Cotidiano

Professores e alunos temem fim de escola

Comunidade escolar acredita que escola esteja sendo sucateada para que o governo justifique sua extinção no recesso do meio do ano

Um grupo de professores e alunos da Escola Estadual Ayrton Senna, localizada no Centro, denunciam as condições estruturais e de pessoal daquela instituição de ensino. Os alunos avaliam que a merenda é de péssima qualidade, não há limpeza nas salas e faltam funcionários para os serviços gerais. Segundo os professores, o objetivo do Estado seria extinguir a unidade escolar e transformar o prédio em uma secretaria do governo.

Conforme os alunos e professores, uma reunião com o secretário adjunto de Educação foi marcada no Palácio do Governo, na manhã de ontem, para que fossem discutidas as reivindicações do grupo, que não recebeu nenhuma resposta satisfatória diante dos questionamentos. “O que nós percebemos é que há mesmo um interesse de extinguir a Escola Ayrton Senna, que tem 20 anos de história. Descobrimos que não são boatos, que tudo tem fundamento porque eles não enviam os materiais de limpeza e manutenção do prédio, não há funcionários de apoio. Estamos trabalhando com a escola em péssimo estado de conservação e nem sequer falam de reforma”, argumentou uma professora que não quis se identificar.

O que os alunos cobram é a chance de concluir o ensino médio sem conviver diariamente com a possibilidade de serem remanejados para outras escolas. “Nós gostamos do Senna, eu estudo lá desde o primeiro ano. Precisamos ter condições básicas para estudar. Algumas salas não têm climatização. Compramos duas centrais de ar e o governo não quer fazer a instalação. Não vamos deixar que tomem a escola, porque isso é uma falta de respeito”, destacou um dos alunos.

Uma professora afirmou que durante os dez anos em que trabalha na escola, nunca havia testemunhado tanta “injustiça e descaso”. “Juntando o quebra-cabeça, a gente descobre que eles são mal intencionados. Até sugerimos que providenciassem um lugar para que os alunos estudem enquanto a escola fosse reformada, mas não querem. Não vamos deixar que, assim como outras escolas foram extintas, o Senna seja”, acrescentou.

Os alunos ressaltaram que há desperdício de mantimentos na cozinha, especialmente de vegetais, porque a única cozinheira não consegue descascar e preparar um saco de batata para mais de 600 alunos em uma manhã. Outro fator preocupante para quem trabalha e estuda na instituição é a falta de segurança. “Eu me senti mal quando entrei no Palácio do Governo por ter tantos guardas e policiais. Eu me senti constrangido e envergonhado porque na escola não tem nem um porteiro para controlar entrada e saída de pessoas. Quando pedi um tempo para que eles dessem uma resposta aos nossos pedidos, o secretário disse que eu fui arbitrário, tratou-me com muita grosseria”, frisou um aluno.

O grupo também esclareceu que o governo não consultou a comunidade escolar em nenhum momento, nem mesmo após a manifestação que fizeram recentemente. “Quando fizemos a manifestação e chamamos redes de TV e jornais, o discurso do secretário adjunto era de que a gente seria reconduzido para outro lugar. Mas quando sentamos com ele, hoje, já não garantia nada. Não tenho dúvida de que no nosso recesso eles vão reformar o prédio e transformá-lo na Secretaria Estadual de Educação”, ressaltou um aluno.

A escola de ensino médio tem 1.500 alunos matriculados e distribuídos nos turnos matutino e vespertino, além de oferecer o nível médio técnico para três turmas. “Faz um tempo que assessores do governo e chefe de departamento da Secretaria de Educação vão à escola. Da última vez, até nome de alunos com o contato dos pais para fazer ligações foram exigidos”, disse uma das professoras.

GOVERNO – Durante todo o dia de ontem, a Folha buscou  resposta junto à Secretaria de Comunicação do Governo do Estado sobre os questionamentos dos estudantes e professores da Escola Estadual Ayrton Senna, mas, até o fechamento, desta matéria não houve resposta. (J.B)