (Devisa) da Prefeitura de Boa Vista, Fabrício Medeiros, confirmou que, com base em estudos científicos realizados em locais onde funcionaram lixões em vários pontos do país, o local permanece por muitos anos “totalmente comprometedor à saúde e sanitariamente inabitável”.
Ele disse que os gases tóxicos NH3 (amônia), NH4 (hidróxido de amônia), H2S (ácido sulfídrico) e SO2 (dióxido de enxofre) fluem nesses locais e provocam doenças respiratórias como a asma brônquica, doenças pulmonares obstrutivas e até câncer pulmonar.
Outro motivo para a proibição de ocupação para habitação de áreas que funcionaram como lixão é a própria legislação ambiental vigente no país. Além disso, o artigo 104 II da Lei 023/74, o Código de Edificações e Instalações do Município de Boa Vista, prevê que sem saneamento do solo, nenhum edifício poderá ser construído sobre terreno que tenha servido de depósito de lixo.