Cotidiano

População deixa de se vacinar e autoridades de saúde alertam para propagação de doenças

Em agosto, uma nova campanha contra o Sarampo e a Pólio será realizada com mobilização nacional para o dia 18

Ao contrário do que o senso comum tem propagado no estado, de somente a entrada de venezuelanos está trazendo à tona o registro de determinadas doenças, o que se percebe no país inteiro é que a população brasileira tem deixado de se vacinar. 

Um relatório recente do Ministério da Saúde (MS) apontou alto risco de reintrodução de doenças até então erradicadas no país, como o sarampo e poliomielite, para mais de 310 cidades brasileiras. A explicação do órgão é a baixa procura pelas vacinas, resultando cada vez mais na queda de cobertura vacinal.

Essa nova e preocupante realidade tem se mostrado cada vez mais real ao analisar os dados de estados e municípios ao longo dos últimos quatro anos. Em Boa Vista, que atualmente é uma das cidades mais afetadas imigração venezuelana, os dados mostram que a cobertura vacinal tem caído consideravelmente nos últimos anos.

Para a Poliomielite, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), a cobertura vacinal era de 121,85% em 2015, percentual que caiu pra 87,34% em 2016; e 85,54% em 2017. Este ano, até o momento, a cobertura para a doença é de apenas 39%.

Com relação à cobertura da Tríplice Viral, vacina que combate o Sarampo, a Caxumba e a Rubéola, os dados apontam que em 2015 a cobertura no município foi de 105,23% na primeira etapa e 91,82% na segunda etapa.

No ano seguinte, 2016, os números caíram para 92,15% na primeira etapa e 80,07% na segunda etapa. Em 2017, uma queda na primeira etapa (86,77%) e um crescimento na segunda etapa (89,25%) e os dados deste ano não foram revelados.

Já a cobertura para Meningite Tipo C, os percentuais oscilaram nos últimos anos. Em 2015 foi de 95,8%; subindo para 112,8% em 2016; e caindo para 88,78% em 2017. Este ano, a cobertura está em 41,24%.

Responsável pela coordenação Municipal de Imunização, pasta vinculada a Semsa, Márcia Figueiredo destacou que a população precisa compreender a importância da proteção para evitar o avanço dessas doenças.

“A questão da vacinação envolve as três instâncias de poder e cada uma tem cumprido o seu papel. A União, por meio do Ministério da Saúde, faz o repasse das vacinas; o Estado à distribuição delas, conforme as demandas de cada cidade; e os municípios entram com a aplicação das estratégias, para assim garantir essa cobertura. Nesse sentido, a gente entende que a população é integrante desse processo, e quando nos referimos a isso, é justamente para que ela entenda que ter um papel mais ativo nesse resultado”, disse.

ESTADO – Com relações as estatísticas gerais do Estado, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) apresentou a FolhaWeb apenas os dados referente aos anos de 2017 e 2018.

Para a Poliomielite, por exemplo, a pasta informou que foram aplicadas 9.274 doses em 2017, resultando numa cobertura vacinal de 83,53%. Na capital, esse percentual foi de 83,94%, com a aplicação 5.670 doses da vacina.

Os municípios que apresentaram as melhores coberturas vacinais neste período foram: São Luiz, com 201,49% (141 doses aplicadas); Pacaraima, com 132,84% (449 doses aplicadas); e São João da Baliza, com 114,15% de cobertura (371 doses aplicadas).

Já os municípios os com menores percentuais de cobertura vacinal foram: Cantá, com 40,88% (148 doses aplicadas); Alto Alegre, com 46,09% (259 doses aplicadas); e Amajari, com 65,99% (196 doses aplicadas).

Sobre os dados de imunização contra a Meningite C, o Estado contabilizou a aplicação de 9.306 doses, o que acabou resultando numa cobertura vacinal de 83,82%. Nesse mesmo período a capital registrou cobertura de 88,19%, graças à aplicação de 5.957 doses.

Os municípios com melhores índices foram: São Luiz, com 225,37% (150 doses aplicadas); Caroebe, com 123,38% (190 doses aplicadas); e Mucajaí, com 110,03% (329 doses aplicadas).

Já os municípios com os menores percentuais foram: Cantá, com 41,71% (151 doses aplicadas); Alto Alegre, com 51,96% (292 doses aplicadas); e Uiramutã, também com 51,96% (239 doses aplicadas).

Já sobre o Sarampo, desde fevereiro deste ano, quando foi confirmado o primeiro caso da doença, já foram notificados 406 casos suspeitos, sendo 200 confirmados até o momento. A capital continua sendo o município com o maior número de notificações, com 240 registros, e 118 casos confirmados.

Outros municípios com situação de alerta para a doença são Pacaraima e Amajari, que registraram nesse período 65 notificações cada.

“A nossa vigilância de cobertura vacinal é constante e estamos sempre analisando a evolução dos municípios, no entanto, nós temos em mente que esse reforço de imunização só se dá através da busca da população a unidade de saúde. A vacinação é de livre demanda, estando disponível o ano todo e as pessoas não estão mais buscando a proteção por uma questão de má interpretação da situação”, comentou o Rodrigo Danin, gerente do Núcleo Estadual do Programa Nacional de Imunização (NEPNI).

Ele lembrou ainda que o último caso relacionado ao sarampo em Roraima havia sido registrado no ano 2015. Na ocasião, a própria Sesau confirmou, por meio de exames, que o paciente infectado havia contraído a doença no estado do Ceará e que, mesmo com o chamamento para a imunização, a questão não causou a comoção da população.

“Para a gente evitar uma sequela maior para o resto da vida, a vacinação é o meio mais seguro e nós sempre orientamos a população para que procurem o serviço de vacinação, não só nos postos de saúde, mas também em um ponto estratégico de vacinação, como ocorre em todas as campanhas que realizamos. Em agosto teremos um reforço contra do Sarampo e a Pólio, é uma campanha que vai se estender até o fim do mês, com uma mobilização nacional no dia 18, ou seja, uma oportunidade para que as pessoas estejam se imunizando”, completou.