Durante a visita realizada pelo Ministro da Justiça, Torquato Jardim, ao Município de Pacaraima, na manhã de ontem, 19, a população do município, com apoio da prefeitura local, interditou o quilômetro 719 da BR-174, dentro do perímetro urbano, próximo ao prédio da Polícia Federal na cidade.
O motivo do ato foi mostrar ao ministro a atual situação que Pacaraima está passando com a crise migratória venezuelana, que afeta os serviços de saúde e a segurança pública oferecidos à população. Segundo os organizadores do movimento, o bloqueio contou com a participação de cerca de 180 pessoas e ocorreu das 8h às 13h30. A Polícia Rodoviária Federal comunicou que a negociação junto aos protestantes foi pacífica e houve uma liberação parcial da via de 20 em 20 minutos até a conclusão da manifestação.
De acordo com o líder do movimento Juventude em Ação, Wilha Pacaraima, o ministro observou algumas das demandas demonstradas nos cartazes, mas não conversou com os manifestantes. “O ministro veio, mas não saiu do veículo em que estava. Ele deu uma volta pela cidade, viu que a cada esquina existem pelo menos seis venezuelanos e leu os cartazes no nosso bloqueio. Pelo menos conseguimos passar nossa mensagem para ele”, afirmou.
Wilha citou que não há mais remédios dos Governos Federal e Estadual no município, o que reforça ainda mais a demanda por atendimentos na esfera municipal perante uma população que dobrou nos últimos anos. “Os postos de saúde estão superlotados. Não há mais remédios do Governo Estadual, e muito menos Federal. Por isso, o que resta é a unidade de saúde municipal, que, pelo o que funcionários de lá me contaram, está prestando uma média de 128 atendimentos por dia. Ninguém sabe até quando aquela unidade vai aguentar”, contou.
Em relação à segurança pública, Wilha Pacaraima destacou que a população atualmente está com medo de sair de casa, ao ponto de ser mais comum ver venezuelanos do que brasileiros nas ruas da cidade. “Nas ruas, você não vê mais brasileiros com frequência, pois boa parte fica trancada em casa, principalmente durante a noite. Só há venezuelanos, independente do horário, e não há como saber qual a intenção de cada um deles. Em algumas comunidades indígenas próximas da cidade, imigrantes já estão sendo expulsos”, frisou.
Quem também relata as dificuldades ocasionadas pelo sentimento de insegurança é o presidente da Associação dos Comerciantes de Pacaraima, João Kleber, outra liderança que esteve presente no bloqueio. “Na madrugada desta quinta-feira, dois carros foram furtados. E isso foi perto da minha loja. Uma senhora foi assaltada durante a manifestação, no Centro da cidade. Essas coisas dão medo! Todos os comerciantes ficam apreensivos, pois a qualquer momento um deles acaba passando por um assalto”, explicou.
No dia anterior ao bloqueio, uma audiência pública foi convocada pela Prefeitura e pela Câmara de Vereadores de Pacaraima, na qual houve a participação de cerca de 380 pessoas. “Essa audiência foi uma convocação de emergência. Nós já estávamos articulando uma forma de bloquear a BR para chamar atenção do Governo Federal. E vimos na visita do ministro, a oportunidade de fazermos isso, mesmo que com tudo em cima da hora”, comentou o presidente da Associação de Comerciantes. (P.B)
Operação Acolhida não cumpriu sua função, critica prefeito
Através de nota, a Prefeitura de Pacaraima informou que o Ministro da Justiça, Torquato Jardim, irá mandar as demandas ressaltadas pelos manifestantes a Brasília. “Junto ao prefeito, o ministro informou que iria levar à Brasília nossas reivindicações, mas adiantou que muitas das que foram citadas no encontro eles já estão cientes. Ainda segundo o ministro, ele se comprometeu em enviar um relatório para o prefeito Juliano Torquato, de todas as verbas já liberadas a Roraima, inclusive ao Município de Pacaraima”, informou.
Segundo o prefeito de Pacaraima, Juliano Torquato, a população como um todo está insatisfeita com o resultado da Operação Acolhida, que não cumpriu a sua função de desafogar as demandas ligadas à migração em massa. “Esperávamos que a Operação Acolhida, que está ocorrendo há quatro meses, fosse desafogar o município. Entretanto, não é o que está ocorrendo. Vemos que houve uma intensificação dela em Boa Vista, coisa que não esperávamos, uma vez que a Capital conta com um porte bem melhor que o nosso para essa situação”, afirmou.
Sobre a conversa com o ministro, o prefeito frisou que parte das demandas já era de conhecimento por parte da esfera federal. Entretanto, a proporção do problema ainda precisava ser demonstrada. “O ministro ouviu as nossas demandas com atenção junto a comissão de moradores e lideranças indígenas. Estamos insatisfeitos com a atuação do Governo Federal, pois ele prometeu tirar os imigrantes das ruas e de fato ‘acolher’ toda a demanda de refugiados. Ele vai repassar para os outros ministérios, incluindo a Casa Civil, e estaremos aguardando o retorno deles de Brasília”, concluiu.
PM aponta envolvimento de faccionados em crimes
À Folha, o coronel da Polícia Militar, Lindolfo Bessa, afirmou que devido ao crescimento exponencial de imigrantes no local, com muitos sem nada a perder, a prática de pequenos furtos no município, por eles, já está escalando para assaltos que levam a óbitos, com envolvimento de facção criminosa.
“Muitas dessas pessoas que vem para cá não possuem nada a perder e, por causa disso, acabam sendo inclinadas a praticar crimes e, como já observamos em Pacaraima, ingressar em facção criminosa. No princípio, pequenos furtos em comércios eram bem comuns. Atualmente, crimes já estão levando a óbitos. E estamos tentando acompanhar o ritmo do crescimento da violência por lá na medida do possível, com ajuda do Exército e da Força Nacional”, disse.
SESAU – A Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou que está empenhada em buscar meios de manter o abastecimento de materiais e medicamentos no Hospital Délio de Oliveira Tupinambá. De acordo com a Sesau, a unidade de saúde realizou mais de 2.700 atendimentos a venezuelanos somente nos três primeiros meses de 2018.
Apesar disso, ressaltou a falta apoio do Governo Federal em relação a recursos necessários para que essas unidades possam comportar todo o público que procura atendimento, uma vez que independente de nacionalidade, nenhuma pessoa deixa de ser atendida, conforme é preconizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). (P.B)