Foi no Município de Caroebe, localizado a cerca de 240 quilômetros da Capital, a Sudeste do Estado, que os profissionais farmacêuticos começaram a ser inseridos nas casas dos moradores, por meio do Programa Saúde da Família. Antes, apenas médicos e enfermeiros eram permitidos a realizar atendimentos nas residências.
A aproximação com a população foi uma das estratégias do Conselho Regional de Farmácia em Roraima (CRF-RR) visando à inclusão dos profissionais para dar orientações sobre medicamentos e sobre a forma correta de utilizá-los, sem que se precise se deslocar até as farmácias e drogarias. A intenção é expandir as ações para outros municípios.
Mas engana-se quem pensa que a profissão de farmacêutico se restringe ao profissional responsável pela distribuição de medicamentos em farmácias e drogarias. São diferentes áreas de atuação, com dez linhas de 134 especialidades. Em Roraima, a aproximação com a população tem feito o setor crescer.
No Dia do Farmacêutico, comemorado nesta sexta-feira, 20, em todo o país, a Folha traz uma reportagem especial sobre a atuação e as conquistas desses profissionais de importância fundamental no cuidado à saúde de toda a população.
Este ano, a campanha nacional de celebração da data traz o slogan “Faz bem contar com um farmacêutico” e destaca as diferentes áreas de atuação. Em Roraima, a Lei Federal nº 13.021/14, prevê que o profissional deve permanecer nas farmácias para atender ao público, assim como ocorre nos demais Estados do País.
Mas, para que o exercício da profissão ocorra conforme determina a lei, é preciso fiscalizar os estabelecimentos, papel desempenhado pelo Conselho Regional de Farmácia em Roraima (CRF). “Desde que surgiu o conselho, em 2010, essa fiscalização vem ocorrendo e aumentando ao longo dos anos. Atuamos em todos os locais onde há profissionais farmacêuticos, farmácias públicas, privadas, laboratórios”, destacou o presidente da entidade, Adonis Motta.
De acordo com o Conselho Regional, o número de fiscalizações nos estabelecimentos saltou de 757, em 2015, para cerca de 1.000, no ano passado. “Na Capital não temos farmácias sem farmacêuticos. Geralmente, quando ocorre a fiscalização, se não houver a presença do farmacêutico, a empresa é notificada e pode gerar multa e os proprietários evitam esse tipo de situação”, disse.
PROFISSIONAIS – Há quatro anos atuando como farmacêutica em uma rede de drogarias da Capital, Silvana Souza disse que a profissão vai muito além da simples tarefa de dispensar remédios. “Também orientamos o paciente sobre a forma correta de tomar o medicamento, porque na receita muitas vezes as pessoas não prestam atenção. Também orientamos sobre o lugar certo para guardar a medicação, além de fazer serviço farmacêutico como aplicação de injetáveis, teste de glicose, aferição de pressão e perfuração de lóbulo”, ressaltou.
Controle de qualidade é fundamental para realização de exames, afirma bioquímica
O farmacêutico atua em diversas áreas, tais como análises clínicas, análise de alimento, farmácia de manipulação, drogarias, indústrias, cosméticos, engenharia de alimentação, vigilância sanitária, farmácia magistral, fitoterapia, hemoterapia, nutrição parenteral, toxicologia, perícia criminal, hospital, além de atuar na gestão e planejamento de laboratórios, entre outros.
Para a farmacêutica bioquímica Jandira Freitas de Morais, proprietária de um dos mais conceituados laboratórios de análises clínicas do Estado, o Hemolab, é preciso confiança e conhecimento técnico para atuar na área. Segundo ela, o controle de qualidade é fundamental para a realização dos exames. “Dentro do laboratório, quando se recebe o material, este passa por processos de controle de qualidade, execução de análise, liberação do laudo e publicação”, explicou.
A profissional destacou que o setor sofre constantes mudanças tecnológicas. “Hoje estamos com uma ferramenta importante, que é o laudo online, em que o cliente tem a possibilidade de retirar seu laudo no conforto do seu lar ou em qualquer parte do mundo. Fazemos dos exames mais simples aos de maior complexidade, como o exame de reconhecimento de paternidade, intolerância alimentar, entre outros. E os que não realizamos aqui buscamos parceria para que os clientes não fiquem desassistidos”, frisou.
Para a farmacêutica bioquímica, a Análises Clínicas é uma área que exige dos responsáveis técnicos muita responsabilidade e ética quando da execução de suas atividades. Segundo ela, para que isso ocorra é necessária a atualização permanente de seus conhecimentos técnicos, bem como em gestão da qualidade.
Curso forma 40 novos profissionais por ano
A formação universitária em farmácia habilita legalmente o profissional farmacêutico nas áreas de análises clínicas, indústria de medicamentos e indústria de alimentos. Em Roraima, a Faculdade Cathedral forma mais de 40 novos profissionais por ano para atuar no mercado de trabalho local.
“O curso oferece aproximadamente mil horas de estágio nas unidades privadas e públicas, municipais e estaduais, instituto de criminalística, posto de saúde do Exército e da Base Aérea de Boa Vista, no Conselho Regional de Farmácia, entre outros”, disse o coordenador, Paulo Tamashiro.
Segundo ele, são várias áreas de atuação. “O farmacêutico hoje pode fazer consulta e prescrever alguns tipos de medicamentos. Pode atuar na estética, na acupuntura, na homeopatia e na fitoterapia. São 78 áreas de atuação regulamentadas que vão da Perícia Criminal à produção de cosméticos, da farmácia hospitalar à produção e controle de qualidade de cerveja e sorvete”, destacou.
“É uma profissão milenar, eclética, com muitos campos de atuação profissional e com demanda reprimida de profissionais no estado de Roraima”, complementou.
Sem piso salarial, mercado em Roraima é restrito, diz sindicato
Enquanto a quantidade de novos profissionais cresce a cada ano, as portas do mercado de trabalho na área farmacêutica são cada vez mais restritas, segundo o presidente do Sindicato dos Farmacêuticos de Roraima (Sindfarr), Carlos Alberto Gomes. “A questão do mercado de trabalho em Boa Vista é restrita. É um Estado grande, mas com população pequena. Temos hoje uma faculdade que forma profissionais, mas falta espaço para trabalhar. O serviço público fica estagnado, falta indústria e mais farmácias”, lamentou.
Conforme ele, também não há piso salarial definido para os profissionais que atuam nas empresas privadas. Hoje não existe piso salarial determinado em Roraima. “Um dos trabalhos do sindicato é a atuação em políticas públicas para poder mostrar para o gestor a necessidade do profissional. Temos para tentar abrir caminhos para novos empregos, buscar negociação para abrir as portas do mercado a novos profissionais e consolidar a mão de obra local”, frisou. (L.G.C)