O Rio Branco começou a encher e famílias ribeirinhas já começam a ter problemas na Capital. Até ontem pela manhã, o nível do rio estava em 6,60 m e a previsão era de mais chuva. Moradores da área Francisco Caetano Filho, o popular Beiral, no Centro da cidade, foram os primeiros atingidos pelo rio. Ontem, alguns já levantavam móveis e arrumavam-se para sair.
“No ano passado, a água não chegou aqui, mas este ano tudo indica que a cheia vai ser grande. A gente já fica preparada para mudar, pois o rio enche rápido. Eu geralmente alugo um quarto até o rio baixar”, disse a dona de casa Teresa dos Santos, de 29 anos, que mora no final da rua Castelo Branco.
Mãe de seis filhos, todos menores de idade, Teresa só espera que nenhum deles adoeça este ano. Mas ontem pela manhã os meninos brincavam nas águas sujas que já haviam invadido a casa. O risco de contrair doença é grande, segundo especialistas, porque as águas arrastam lixo doméstico e até animais mortos para os imóveis, sem contar com a urina de ratos, que também transmite doença: a leptospirose.
A Folha constatou ontem que havia uma grande quantidade de lixo doméstico nas ruas e em terrenos baldios do Beiral. Moradores reclamaram muito. Eles disseram que a Prefeitura de Boa Vista há muito tempo não limpa nem as calçadas, como faz em outros bairros.
“O carro do lixo dificilmente passa por aqui. Às vezes vem uma vez por semana, e olhe lá! Por isso que o lixo doméstico se acumula e se espalha quando o rio enche ou quando chove. Faz muito tempo que a prefeitura não limpa o bairro”, reclamou um morador que preferiu não se identificar.
Para fugir da cheia, moradores construíram casas de dois pisos, mas mesmo assim eles enfrentam dificuldades, porque a maioria das casas é de madeira, material que a água apodrece.
“A gente tem que trocar pernamancas e tábuas, senão desaba. Quando a água invade, a gente só sai se for de canoa. A gente tem que ter cuidado também com cobras e outros bichos venenosos que fogem da cheia e entram em nossas casas”, alertou o morador.
O volume do rio aumenta a cada dia e, segundo boletim hidroclimático da Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh), as chuvas fortes cairão em Roraima até agosto. “A gente fica aqui até quando dá. Se continuar chovendo assim, sairemos logo, logo, mas depois voltamos”, disse o morador.
Moradores dos bairros Cauamé, zona Oeste, e 13 de Setembro, zona Sul, também correm risco de saírem de suas casas com a cheia do rio Branco. Mas, até ontem, apenas três famílias do Beiral foram remanejadas para casa de parentes por equipes da Defesa Civil Municipal. (AJ)
Defesa Civil orienta moradores a saírem antes da cheia do rio
O diretor da Defesa Civil Municipal, Amarildo Gomes, confirmou, ontem pela manhã, à Folha, que suas equipes retiraram três famílias do Beiral anteontem, à tarde, dia 25. A prefeitura já disponibilizou dois ginásios para abrigar as vítimas das chuvas e da cheia do Rio Branco, mas, por enquanto, os remanejados preferiram ir para casas de parentes.
“Por enquanto não houve a necessidade de remanejar famílias aos ginásios, mas o município já disponibilizou dois abrigos para as vítimas de enchentes de chuvas e das cheias do rio. Estamos de prontidão”, garantiu o diretor.
Sobre os cuidados que se deve ter com as inundações, Gomes orientou os moradores a não manterem contato com a água insalubre para evitar doenças. O diretor também orienta as famílias a deixarem suas casas antes da subida do rio. “Ainda hoje (ontem) vamos fazer novas vistorias no Beiral para verificar a situação”, adiantou.
A Defesa Civil Municipal conta com 30 homens que, segundo o diretor, estão de prontidão 24 horas por dia para atender as vítimas em caso de emergência. Para acionar as equipes é só ligar 156. (AJ)
Agência monitora Rio Branco
As águas do rio Branco aumentam rápido. Anteontem, à tarde, elas marcaram 6m48; ao amanhecer de ontem, chegaram a 6m60, e antes das 11h já haviam alcançado 6m64. O nível pode ser consultado pelo site da Caer (www.caer.com.br/nivelRio.jsp) com detalhes de períodos. Os dados são da Agência Nacional de Águas (ANA). A maior cheia do Rio Branco foi registrada em 2011, quando o nível chegou a 11 metros. (AJ)