Cotidiano

Populares desconfiam de venezuelanos que ficam em semáforo pedindo dinheiro

Um dos venezuelanos com deficiência física usa uma máscara e caminha entre os carros se apoiando em um amigo

No Centro de Boa Vista, tornou-se comum a presença de pedintes nos semáforos das principais avenidas. Muitos são estrangeiros vindos da Venezuela e Guiana, países fronteiriços. A presença dessas pessoas é vista com desconfiança pela população. Alguns acreditam que os pedintes são oportunistas que vêm ao país para conseguir dinheiro de maneira fácil.
Os venezuelanos Manuel Madueño e Joan Cardoso têm causado desconfiança. Eles atuam há pouco mais de uma semana no cruzamento das avenidas Getúlio Vargas e Silvio Botelho, perto do centro comercial da Avenida Jaime Brasil. Em meio aos carros, o que apresenta deficiência física usa uma máscara hospitalar, caminha apoiado pelo companheiro que coleta o dinheiro.
Eles disseram à Folha que chegaram recentemente à cidade para juntar dinheiro que supostamente seria usado no tratamento médico de Manuel, de 27 anos. Ele disse que não tem nenhuma ocupação atualmente em seu país e alega sofrer de uma “má formação congênita na medula”, apesar de não ter apresentado nenhum laudo médico, quando questionado pela equipe de reportagem.
Cardoso, que afirmou ser estudante, também justificou que precisa cuidar de Manuel, seu amigo, que não possui condições de viajar nem se manter sem apoio. O que chama a atenção é que, para um deficiente que precisa de tratamento médico, o rapaz suporta uma jornada diária caminhando entre os carros, sob o sol forte, há quase duas semanas.
Eles justificaram que na Venezuela não há condições para realizar o tratamento, pois o custo no país é muito caro. Ao serem indagados se conheciam o tratamento médico público no Estado, oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ambos afirmaram desconhecer. “Não sabíamos. Mesmo sendo estrangeiros, vão nos atender?”, questionou Joan Cardoso.
O taxista Almir Lira disse que tem muita desconfiança em relação aos pedintes. “Não colaboro. Eu acho que a maioria mente quando pede dinheiro. Brasileiro ou estrangeiro, trato todo mundo igual”, afirmou. Para ele, a rotatividade de pessoas pedindo esmolas e sumindo em pouco tempo seria a prova da má intenção.
O comerciante Pedro Miranda vai além. Ele acredita que muitos pedintes da região usam o dinheiro arrecadado para comprar entorpecentes ou gastar com bebidas e outros fins. “Pela dúvida, não ajudo. Também incentivo o pessoal a não ajudar. Até já consegui inimizade com os mendigos e alguns hippies por aqui”, disse.
A funcionária pública Maria Aparecida afirmou que não vê a prática dos estrangeiros de maneira negativa. Mas ela tem ressalvas: “Tem que averiguar a situação primeiro antes de julgar essas pessoas. Se não existe nenhuma má intenção, por que essas pessoas não podem fazê-lo? Agora, se estão fazendo algo errado, o mesmo deve valer para gente daqui. Aí seria preciso tomar a medida correta”, opinou.
SAÚDE PÚBLICA – Segundo o Governo do Estado, os pacientes estrangeiros podem ser atendidos sem qualquer tipo de restrição nas unidades de Saúde da Rede de Atenção Básica, especializada ou de urgência e emergência. Lá serão solicitados documentos de identificação, como carteira de identidade ou algum documento com foto e comprovante de residência para a adoção do registro de atendimento. No entanto, mesmo sem os documentos, o paciente não deixará de ser atendido, segundo o governo.
Conforme as normas da Constituição Federal e as diretrizes da Lei 8080/90 – que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços – a saúde é um direito universal. “Ou seja: qualquer pessoa que esteja em solo brasileiro, tem direito e acesso aos serviços de saúde, independente de etnia, raça, cor, sexo, idade ou nacionalidade”, destacou.