Cotidiano

Postos de combustível começam a reduzir o preço do diesel na bomba

Estabelecimentos que ainda têm diesel com o valor antigo estão preocupados em não conseguir vender o estoque

Em Boa Vista, ainda são poucos os postos de combustível que já reduziram R$ 0,46 no preço do diesel. Isso se deve ao fato de que os primeiros a receberem o diesel com o preço reduzido, na tarde de ontem, 4, são aqueles que já estavam aguardando pelo novo valor, e escolheram esperar por ele em vez de comprar estoque de forma antecipada.

Entretanto, muitos continuam com o mesmo preço, por não terem conseguido acabar com o antigo estoque antes de o novo chegar. Este é o caso de um posto de combustível localizado no bairro Cambará, no qual o diesel comum está sendo vendido a R$ 3,79 e o diesel S-10 a R$ 3,86. Segundo o gerente administrativo Horson Cavalcante, houve uma redução de R$ 0,20 na semana passada, por parte da própria administração, para que o preço do combustível se torne mais viável.

“Compramos um estoque de 5 mil litros de diesel um dia antes do [presidente Michel] Temer anunciar o congelamento no preço. Agora, após a paralisação dos caminhoneiros, a busca por combustíveis em geral está bem menor, pois todos correram para os postos e tá todo mundo de tanque cheio. Por isso a redução”, explicou.

Entretanto, com o diesel mais barato, não seria mais possível bancar uma nova diminuição com o antigo estoque. “Como agora haverá postos com diesel mais barato, ficará difícil vender esse que nós temos. Ficamos na expectativa que até sexta-feira talvez consigamos. Mas para os próximos dias não teremos condições”, comentou.

Em outro posto, no bairro Cinturão Verde, o diesel comum estava sendo vendido a R$ 3,97 e o S-10, a R$ 4,05. Segundo o gerente administrativo do posto, Jaques Faccio, existe a previsão de uma diminuição de R$ 0,35 para hoje, 5. “Iremos reduzir esse valor, pois quando compramos esse estoque que temos, o litro do combustível estava R$ 0,36 mais barato do que aquele antes da redução dos R$ 0,46. Se realizarmos a redução do valor exigido, ficaremos no prejuízo e daí seria melhor pararmos de vender diesel. É como se o Governo Federal empurrasse todo o custo da greve para cima de nós”, analisou.

Ele também relatou que o Governo Federal está desnorteando os donos de combustíveis, devido à política de alteração diária de preços e a quantia de impostos que inviabiliza um lucro significativo. “Nós somos tratados como vilões, quando na verdade somos os primeiros a pagar caro pelos efeitos da greve. O que a população não compreende é que o preço que chega até nós, através da distribuidora, já é taxado com a maior parte dos impostos cobrados, e, por isso, acabamos ganhando muito pouco no final. Só quem é dono de rede que consegue ganhar bem, pelo acúmulo de pequenos lucros em cada posto”, afirmou. (P.B)

Valor caiu de R$ 3,90 para R$ 3,44

Com a chegada dos primeiros estoques de combustível na tarde de ontem, 4, alguns postos já puderem oferecer a redução no preço do diesel. Este é o caso de um posto localizado no bairro Pricumã, que na parte da tarde mudou o preço do litro de diesel S-10 no dinheiro de R$ 3,90 para R$ 3,44. De acordo com o proprietário, Sérgio Lougen, esse e outros postos pertencentes a sua rede já estão com a alteração feita. “Fiquei sabendo que o novo preço estava em vigor nas distribuidoras por volta de meio-dia. Estava no aguardo dessa alteração”, contou.

Segundo a gerente administrativa do posto, Suely Araújo, o impacto da redução é positiva para o posto. Entretanto, com o passar do prazo de congelamento do preço, de 60 dias, ela teme a possibilidade de um disparo no valor do combustível. “Eu acredito que, com o passar dos dois meses, o preço do diesel irá disparar. Pois afinal, de alguma forma ele precisará se estabilizar. O prejuízo será descontado em nós”, disse. (P.B)

Congelamento do diesel terá sérios impactos, diz economista

Segundo o economista Gilberto Hissa, a prática de congelamento de preços pode resultar em sérios prejuízos para a estatal. “No governo Dilma, o preço da gasolina foi bastante controlado. A partir do momento em que a variação de mercado foi impedida, a empresa quebrou. No comando do Pedro Parente na Petrobras, com a permissão da variação de preço, a empresa se recuperou. Entretanto, com um congelamento, estamos diante de uma empresa que irá para o buraco novamente”, afirmou.

Hissa também afirmou que a alternativa saudável para a preservação da empresa seria a redução de impostos em cima do combustível. “O que o brasileiro quer? Menos impostos. O brasileiro quer um estado menor, ter mais dinheiro no bolso. O estado, é claro, não vai querer se tornar pequeno. Para reduzir o imposto, tem que diminuir a participação social do estado”, explicou.

Quanto ao motivo do preço do combustível ter aumentado tanto nos últimos anos, Gilberto Hissa explicou que isso se deve a duas variáveis. A primeira referente à diminuição da oferta do petróleo, devido a problemáticas de países que são grandes portadores da matéria prima, como países do Oriente Médio e a Venezuela. A segunda, é referente à taxa de câmbio, que é ditada pelo valor do dólar.

“Escassez é o que valoriza um produto. Aumenta a demanda. E com isso, é claro que o preço sobe. Existe também o fator da taxa de câmbio. O dólar, em junho do ano passado, estava valendo por volta de R$ 3,20 ou R$ 3,30. Atualmente, ele está entre R$ 3,70 e R$ 3,80. Isso tem impacto, e muito forte”, disse.

O economista ressaltou que não vê um bom futuro para a estatal daqui para a frente, por ter adotado a técnica do congelamento em vez da redução efetiva dos impostos. “Congelamento só dá em água. O estado interferir em preços de produtos dessa forma é perigoso. A empresa já perdeu mais de R$ 130 bilhões em duas semanas. Com a saída de Pedro Parente da estatal, R$ 40 bilhões foram perdidos, e o cenário só irá piorar”, concluiu. (P.B)