Cotidiano

Presença do transmissor da doença de Chagas preocupa autoridades e população

Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz aponta que esta é a primeira vez que um Estado brasileiro tem registro do inseto em residências urbanas

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) anunciou que 127 insetos triatomíneos, conhecidos como “barbeiros”, foram encontrados dentro de um tijolo em um nicho de ar-condicionado em um ambiente residencial de Boa Vista. Este é o primeiro relato de colonização domiciliar por insetos da espécie T. maculata, no Brasil. O fato tem preocupado os moradores da Capital, já que o inseto é transmissor da doença de Chagas.

“Na minha casa já vi vários barbeiros. Nos últimos três meses, nós encontramos uns quatro, um deles estava no sofá”, disse o professor Carlos Alberto, morador da rua Pau Rainha, no bairro Paraviana, zona Leste. A esposa dele, Giane Helena, disse que já ouviu relatos da presença do inseto em outra região. “Uma amiga, que mora em um condomínio no Caçari, disse que lá havia muito desses insetos em seu apartamento. Há cerca de cinco anos fui picada por um deles aqui, em casa, uma das piores dores da minha vida, mas não fui infectada”, comentou.

Segundo o artigo divulgado pela Fiocruz, os insetos são detectados geralmente em ninhos de aves, principalmente pombos, galinheiros, chiqueiros e currais. Pesquisas sobre o inseto ressaltam que nem todo barbeiro está infectado e, dessa forma, nem todos transmitem a doença.

No local onde os insetos foram encontrados, não divulgado no artigo, havia presença de pombos. Então, os pesquisadores acreditam que os insetos tenham sido levados pelo animal até as residências. “O fato de que os insetos podem viver em nichos externos em paredes da habitação humana é um fato novo no estudo da doença nas Américas, que não deve ser negligenciado”, ressaltam os autores da pesquisa.

Os cientistas avaliam que a capacidade de colonizar imóveis pode aumentar o risco de transmissão da doença de Chagas no ambiente urbano. “A possibilidade de expansão da distribuição geográfica por meio de transporte passivo por pombos e de encontrar animais infectados, além da colonização da habitação humana são importantes fatores de risco para a transmissão urbana que deve ser abordado com o devido cuidado e urgência”, afirmaram.

O estudo diz que a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) se responsabilizou pelos procedimentos de desinfestação. No entanto, em nota, a instituição informou para a Folha que não foi comunicada sobre os mais de 100 barbeiros e que não tem como se comprometer em realizar a desinfestação. “A execução das ações relacionadas ao controle de vetores dentro da Capital é de competência e responsabilidade do município. Mas o Estado pode intervir na execução das ações por solicitação da gestão municipal”, diz a nota.

PREFEITURA – A Folha tentou entrar em contato com a Prefeitura de Boa Vista, mas devido ao horário, depois das 18h, não obteve respostas.

SINTOMAS – A pessoa contaminada pode permanecer muitos anos ou mesmo o resto da vida sem sintomas, aparecendo que está contaminada apenas em testes de laboratório.

Pesquisas mostram que após um período ocorre febre, ínguas por todo o corpo, inchaço do fígado e do baço e uma vermelhidão no corpo semelhante a uma alergia, que dura pouco tempo. Nesta fase, nos casos mais graves, pode ocorrer inflamação do coração com alterações do eletrocardiograma e número de batimentos por minuto aumentado.

Na fase crônica da doença, as manifestações são de doença do músculo do coração, perda da capacidade de bombeamento do coração, progressivamente, até causar desmaios, podendo evoluir para arritmias cardíacas fatais. Outras manifestações desta fase podem ser o aumento do esôfago e do intestino grosso, causando dificuldades de deglutição, engasgos, pneumonias e dor abdominal.

Em 2015, Roraima teve um caso da doença de Chagas

A gerente do Núcleo Estadual de Entomologia (NEE), Nathália Vargas de Almeida, disse que a presença de barbeiros no Estado é conhecida desde 2005. Segundo a Secretaria Estadual da Saúde (Sesau), até o momento, Roraima apresentou apenas um caso da doença, que foi registrado em 2015.

“Por isso, o Núcleo tem intensificado as buscas aos vetores em todos os municípios”, ressaltou Nathália. Segundo ela, em 2016, todos os 15 municípios de Roraima e os Distritos Sanitários Especiais (Dsei) Yanomami e Leste tiveram técnicos de entomologia capacitados para realizarem a captura e o monitoramento das populações locais de triatomíneos.

“O Núcleo possui três técnicos capacitados pelo Ministério da Saúde (MS) para examinar os barbeiros e verificar se os mesmos estão infectados com o protozoário Trypanosoma cruzi, responsável pela transmissão da doença de Chagas”, comentou.

ORIENTAÇÃO – O NEE orienta a população para que quando encontrar um inseto suspeito deve-se: recolher o material, sem colocar diretamente a mão, armazená-lo em algum recipiente e encaminhá-lo ao Núcleo, na Rua doutor Arnaldo Brandão, 826, bairro São Francisco, na esquina com a Avenida Capitão Júlio Bezerra.

Em caso de dúvidas, os cidadãos podem entrar em contato pelo telefone 3623-2757. Os técnicos são responsáveis por fazer um laudo e, posteriormente, informar se o inseto está infectado ou não. (B.B)