LEO DAUBERMANN
Editoria de Cidades
A plantação local de citros está sendo acometida por uma praga quarentenária originária da Índia e que, atualmente, só é encontrada em Roraima. Trata-se de uma ameaça para a citricultura brasileira. O ácaro hindustânico-dos-citros, ou somente ácaro Hindu, é uma praga que deixa as folhas e os frutos pintados com manchas amareladas.
“Na verdade, é um aracnídeo, um ácaro pequenino, da família das aranhas que raspa o tecido, tanto da parte folhear como do fruto. é uma praga que ataca externamente e é uma ameaça para cultivos hospedeiros”, disse o engenheiro agrônomo da Agência de Defesa Agropecuária de Roraima (Aderr) Marcos Prill.
Embora não se tenham estudos quantificando os prejuízos causados pela praga, esta pode afetar significativamente o valor comercial dos frutos para venda in natura e, em altas infestações, pode reduzir a taxa das plantas e, consequentemente, a produção.
O ácaro hindu causa prejuízo no desenvolvimento do fruto, que vai ficar menor e mais duro, com baixo valor comercial, mas não causa dano à saúde, caso seja consumido. Para comercializar o produto, é necessário passar por um tratamento quarentenário, normatizado pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
“O fruto passa por um processo de lavagem e escovação para voltar a ter uma aparência bonita e depois é aplicada cera de carnaúba e secado. O produto fica brilhoso. É muito comum você chegar ao supermercado e encontrar um limão que reluz. Essa fruta passou por um tratamento para poder ser comercializada sem causar nenhum dano à saúde”, ressalta o engenheiro agrônomo.
DA ÍNDIA PARA RORAIMA, PASSANDO PELA VENEZUELA – Para Elisângela Fidelis, entomologista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária em Roraima (Embrapa), o ácaro hindu foi descrito a partir de espécimes coletados em citros na Índia em 1924 e desde então não havia sido reportado como praga.
No entanto, este ácaro foi encontrado infestando severamente plantas de citros no noroeste da Venezuela, em 2002. Em 2008, foi detectado no município de Boa Vista, em Roraima, possivelmente por meio de material vegetal infestado proveniente da Venezuela. Até 2010, esse ácaro havia sido encontrado somente nos municípios de Cantá, Bonfim e na capital. Porém, em levantamento realizado em 2015, verificou-se que esta praga já está amplamente distribuída no Estado, exceto nos municípios de Uiramutã e Caroebe.
CONTROLE – De acordo com a pesquisadora da Embrapa, em Roraima, os danos causados pelo ácaro hindu em plantações de limão e laranja são severos nos períodos secos do ano, de outubro a março, quando alguns produtos chegam a ser totalmente perdidos e não existem acaricidas registrados para o controle da praga.
Ainda de acordo com Elisângela, a Embrapa desenvolve um trabalho de pesquisa e já se chegou a um método que faz eliminar desde os ovos até a fase adulta do ácaro.
“Hoje, a gente tem um trabalho de levantamento de controle biológico e de estudo para saber se esse ácaro vai se estabelecer nas principais áreas produtoras de citros no Brasil”, disse.
Para a pesquisadora, é preciso alertar as regiões produtoras de citros no País, para que o ácaro, caso ultrapasse as fronteiras de Roraima, não cause um problema tão grande quanto aqui no Estado.
“Estados produtores de citros, como São Paulo e Pará, já estão preocupados com essa praga. Aqui em Roraima, o caso é sério. Pequenos produtores que utilizam pouca tecnologia de manejo chegam a perder toda a produção de limão e laranja. Ainda não existem no mercado produtos para o controle desse ácaro”, ressalta.
TRATAMENTO PARA COMERCIALIZAÇÃO – A partir de resultados de estudos conduzidos pela Embrapa Roraima em parceria com o Instituto Biológico de Campinas, foi proposto um método de tratamento quarentenário em frutos pós-colheita que garantisse a remoção do ácaro em frutos para comercialização em outras regiões sem a presença da praga.
“O tratamento consta de imersão de frutos em solução de hipoclorito de sódio a 200 ppm por 10 minutos, seguida de lavagem com solução de detergente neutro, escovação, secagem e aplicação de cera”, explica Elisângela Fidelis.
O método, de acordo com a pesquisadora, é exigido pelo Ministério da Agricultura, por meio da Instrução Normativa (IN) Nº 08 de 2012, que estabelece normas de controle do trânsito e comercialização de frutas cítricas de Roraima para outros Estados brasileiros.