Cotidiano

Resultado da consulta pública não é apresentado à população

A pesquisa, que deve integrar o Plano de Mobilidade e de Acessibilidade, lançado ano passado pela Prefeitura de Boa Vista, foi realizada, mas com pouca participação popular

CYNEIDA CORREIA EDITORIA DE CIDADE

Trocar o carro pela bicicleta em uma cidade onde a geografia plana é predominante não parece ser uma atitude tão difícil de se tomar espontaneamente. Mas se a cidade é Boa Vista, não é tão fácil encontrar alguém que tenha feito e conseguido permanecer com essa escolha. A dificuldade maior é a acessibilidade no trânsito para quem anda de bicicleta e a falta de ciclovias.

O soldado Fabiano Dias, de 19 anos, vai para o quartel no bairro 13 de Setembro todos os dias de bicicleta. Ele mora no bairro Asa Branca e o caminho que faz não passa de sete quilômetros, incluindo ida e volta.

O maior problema para Fabiano é o trânsito intenso nos horários de pico na avenida Centenário, principal via do trajeto que realiza. “Os motoristas não respeitam os ciclistas e os atropelamentos são comuns por lá. Não temos ciclovias”, reclamou.

O ciclista Bruno Dias, apaixonado pelo esporte e praticante há mais de cinco anos, explica os cuidados necessários para não correrem riscos nas ruas. “O ideal, ao pedalar, é ficar à direita e não virar na contramão das ruas, além de procurar caminhos alternativos, pois as grandes avenidas viram caos nos horários de pico”.

O problema não atinge apenas ciclistas. Também é difícil para as pessoas andarem nas calçadas da cidade, muitas vezes mal conservadas e tomadas por carros. “Não temos infraestrutura para quem precisa andar. Ficamos o tempo todo com medo de morrer atropelados ou de cair pela dificuldade de acesso às calçadas”, comentou funcionária pública, Ana Mara Bezerra.

Para tentar resolver esses problemas, até o dia 02 de março deste ano foi feita uma consulta pública pelo site da Prefeitura de Boa Vista, para que a população contribuísse com sugestões ou comentários sobre as normas reguladoras para a construção de calçadas e ciclovias. O problema é que no site www.boavista.rr.gov.br/consultapublica, onde deveria estar o resultado do trabalho não tem nada publicado.

Sugestões de apenas quatro internautas foram selecionadas

No site da Prefeitura, numa busca mais minuciosa, encontrou-se a minuta da consulta, com sugestões que possam qualificar um regulamento para o tema, tornando-o adequado às necessidades da cidade e sustentável na implantação.

Apenas contribuições de quatro internautas foram destacadas nessa minuta. O maior número de sugestões foi de Neyderson Sampaio. Uma recomendação do munícipe foi quanto a opção de travessia elevada, que segundo ele não consta na minuta do projeto. “Podem ser instaladas em ruas de pouca movimentação, em que a calçada pode avançar sobre o asfalto e ao mesmo tempo que facilita a travessia do cadeirante e pedestre, serve com redutor de velocidade”, explicou.

Ele reclamou do prazo de oito anos para que os cidadãos se adequem as mudanças da lei. “É um período extenso para uma questão tão urgente, como a segurança da via dos pedestres. Não se pode ter um tempo demasiadamente extenso ao ponto de eventuais sucessores esqueceram de aplicar as medidas necessárias ao livre trânsito”, observou.

Sobre estacionamento em calçadas, por exemplo, ele afirma que o projeto deixou o quesito vago e que seja reconhecido como estacionamento apenas o que estiver totalmente dentro do perímetro do terreno comercial. “É necessário enfrentar esse problema, que é um dos maiores desafios a ser enfrentado pela gestão municipal”, destacou.

Ele também sugeriu melhoria nas calçadas: “Calçadas mal cuidadas, sem continuidade e com obstáculos. Sugiro que, como forma de incentivar os moradores a cuidar desses locais de todos, a Prefeitura ofereça descontos no IPTU para aqueles que construírem ou reformarem as calçadas das residências que são proprietários, dentro do padrão do decreto”, indicou.

Outro que sugeriu melhoria de calçadas foi Daniel Rodrigues Vieira. Ele questionou a utilização de calçadas usadas irregularmente por ciclistas ou motoqueiros. “As ruas e avenidas dessa cidade estão mal acabadas ou esburacadas. Como os motoristas passam centímetros de distância dos ciclistas, a única opção é pedalar inapropriadamente nas calçadas”, reclamou.

Ciclovias ainda não saíram do papel

Dentro do Plano de Mobilidade e de Acessibilidade da Prefeitura de Boa Vista estão previstas a implantação de 22,51 quilômetros de infraestrutura cicloviária na Capital, que contará com sinalização apropriada e ligará bairros periféricos ao Centro da cidade. O projeto deveria ser implantado este ano, mas as obras das ciclovias que ligarão o Conjunto Cidadão ao Centro e bairro Caçari não começaram.

Esta é a terceira vez que o poder público municipal tenta implantar ciclovias em Boa Vista. Nenhuma deu certo. A primeira vez foi em 2010, quando o então senador Augusto Botelho destinou R$ 20 milhões, mas nada foi feito. Em 2011 a Caixa Econômica Federal aprovou um projeto com o montante em recursos de R$ 3,81 milhões para uma ciclovia de 11 quilômetros entre o Conjunto Cidadão e o bairro Jóquei Clube.

OUTRO LADO – A equipe de Reportagem da Folha procurou a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Boa Vista mas até o fechamento da matéria não houve retorno à Redação.