Professores contratados para dar aulas de português no projeto “Ven, Tú Puedes!”, da Visão Mundial, vão passar por uma capacitação para evitar casos de xenofobia contra migrantes e refugiados venezuelanos. A série com três vídeos vai abordar temas como migração, refúgio, direitos humanos e cultura indígena.
Desde o ciclo passado do projeto, as empresas contratadas para oferecer os cursos assinavam a política de salvaguarda da Visão Mundial. O documento aborda direitos e deveres de crianças e adolescentes, e outros temas importantes voltados à proteção de quem precisou deixar o país vizinho.
Contudo, a organização observou a necessidade de estender diretamente aos professores a capacitação. Cada vídeo tem em média 30 minutos. Ao término das gravações, eles precisam responder a questões sobre os temas discutidos e assinar o documento de salvaguarda, comprometendo-se a respeitar as políticas da Visão Mundial.
“Grande parte desses professores que vão ter contato em sala de aula com participantes do projeto não tem treinamento prévio ou não conhecem a agenda migratória, já que eles ensinam para os mais variados públicos. Quando a gente fecha uma turma apenas com migrantes e refugiados, precisamos pensar na sala de aula como um espaço seguro”, explica o assessor de proteção do projeto, Rafael Paixão.
Início das aulas
Três turmas de Língua Portuguesa iniciam as aulas nesta segunda-feira (24), no Refúgio 343, em Boa Vista, enquanto as outras seis começam esse processo de aprendizagem no dia 7 de fevereiro. No total, 280 pessoas foram matriculadas. Ajudar a vencer a barreira linguística é uma das ações de maior resultado na Visão Mundial, com mais de mil certificados entregues no ano passado.
Os vídeos do treinamento foram divididos em três momentos: o primeiro aborda a política de salvaguarda da organização; o segundo traz informações sobre direitos humanos; e o terceiro discute assuntos migratórios e contará com a participação da Fraternidade – Federação Humanitária Internacional (FFHI), para introduzir temas relacionados à migração indígena venezuelana.
“Esse conjunto de vídeos serve para que o professor tenha contato com temas que, porventura, não sejam de conhecimento dele. E ao lidar com uma turma exclusiva de migrantes, esperamos que ele tenha esse olhar sensível sobre a crise e ajude a promover um espaço de respeito entre as pessoas”, afirma Paixão.
Combate à xenofobia
Conforme a Lei nº 9.459/97, a pessoa que cometer crimes relacionados à nacionalidade do outro pode ser presa por até três anos. Logo, xenofobia é crime no Brasil. Ela se caracteriza por qualquer ato que despreze, diminua ou ridicularize alguém de nacionalidade diferente.
Dados divulgados pelo Governo Federal em 2016 mostraram que a xenofobia estava em ascensão no Brasil: um crescimento de 633%. Desde então, o Dique 100 recebe constantes denúncias de discriminação. É uma triste realidade que vem sendo combatida pela Visão Mundial nos territórios onde as equipes atuam.
“O objetivo da capacitação é mitigar as diferenças culturais e, claro, a xenofobia, presente em todas as sociedades e que não seria diferente no Brasil. Muitas vezes, o professor chega à sala de aula sem saber que os alunos não são brasileiros, e vão ter a língua e a própria cultura como barreira”, diz a coordenadora do “Ven, Tú Puedes!” em Roraima, Bárbara Gil.