Diante do anúncio de transferência do Colégio Militar Coronel PM Derly Luiz Vieira Borges, localizado no bairro Canarinho, zona leste da Capital, para a Escola Estadual Hildebrando Ferro Bittencourt, localizada no bairro dos Estados, zona norte, os professores da Escola Hildebrando ficaram apreensivos e disseram que a implantação do ensino militar naquela unidade causará a extinção de um patrimônio de mais de 30 anos. Na sexta-feira passada, os alunos do Colégio Militar se manifestaram contra a transferência.
A professora especialista em Gestão de Sistema Educacional, Simone Pinheiro, disse que os servidores da escola foram pegos de surpresa pelo Departamento de Educação Básica (Deb) da Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed). Sem conseguir reagir no começo, ela explicou que os professores só passaram a perceber que a escola se tornou patrimônio histórico do bairro após o anúncio feito pelo governo.
Para Simone, a educação pública no Estado não é tida como prioridade dentro de um contexto pedagógico e social. “Disseram que deveríamos analisar a proposta pelo olhar técnico, e não pelo sentimental e saudosista. É uma amplitude devastadora e desesperadora, além de triste”, lamentou. Ela destacou que a mudança seria um desrespeito aos profissionais e com todos os que fazem parte da comunidade acadêmica.
Uma das preocupações dos servidores da escola é saber o que vai acontecer com os profissionais e alunos, mesmo que, por um lado, já seja de conhecimento. Uma vez que a entidade militar seja transferida, Simone explicou que os profissionais que não se enquadrarem dentro do sistema devem ser devolvidos e os alunos absolvidos. No entanto, a principal queixa dos professores é o tratamento aos alunos Portadores de Necessidades Especiais (PNE).
A Escola Hildebrando possui 15 alunos PNE. A professora destacou que, no estatuto da Escola Militar, não constam alunos PNE. “Como esses alunos vão conseguir se adequar a um sistema que não comporta a necessidade deles? Não queremos a Escola Militar na Hildebrando, queremos que eles consigam outro prédio e deixem a escola como patrimônio. A gente vê essa questão como poder de opressão”, frisou.
SEM APOIO – O professor Nilton Raposo destacou que a escola nunca teve apoio do poder público, em governos antigos, quando foram gastos mais de R$ 1 milhão em reformas e a instituição só recebeu “maquiagem”, tendo em vista que as goteiras e outros problemas estruturais continuam. Durante o período de inverno rigoroso deste ano, o ensino foi comprometido em razão da estrutura precária, segundo ele. Os alunos chegaram a postar vídeos em redes sociais como forma de denúncia.
Por também lecionar na Escola Estadual Presidente Costa e Silva, localizada no bairro São Francisco, zona norte, Raposa relatou que a realidade é a mesma. “Eu fico triste em ver colegas do Colégio Militar que dizem que nossa escola não tem estrutura. A própria Seed disse que vai haver reforma. Então, por que não fizeram antes? Particularmente, acabar com a história de uma escola de mais de três décadas é lamentável”, disse.
SEED – A Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed) explicou que o Colégio Militar vem, a cada ano, aumentando o número de matrículas, de forma que não tem mais espaço na Academia de Polícia Integrada (API). Por sua vez, a Escola Estadual Hildebrando Bittencourt tem 208 alunos matriculados, funcionando apenas no turno matutino, embora tenha capacidade física para 525 alunos por turno.
Diante da situação, a Seed apontou que o Colégio Militar, ocupando a estrutura física da Escola Hildebrando, vai resolver em definitivo o problema da falta de espaço físico. Além disso, informou que no final do ano letivo de 2017, a Hildebrando tem previsão de ficar com 180 alunos que serão consultados e que, se quiserem estudar na Escola Militar, serão absorvidos. A pasta não falou sobre os que não quiserem.
Frisou que o corpo técnico da Escola Hildebrando também será consultado sobre a permanência ou não na Escola Derly. Caso os profissionais escolham sair, serão remanejados para outras unidades educacionais. Ressaltou ainda que a escola não será reformada para o Colégio Militar. “Serão feitos pequenos reparos na estrutura. Esses serviços, inclusive, serão realizados pela equipe da Polícia Militar. A Seed fornecerá apenas o material”, comentou. (A.G.G)