O Relatório Anual de Droga das Organizações das Nações Unidas (ONU) divulgado em 2015 aponta que o consumo das drogas sintéticas vem crescendo a cada ano. Apesar de haver poucas ocorrências relacionadas a apreensões, a entrada desse tipo de entorpecente em Roraima vem sendo investigada pela Delegacia de Narcóticos (Denarc) da Polícia Civil.
Segundo o diretor da Denarc, delegado Marcos Lázaro, os primeiros casos de apreensão de drogas sintéticas no Estado ocorreram no ano passado. “Existem investigações em andamento. No ano passado, tivemos uma situação em que a Polícia Militar estava fazendo a recaptura de um foragido e acabou pegando um traficante que portava droga sintética”, disse.
Ele afirmou que o entorpecente é produzido em laboratórios e comercializado de várias formas. “Esse tipo de droga possui uma ou mais substâncias psicoativas integralmente produzidas em laboratório. As drogas sintéticas mais comuns são o Ecstasy e o LSD, mas também são vendidas como pó, ampolas e por meio de material vegetal seco”, explicou.
Conforme o delegado, existem mais de 350 tipos de drogas sintéticas que se tem conhecimento. “Se reproduzem e são criadas de forma muito rápida. Essa é a estratégia do traficante. Muitas vezes a internet acaba sendo usada como canal para a venda desses entorpecentes, que são vendidos como incensos e fertilizantes para mascarar e enganar a polícia”, afirmou.
Por fazer fronteira com a Venezuela e a Guiana, além do Amazonas, as investigações apontam que Roraima pode fazer parte da rota internacional do tráfico de drogas. “O fato de estarmos na fronteira não significa que há facilitação para o tráfico. Isso pode sugerir que aqui seja uma rota, mas não significa que o consumo esteja ligado a esse fato”, declarou o delegado.
Lázaro citou que o perfil dos usuários de drogas sintéticas no Estado é formado por jovens de classe média e classe média alta. “Os pais têm condições financeiras e normalmente o consumo está ligado ao tipo de programa de lazer que esses jovens fazem pela noite, como raves e festas eletrônicas”, frisou.
O delegado associou o aumento do consumo à degradação da família. “O mais importante no combate ao tráfico é o diálogo dentro de casa. Muitos pais atualmente não querem suportar esse ônus e entregam a educação dos filhos para a escola ou para a rua, esse é o principal problema. É um caso de polícia sim, porque quem trafica e usa está em conflito com a lei, mas é principalmente um drama social”, pontuou.
Identificação de drogas sintéticas só é possível com exame pericial
Peritos do laboratório forense do Instituto de Criminalística da Polícia Civil foram os responsáveis por identificar, em janeiro deste ano, o surgimento de dois tipos de drogas sintéticas em Roraima, a N-bomb e a Metilona, que se tornaram proibidas após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicar a Portaria nº 344 em 2014. As drogas foram detectadas por meio de uma apreensão que aconteceu em agosto do ano passado.
O diretor do Instituto, Steffani Ribeiro, afirmou que a identificação das drogas só foi possível após a realização de exames periciais. “A partir do momento que nós fizemos o exame pericial no nosso equipamento, constatamos que se tratava de droga sintética, reproduzida em laboratório, que simula e potencializa os efeitos de drogas naturais e semissintéticas”, disse.
Conforme ele, a Polícia Civil possui todos os equipamentos necessários para identificar e catalogar essas substâncias. “É um equipamento adquirido em convênio com a Secretaria Nacional de Segurança Pública, que faz análise e oferece gráficos. A partir daquele resultado, a perícia conclui que se trata dessa ou daquela substância. É um equipamento de ponta que somente nós e a Polícia Federal temos no Estado”, destacou.
As substâncias apreendidas e identificadas pelo Instituto de Criminalística são altamente prejudiciais à saúde. “Quando falamos de drogas, todas são prejudiciais. A cocaína e a maconha, por exemplo, que são drogas naturais, fazem mal à saúde. Temos catalogados, inclusive por órgãos de controle da Organização Mundial de Saúde, que o N-bomb tem potencial lesivo à saúde quase 300 vezes maior que a cocaína, além do fator de dependência ser maior nas drogas sintéticas do que nas drogas naturais”, afirmou.
Para o diretor, as drogas são comercializadas em grande escala pela facilidade na produção. “Para fazer um quilo de cocaína são necessários 250 quilos de folha. Imagina o custo e o risco para a pessoa que produz! Ela prefere sintetizar substância que tem o mesmo efeito com o risco menor e a um custo mais barato”, frisou. (L.G.C)