“Para onde vamos?” “Boa Vista!”. Durante cinco anos, este foi o trecho escolhido por um casal de professores que mora em Manaus. O motivo da escolha? A tranquilidade e civilidade que a cidade transmitia. É. Após a última viagem do casal para a capital, no ano passado, um acontecimento mudou tudo. Ao caminhar próximo a um semáforo da capital, os professores sentiram um clima de hostilidade ao serem confundidos com venezuelanos.
No relato da professora, que preferiu não ser identificada, o condutor chegou a fechar os vidros do carro quando avistou o casal. “Conto isso porque outros amigos que gostam de Boa Vista passaram por coisas parecidas. Parece que só se acalmam quando se fala português. É uma triste situação. Desde então, deixamos de ir, preferindo a região metropolitana de Manaus”, disse.
O diretor do Departamento de Turismo (Detur) da Secretaria estadual de Planejamento, Ricardo Peixoto, avaliou que foi possível sentir uma diferença em relação ao fluxo de turistas em razão do volume crescente e da falta de providências do Governo Federal em relação aos imigrantes. Atualmente, no entanto, ele considera o cenário de turismo de Roraima dinâmico por se reinventar. “O que era problema, às vezes se transforma em oportunidade”, contou.
A prova disso é o cenário que o Estado vive hoje. Peixoto afirmou que, ainda que por uma questão de curiosidade, para ver o que está acontecendo em relação à imigração, houve um aumento na procura de visitantes. Devido o crescimento, o Detur começou a investir no turismo de aventura, como viagens ao Monte Roraima, e o turismo de compras nas fronteiras, principalmente em Lethem, na República Cooperativista da Guiana.
“Já começamos a sentir o aumento do fluxo de turismo para Roraima. A percepção da leitora não deixa de estar verdadeira, nós percebemos esse momento”, explicou. Para ele, o comportamento da população foi reflexo da falta de ação imediata dos órgãos competentes, apesar de já considerar a situação dentro da normalidade, bem como a presença de turistas no Estado.
PASSAGENS – O fenômeno de imigração no Estado não chegou a afetar o setor de transportes, tanto terrestre, como aéreo. Em contato com algumas empresas de ônibus, a equipe da Folha foi informada que a demanda se manteve estável, principalmente em feriados e datas comemorativas. No entanto, não é possível quantificar os passageiros que fazem a rota Manaus – Boa Vista apenas com o intuito do turismo. As companhias aéreas presentes no Estado, por sua vez, apontaram que as informações não poderiam ser repassadas por questões estratégias.
HOTÉIS – Na maioria dos hotéis da capital, a resposta é a mesma: “A crise chegou aqui também”. A baixa procura não é atribuída à imigração, mas sim ao cenário econômico dos últimos dois anos. Em um dos hotéis, a atendente comentou que foi preciso apostar em descontos maiores para atrair clientes. “Atualmente, a maioria dos clientes vêm a trabalho. Quando são turistas, eles já têm algo planejado”, relatou. (A.G.G)