Cotidiano

Preço do trigo aumenta e pode refletir no valor do pão

Mercado brasileiro tem sofrido consequências com a instabilidade do preço do dólar americano e causa possibilidade de reajuste em produtos

A oscilação no valor do dólar americano nos últimos tempos tem causado alguns impactos na economia brasileira. No patamar dos R$ 4,08, produtos que utilizam insumos internacionais já apresentam aumento nos preços por conta da desvalorização do real à frente da moeda americana. O pão, mercadoria comum na mesa do consumidor, pode ser um desses produtos que terá reajuste no preço até o final de outubro.

O trigo teve aumento expressivo nas últimas semanas, que está sendo sentido pelos supermercados e padarias, que já avaliam a possibilidade de aumentar o preço do quilo do pão, tanto de massa grossa e fina. No mês passado, a saca de 50 quilos era vendida a R$ 115 em algumas distribuidoras. Hoje, o valor chega a R$ 139 em alguns pontos. Sobre o preço das sacas de trigo, as sacas de 10 quilos, sem fermento estão sendo vendidas por R$ 28,90 e as com fermento, por R$ 29,90.

Segundo o distribuidor e gerente de uma padaria no bairro São Vicente, Wilkerson Vieira, em setembro deve aumentar, pelo menos, R$ 5 a saca, mas que até o momento não terá reflexo no preço do pão vendido. “Tem aumentado bastante, antes estávamos vendo trigo a R$ 105 e agora está em R$ 130. Estamos sentindo diretamente esse aumento no dólar e não tem previsão de diminuir por enquanto”, completou.  

Em uma pesquisa feita pela reportagem da Folha em alguns pontos da cidade, a média do preço do pão de massa grossa é entre R$ 6 a R$ 7 o quilo. O pão de massa fina geralmente é vendido a R$ 1 a mais ou o mesmo preço em algumas padarias.

Para a gerente de compras de um supermercado, Aline Silva, o aumento no preço do pão é uma realidade e deve continuar durante esse período de instabilidade. “[O valor da] saca pequena aumentou muito, então preferimos comprar da grande mesmo. Geralmente fazíamos ofertas de vender os pães por R$ 4,99 o quilo, mas com esse aumento no trigo, voltamos a aplicar o valor normal dele, de R$ 6”, disse.

No entanto, para alguns comerciantes, a possibilidade de aumentar o preço do pão é quase impensável porque acreditam que a prática iria afastar a clientela. É o que acredita a gerente de uma padaria no bairro Centenário, Edileuza Siqueira, que já sentiu a queda no número de clientes nos últimos tempos.

“Confesso que não sei o que fazer. Se aumentar, as pessoas não passam mais aqui, mas está difícil arcar com o preço do trigo dessa forma, ainda mais que estão aumentando muito rápido. Fico na dúvida porque vai que eu aumento o preço e o outro comerciante não aumenta, como que eu fico?”, questionou.

De acordo com o representante do Sindicato da Indústria de Panificação (Sindipan), Aldemar Carvalho, a disputa comercial ajuda na estabilidade dos preços aplicados nas padarias roraimenses, o que traria tranquilidade para o consumidor, porém, é necessário analisar o mercado para saber se realmente terá aumento nos preços.

“Vamos esperar ainda para ver como vai ser o comportamento do dólar daqui para frente, mas se continuar dessa forma vai refletir e muito no preço do pão e do trigo. Não só o trigo, mas vários outros produtos vão ter aumento”, finalizou. (A.P.L)

Eleições brasileiras influenciam na instabilidade do dólar

Conforme o economista Fábio Martinez, o dólar americano tem sofrido oscilação no mercado brasileiro desde a divulgação da primeira pesquisa IBOPE dos candidatos presidenciáveis. “Em todo período político, se olharmos as eleições anteriores, tem essa instabilidade, então é corriqueiro esse aumento no dólar. Além disso, nos Estados Unidos, eles estão em briga comercial com a China e isso acaba deixando o mercado internacional mais aflito”, ressaltou.

O economista prosseguiu informando que, dentro desse cenário os norte-americanos passam então a buscar segurança em títulos nacionais ou na própria moeda. Isso resulta em uma escassez do dólar americano e menos investimento em países emergentes, como o Brasil. “É ruim não só para quem importa mercadorias, como trigo, que maior parte vem de fora, e como é cotado em dólar, o preço acaba ficando mais caro. Então o preço do pão também vai aumentar”, afirmou.

Além do preço do trigo, Martinez garantiu que o preço do combustível deve aumentar consequentemente nesse novo cenário de instabilidade. “Esse aumento na taxa de câmbio vai oscilar até o final do período eleitoral. Depois de decidido quem vai governar o país nos próximos quatro anos, a gente vai ter uma certa estabilidade e vamos conseguir planejar melhor”, disse. Fábio Martinez não descartou também a possibilidade de, dependendo do resultado das eleições, o preço do dólar aumentar ainda mais. (A.P.L)