Cotidiano

Prefeito de Gran Sabana confirma liberação de presos

Emílio González fugiu de Santa Elena até Boa Vista durante a madrugada, após ser perseguido por guardas do regime bolivariano da Venezuela

Uma dos rumores de que presos venezuelanos foram liberados para atuar em apoio ao governo de Nicolás Maduro foi confirmado ontem, 26, pelo prefeito de Gran Sabana, Emilio González. Ele, que afirma estar sendo perseguido e corre risco de morte, fugiu de Santa Elena de Uairén até Boa Vista durante a madrugada.

As informações foram dadas pelo prefeito durante sessão na Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR). O plenário também contou com a participação do prefeito de Pacaraima, Juliano Torquato, e o presidente da Câmara de Vereadores de Pacaraima, Emmanuel Coelho.

Emilio González falou sobre a divulgação de um vídeo em que supostamente presidiários venezuelanos, vestidos de amarelo, estão sendo convocados para atuar em apoio ao regime de Nicolás Maduro.

Um homem ainda não identificado fala aos detentos e clama pela atuação em “defesa da pátria sagrada” e para defender o governo do ex-presidente Hugo Chávez. “Nesse momento que a pátria nos chama, temos que estar juntos e defender o que tanto lutou o povo venezuelano.”

O prefeito de Gran Sabana foi sucinto, mas confirmou a situação. “É correto. Temos a informação já confirmada. De que muitos deles [detentos] subiram para Santa Elena de Uairén e parte deles está perseguindo a população”, relatou.

Um dos perseguidos, inclusive, é o próprio prefeito, o que teria motivado sua vinda para o Brasil.

“Agora estou aqui, tive que sair, para acalmar um pouco a situação lá. Estavam buscando em todas as casas para assassinar-me. Deixei um encarregado para continuar o funcionamento das atividades na área. Não há previsão de retorno”, disse.

González completou que enfrenta um problema de saúde, mas preferiu não dar detalhes das suas condições.

“Estou ruim de saúde e me tratarei aqui. Minha família também está em perigo”, acrescentou.

Aumenta número de guardas desertores

Outra informação repassada pelo prefeito Emílio González é de que aumentou o número de guardas desertores bolivarianos, que abandonaram seus postos na Venezuela e seguiram até Roraima. Já são 11 estão no Brasil, amparados pelo Exército.

O prefeito disse ainda que a administração obteve a informação de que 60 militares da Guarda Nacional Bolivariana estariam enclausurados por descumprirem ordens e não utilizarem o armamento contra o povo.

Ele informou também que não tem atualização do número de mortos e feridos nos conflitos. A última informação, passada justamente pelo próprio González, é de que havia 25 mortos e 84 feridos nos ataques feitos pela Guarda Nacional Bolivariana.

Para González, todas as recentes ações demonstram os crimes contra a humanidade cometidos por Maduro e que precisam de uma resposta das organizações de Direitos Humanos. Para ele, é preciso atuar o quanto antes para impedir mais tragédias.

“É uma situação muito crítica. O regime de Maduro está praticamente matando o povo. Esta semana foi trágica para nós. Neste momento, temos muitas pessoas desaparecidas. Ainda esperamos contabilizar quantos mortos e quantos feridos são. Temos muitas pessoas passando por um momento difícil”, destaca. “O governo de Maduro tem tentado de todas as formas ocultar as informações e os crimes contra a humanidade”, completou o prefeito de Gran Sabana.

Prefeito de Pacaraima volta a cobrar por combustível

O prefeito de Pacaraima, Juliano Torquato, ressaltou mais uma vez que a principal dificuldade no município continua sendo conseguir combustível, já que o posto está fechado há mais de quatro dias.

O parlamentar afirma que ainda está tentando instaurar um posto móvel para atender a população, mas pediu ajuda às autoridades competentes para auxiliar no problema.

Outro ponto, conforme Torquato, é o medo de um conflito maior na fronteira em Santa Elena e dos impactos que isso pode causar em Pacaraima. “Sábado, tivemos uma dificuldade muito grande no Hospital Délio Tupinambá, com fluxo intenso de feridos, mas conseguimos contornar. E agora, o conflito pode ser maior.”

Aos deputados da Assembleia Legislativa, o prefeito pediu por um olhar maior para a população pacaraimense. Ele explica que há um ano e meio os venezuelanos têm recebido atendimento através da Operação Acolhida, mas pouco se faz para os moradores roraimenses.

“Nós sabemos que tem uma estrutura para atender os migrantes em trânsito, é louvável acontecer, mas a situação no Estado e no município de Pacaraima, principalmente, não está dando mais para suportar. Estamos em um momento complicado para fazer o trabalho que a população espera”, relatou.

O prefeito informou que a travessia das ambulâncias foi complicada e que houve indícios de que outros veículos foram interceptados no caminho, porém, relatou que não há dados fechados sobre o assunto. “Algumas foram liberadas, mas há indícios de que outras foram apedrejadas e até quebradas por eles, mas ainda estamos esperando informações mais completas”, relatou.

A deputada Ione Pedroso, presidente da Comissão de Assuntos Fronteiriços na Assembleia, ressaltou que o Poder Legislativo vai atuar para cobrar um posicionamento do Ministério de Relações Exteriores para auxiliar não só os venezuelanos, mas também os brasileiros que se encontram fazendo turismo ou que residem além de Santa Elena.

“Com o agravamento dos conflitos, o governo federal precisa fortalecer a sua atenção ao povo de Roraima, pois o Estado absorve, sofre e pede com urgência para que olhe com uma maior atenção. Comprometo-me a acompanhar de perto toda essa situação difícil, assim como cobrar de maneira incisiva junto ao governo do Estado e a governo federal”. (P.C.)