O comandante da Polícia Militar, coronel Dagoberto Gonçalves, recebeu a imprensa ontem, no final da manhã, para falar do caso envolvendo o soldado Felipe Quadros, autor do triplo homicídio (veja matéria completa na página 10A). “Estava marcada uma coletiva com todos para tratar do planejamento de comando, que pretendo colocar a partir de então, à frente do Comando da Polícia Militar. Eu estava preparado para falar de Polícia Comunitária, de parceria com a comunidade. Chegando aqui, fui surpreendido com essa notícia, com essa tragédia em nossa cidade, infelizmente praticada por um policial integrante da Polícia Militar de Roraima”, lamentou.
Ele disse que o soldado estava em estágio probatório e assumiu a vaga no concurso no ano de 2014. “Esse policial tem um ano de casa, um ano de Polícia Militar. Matou três pessoas e deixou outra gravemente ferida e se evadiu. Imediatamente tomamos todas as providências, inclusive, acionamos a equipe de inteligência e todas as equipes para fazer a captura desse elemento para que seja responsabilizado sobre essa barbárie”, disse.
Quanto aos assassinatos, o comando não informou dados oficiais, pois precisava concluir os estudos nos locais e as causas de cada homicídio. “Não temos maiores dados nem informações a respeito dos crimes. A equipe de campo está apurando, mas esperamos o mais rápido possível ter esse elemento em mãos”, acrescentou Gonçalves.
Conforme o comandante, o policial atuava na guarda externa da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc) e não constava nenhuma irregularidade em sua ficha policial, nem mesmo na ficha de investigação social, que é uma das etapas do concurso para ingresso na Polícia Militar, contrariando o que os colegas de farda disseram (veja na página 10A).
Porém, uma denúncia foi registrada pela ex-companheira de Felipe, na ocasião, por agressões físicas. “Quando ele se separou da ex-esposa, ela esteve na Corregedoria, prestou depoimento e em seguida retirou [a denúncia]. Disse que estava grávida, que iria embora e que ele pagaria pensão e estava tudo tranquilo. De lá para cá, mais nada e agora fomos surpreendidos com essa barbaridade”, salientou Gonçalves.
Gonçalves destacou que a PM ainda não sabe das circunstâncias que levaram ao crime, mas estão certos de que se refere à ex-companheira. “Mas ainda não sabemos os motivos reais. As vítimas eram amigos da ex-companheira”, complementou Dagoberto Gonçalves.
SAÚDE PSICOLÓGICA – Em uma semana, três casos foram registrados envolvendo policiais militares. O comando diz ter preocupações com o estado clínico e mental dos servidores da PM. “Estou assumindo há um dia o comando da Polícia Militar. O que posso dizer é que a preocupação será total. Vamos intensificar um programa que já iniciamos há um mês em todas as unidades, inclusive no interior. Começaram as visitas da equipe composta por psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais, fazendo uma conversa com a tropa, identificando os problemas e fazendo encaminhamentos. Em face desse histórico, temos que discutir, pensar, reavaliar e tomar providências dentro da corporação sobre a saúde psicológica do policial militar”, divulgou o comando.
Dentro de um novo planejamento, o comandante anunciou que o objetivo é implantar uma Ouvidoria da PM, já criada por lei para atender à população. “Para nós, é uma tragédia e não deve se repetir. Temos de estudar. Temos um núcleo que cuida dos PMs com profissionais adequados. Vamos dar condições de fortalecer a Corregedoria e implantar a Ouvidoria, que está criada por lei, para acelerar esses procedimentos, como agressões e problemas familiares que batem na Corregedoria, mas, na rotina da polícia, acabam demorando a ter respostas”, pontuou Gonçalves. (J.B)
PM se entrega sem falar sobre motivação dos crimes
O soldado Felipe Quadros se entregou, na noite de ontem, na Corregedoria da Polícia Militar, no Comando de Policiamento da Capital (CPC), acompanhado de dois advogados. Acusado de triplo assassinato, ele se apresentou voluntariamente e afirmou que estava em pânico, temendo represálias pelos crimes que cometeu.
A namorada dele, Surinami Bastos Mendes, foi detida quando acompanhava o policial. Ela foi acusada de ter ajudado a esconder o policial, que ficou foragido por quase 12 horas após o triplo homicídio e uma tentativa de homicídio.
Segundo informações dos seus advogados, Samuel Almeida e Peter Renor, ele ainda está muito abalado emocionalmente e não teria esclarecido os motivos dos crimes. Ele foi imediatamente preso e prestou depoimento ao corregedor da PM, coronel Egberto Lima, que afirmou que todas as medidas foram tomadas a fim de apurar o caso.