Cotidiano

Reativação das ações depende de parcerias

Casa Rosa de Saron já atendeu mais de cem mulheres vítimas de todos os tipos de violência, mas fechou as portas por falta de apoio

Criada no ano de 2002, a Casa Rosa de Saron se estabeleceu como uma das entidades mais ativas no acolhimento de mulheres vítimas de violência no Estado. Entretanto, com uma organização sem fins lucrativos, muitas de suas ações dependem de apoio de grupos públicos e privados para se manter.

“Inicialmente, era a minha casa e, por conta da igreja da qual faço parte, comecei a abrigar meninas que estavam passando por problemas. Algumas não tinham lugar para morar, outras foram abusadas sexualmente e outra parte foi expulsa de casa. Quando eu percebi, já eram cinco meninas e aí eu pensei que, se era para fazer algo real em prol delas, porque não criar um espaço de acolhimento para todas aquelas que precisam de ajuda. Então, decidimos criar a Rosas de Saron”, comentou uma das idealizadoras do projeto, Cláudia Oliveira.

A partir do momento que decidiu executar o projeto, a peregrinação de mulheres só cresceu ao longo dos anos. Segundo ela, muitas das usuárias não se encaixavam em projetos gerenciados pela iniciativa pública, o que demonstrava o respeito e a confiabilidade desempenhada pela iniciativa.

“A gente foi deixando de lado a nossa vida particular e começamos a trabalhar em ações para essas garotas. Eu e outras três pessoas passamos a nos dividir entre as obrigações da profissão e os trabalhos da casa. Conseguindo apoio de psicólogos, psicoterapeutas e buscamos auxílio com a iniciativa pública e privada para manter as ações da casa. Antes, quando não tínhamos um local fixo, nós procurávamos um lugar para fazer as atividades, sempre de acordo com a demanda de pessoal. Quando o número de meninas diminuía, nós escolhíamos espaços menores e, quando aumentava, procurávamos alugar uma casa mais. Apesar das dificuldades, nós nunca deixávamos de lado a atenção a essas mulheres”, frisou.

Com a intenção de conquistar ainda mais parceiros, no ano de 2009 a casa acabou virando associação, englobando ações em prol da comunidade do bairro Jóquei Clube e adjacentes, na zona Oeste. Entretanto, por conta das dificuldades pessoais e da necessidade de buscar melhorias na nova sede, o grupo decidiu interromper parte das ações desenvolvidas pela casa.

“Nos dez primeiros anos de existência da casa, nós conseguimos atender mais 100 pessoas, entre crianças, adolescente, jovens e senhoras. Às vezes eram jovens que não tinham um local para morar ou que passavam por problemas da dependência química. Por mais que não tivéssemos experiência de cuidar desse tipo pessoa, nós acolhíamos mesmo assim. Procurávamos na iniciativa privada os meios para ajudar essa mulher, minimizando ao máximo todos esses problemas. Apesar disso, era necessário readequar a ideia original da casa, por isso tivemos que parar as atividades. No período de três anos em que ficamos fechados, a procura cresceu e isso, de alguma maneira, nos deixava aflitos. Tínhamos que fazer algo para não deixar as ações da casa morrer”, destacou.

Em 2013, a administração da casa teve uma agradável surpresa em relação à busca por parceiro. Um grupo jovem religioso procurou a entidade para propor uma parceria para reativar as atividades da instituição. Além disso, Cláudia Oliveira disse que, este ano, um ofício enviado ao Governo do Estado, há dois anos foi finalmente aceito, abrindo margem para a revitalização de sua sede.

“Nós conversamos com esse grupo conhecido como Levitas. Eles decidiram nos ajudar nessa empreitada de reativar as ações da casa. Eu sempre cuidava da parte operacional e era muito difícil encontrar alguém para cuidar da parte administrativa. Com essa parceria, o grupo passa a administrar essa parte, o que torna as atividades da casa ainda mais sólidas. Para nossa surpresa, um ofício que tínhamos enviado ao Governo do Estado há dois anos foi aceito este ano. Além de assegurar o terreno que a sede alugou, abre margem para conseguir recursos para revitalizar o local, cabendo apenas a elaboração de um projeto de revitalização do espaço físico. Nós estamos empenhados nessa missão e a gente espera concretizar esse sonho”, frisou.

Com esse projeto, a ideia é trabalhar com duas vertentes. A primeira é continuar o acolhimento à mulher vitimizada, como sempre fez desde o começo. O segundo é abrir espaço para o acolhimento das dependentes químicas, que tem crescido no Estado. “Aqui nós só temos casas de apoio ao homem dependente, mas nunca um lugar exclusivo para elas. Com isso, nós teremos mais uma ferramenta de apoio à mulher em Roraima e até mesmo buscar apoio do Ministério da Saúde para assegurar a realização dessas políticas sociais às mulheres de Roraima”, complementou Cláudia Oliveira.
Quem tiver interesse em saber melhor sobre as ações pela Rosa de Saron ou até mesmo se tornar um colaborador, basta comparecer à sede, situada na Rua Silver, bairro Jóquei Clube, zona Oeste, ou ligar no 99916-1321. O grupo também possui o email [email protected] para fazer qualquer esclarecimento.

 “A gente está realizando reuniões periódicas, sempre com intuito de buscar recursos para manter as atividades da casa e também revitalizar o espaço. A gente precisa de mais terapeutas, psicólogos e profissionais de educação física para a realização de algumas atividades. A expectativa é que, a partir do momento que conseguirmos entregar o projeto e as coisas de fato voltarem a funcionar, teremos muitas atividades boas. A nossa intenção é manter a casa em funcionamento nos três horários, com atividades de lazer, oficinas e palestras. Tudo para fazer do projeto um diferencial na vida dessas mulheres”, complementou Cláudia.

INSPIRAÇÃO – O nome da instituição foi inspirado na Rosa de Saron, uma espécie de flor originária do Líbano, país localizado na extremidade leste do mar Mediterrâneo, na Ásia Ocidental. Perto de outras espécies, a rosa não é bonita e que só exala cheiro quando machucada. (M.L)