Os servidores estaduais que não conseguiram fazer a ‘prova de vida’ na terça e na quarta-feira terão mais um dia para se apresentar ao recursos humanos da pasta onde trabalham: hoje, dia 20. Segundo o Governo do Estado, 95% dos 21 mil servidores, entre efetivos e comissionados, se apresentaram.
O segundo dia para a ‘prova de vida’ foi marcado por mais filas nos órgãos estaduais. No Palácio da Cultura, os servidores tiveram que esperar do lado de fora e alguns reclamaram que estavam há quatro horas na fila. Na Secretaria Estadual do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes), havia 800 pessoas para serem atendidas logo pela manhã. Devido à demanda tão grande, mais militares foram encaminhados a esses locais para agilizar o atendimento.
A medida ainda é alvo de críticas de servidores e sindicalistas. “Não é fácil estar com três meses sem salário, enfrentar uma situação como a prova de vida. Altera o ânimo de todo mundo e torna o processo mais difícil”, relatou o diretor administrativo do Sindicato dos Trabalhadores Civis Efetivos do Poder Executivo de Roraima (Sintraima), Antônio Leal.
A agente socioeducativa Cynthia de Castro, que esperava atendimento na Setrabes, comentou que seria impossível para um militar atender toda a demanda de funcionários da secretaria em somente dois dias. “No primeiro dia, terça, 18, só chamaram 100 pessoas. Eu sei disso, pois estive aqui o dia inteiro e acabei pegando senha para ser atendida hoje. E eu sei que o militar não dará conta de atender. O problema mais óbvio da prova de vida é a forma que ela tá sendo feita, em um prazo curto demais, e de forma lenta”, comentou.
Ainda na Setrabes, só que no período vespertino, o agente socioeducativo João Ferreira comentou que além da demora, ele não entende como a prova de vida vai ajudar na distinção entre funcionários ativos e fantasmas.
“Eu estou acordado há 24 horas. Acordei ontem às 16h, fiz o plantão no CSE, vim para cá às 7h, passei a manhã aqui, almocei, e estou aqui aguardando ainda. Isso aqui tá uma verdadeira prova de sobrevivência. E eu não vejo a necessidade, pois se for para checar quem é fantasma e quem trabalha mesmo, que esses militares se dirijam aos RHs de órgãos e secretarias, onde encontrarão frequência, folha de ponto e documentos formalizando férias, licença médica, entre outros. Em uma convocação como essa, aparece fantasma de todo lugar”, citou.
O professor Ramon Alves, que enfrentou a fila no Palácio da Cultura, contou que também trabalha na Fundação Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh) e lá não foi necessária uma convocação geral como nas secretarias. “Na Femarh, não houve a necessidade de colocar ninguém em fila. Os militares foram lá, conversaram com o setor de Recursos Humanos, os registros foram apresentados, e eles foram embora. Porque nas secretarias em si é preciso toda essa fila? Eu tenho 16 anos de serviço público e nunca vi algo parecido com isso”, criticou.
Na Setrabes, servidores enfrentaram longa fila para serem atendidos (Foto: Priscilla Torres/Folha BV)
A servidora pública Maria Cavalcante, que também estava no Palácio da Cultura, afirmou que a prova não anula a possibilidade de irregularidades ocorrerem. “Meu expediente está comprometido. Isso atrapalha nossa rotina só para dizermos que existimos. Eu entendo a intenção do Governo, mas não é possível que eles acreditem que isso vai gerar transparência, com tanto funcionário fantasma que pega uma folha de ponto e assina todas as lacunas de uma vez”, explicou.
OUTRO LADO – Por meio de nota, o Governo do Estado reforçou que o procedimento de ‘prova de vida’ faz parte do controle necessário para evitar fraudes e prejuízos ao erário e visa resguardar o direito dos servidores que cumprem a carga horária normalmente. Sobre servidores que estão de férias ou licença, o Governo esclareceu que serão amparados, pois o recursos humanos informará à equipe da intervenção a situação. (P.B)