Cotidiano

Promotor já havia denunciado presença do ‘Comando Vermelho’ em Roraima

Em setembro passado, promotor também havia alertado sobre PCC, mas autoridades da Segurança Pública também ficaram em silêncio

Na noite da sexta-feira passada, dia 5, em uma abordagem de rotina no bairro Senador Hélio Campos, zona Oeste, a Polícia Militar prendeu um homem que pilotava uma motocicleta com restrição de furto. Seria apenas um crime simples se, para surpresa dos agentes, na delegacia, não fossem descobertas conversas ameaçadoras, no celular do suspeito, feitas pelo WhatsApp, com detentos do sistema prisional.
O grupo, que alega ser um braço do Comando Vermelho (CV) em Roraima, avisa que a sociedade não sofrerá ataques, mas deixa bem claro que vão “’tocar o terror” e afrontar o poder público. Ainda no bate-papo, eles enaltecem a atitude dos “irmãos”, como se tratam, que tocaram fogo em quatro carros, crime ocorrido na quinta-feira, dia 4, no estacionamento de um órgão da Prefeitura de Boa Vista (PMBV), no Centro.
O incêndio, segundo os bandidos, teria sido apenas um aviso. Eles ameaçam agora aterrorizar outros órgãos públicos na Capital, inclusive com assaltos e sequestros, desafiando assim as autoridades de segurança pública do Estado. A investida dos criminosos ocorre, principalmente, em represália às mudanças recentes no sistema prisional roraimense. As medidas severas, conforme os criminosos, adotadas pela Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc), na Penitenciária Agrícola do Monte Cristo (Pamc), teriam motivado o suposto Comando Vermelho a revidar.
Ainda no bate-papo no celular, os bandidos exigem que seja depositado dinheiro para comprar armas e pagar advogados para assistir os “irmãos” que forem pegos. O Comando Vermelho é mais uma facção criminosa que, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), também atua em vários presídios do País. Em setembro passado, o promotor de justiça do Ministério Público do Estado (MPRR), Marco Antônio de Azeredo, já havia alertado a Segurança Pública sobre a atuação do CV, além do PCC, nos presídios de Roraima. Mas parece que o promotor não foi levado a sério.
À época, Sesp, Polícia Civil e Polícia Militar não descartaram a atuação do PCC nos presídios do Estado, mas permaneceram em silêncio. Foi preciso uma investigação da Polícia Federal junto com o Ministério Público do Estado de São Paulo para confirmar a ação criminosa do Primeiro Comando da Capital em Roraima.
Em novembro passado, após a fuga em massa na Pamc, o setor de Inteligência da Polícia Militar também fez o alerta. Os bandidos, segundo investigações, aterrorizariam a Capital sob ordens de facções criminosas. Quase um mês depois, eles incendiaram quatro carros em um estacionamento da PMBV.
O dinheiro que mantém as organizações criminosas vem principalmente do tráfico de drogas e de assaltos a caixas eletrônicos, crime que vem ocorrendo com frequência em Roraima. Mas o diretor do Departamento de Narcóticos (Denarc), delegado Alberto Correia, disse ontem à tarde, por telefone, que não há investigação sobre o Comando Vermelho naquele departamento.
“Aqui não há nada sendo investigado a respeito do Comando Vermelho. Toda investigação aqui é relacionada à droga”, frisou o delegado, ressaltando que não falava por toda polícia. “Cada delegacia tem sua investigação”, observou.
A Polícia Militar informou que, sobre o Comando Vermelho, não tinha o que declarar e que o policiamento ostensivo nas ruas da Capital ocorria dentro da normalidade. (AJ)
Bandidos usam celular para ordenar ações criminosas de dentro dos presídios
De dentro das unidades prisionais de Roraima, os membros de organizações criminosas usam telefones celulares para se comunicar com os bandidos que estão fora. É quando eles planejam e ordenam as ações criminosas. Um agente penitenciário entrevistado pela Folha, que por motivo de segurança não quis se identificar, confirmou que é comum na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo ver detentos com celulares na mão.
“Não é novidade aqui dentro. Eles ligam quando bem entendem. Muitos detentos atualizam página no Facebook quase todos os dias. Eles também utilizam o WhatsApp para arquitetar assaltos, tráfico de drogas e outros crimes aí fora. Somos poucos, como já disse, por isso não tem como apreender esses aparelhos. Ninguém é doido de colocar sua vida em risco. Tenho filhos para criar. O sistema está falido”, disse.
Apesar de o celular ser o principal canal de comunicação dos detentos, pouco ou nada é feito pelas autoridades de segurança pública para evitar a entrada desses aparelhos nas unidades prisionais. Não há bloqueador de sinal nos presídios e as revistas são ineficientes.
No final do ano passado, no dia 24 de novembro, após uma revista na Pamc, policiais militares apreenderam 23 celulares. No dia 1o de julho passado foram mais 18 aparelhos apreendidos. No começo deste mês, os detentos ligaram para a Folha de um celular de dentro da Penitenciária, denunciando supostos maus-tratos.
“Eles dão as cartas aqui de dentro, como já disse. Mandam e desmandam. Planejam os crimes e ordenam que os bandidos foragidos ou do semi-aberto, que estão lá fora, assaltem ou cometam outros crimes. Infelizmente, esta é a realidade”, lamentou.
SEJUC – Por telefone, ontem à tarde, a Folha tentou contato com a Sejuc, mas não obteve êxito por ser feriado. (AJ)