Responsável pela Rodoviária Internacional de Boa Vista, a empresa Sinart aguarda a Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinf), chefiada pelo vice-governador Edilson Damião (Republicanos), aprovar o projeto de reforma para definir a data de início das obras no terminal, que terá sua área cercada completamente e a instalação de uma base policial. O documento foi protocolado em 21 de junho.
Enquanto isso, quase 1 mil migrantes venezuelanos desabrigados ocupam o entorno da rodoviária, um dos espaços públicos de Boa Vista mais ocupados por quem foge da ditadura de Nicolás Maduro. Em setembro, 259 pessoas viviam em situação de rua na região e 472 estrangeiros estavam no Posto de Recepção e Apoio (PRA) da Operação Acolhida, situado ao lado do terminal. Os dados são da OIM (Organização Internacional para as Migrações).
Há anos, existem dezenas de moradias improvisadas por migrantes em frente à rodoviária. Com isso, a Sinart busca parcerias com organizações sociais para proporcionar dignidade ao público que vive em frente ao terminal. “Não adianta, simplesmente, a gente afastá-los da região”, destacou Antonio Gabriel Santos da Silva, gerente local da concessionária.
Outro impacto migratório é a insegurança. Em setembro, dois homens foram alvos de tiros em frente à rodoviária. Moradores próximos confirmam que tiroteios têm sido comuns na região e suspeitam de que os autores possuem envolvimento com o tráfico de drogas. Foi após os episódios que a Polícia Militar (PM) decidiu fixar uma ronda na região.
Atualmente, o terminal recebe aproximadamente 1,5 mil passageiros por dia e tem 23 companhias de ônibus, sendo cinco delas responsáveis pela rota Boa Vista-Manaus. Embora seja internacional, a rodoviária não tem empresas que transportam passageiros para Venezuela ou Guiana por falta de autorização dos países.
Privatização
Em dezembro de 2023, o local foi privatizado por 25 anos com investimento inicial de R$ 4,5 milhões. Seis por cento da arrecadação da rodoviária ficará com o Estado. Pelo contrato com o Governo, a Sinart tem até 45 dias após o aval da Seinf para começar a reforma, que pode durar até 18 meses.
As benfeitorias incluem a ampliação de 13 para 16 vagas de ônibus nas plataformas e a construção de novo bloco de banheiro na área de embarque e desembarque e de novas lojas. “Estamos fazendo alguns orçamentos e, assim que o projeto for aprovado, ampliamos essa tomada de preços para que, logo em seguida, a gente possa começar. A empresa já veio preparada para começar”, disse o gerente local da concessionária, enfatizando que os trabalhadores serão de Roraima.
Até o momento, a resposta que a empresa recebeu do Estado foi sobre onde pode reformar: o terminal de embarque e desembarque de passageiros e o estacionamento frontal, o que corresponde a uma área de 27,4 mil metros quadrados.
O Governo havia feito uma concessão para 40,5 mil metros quadrados, apesar de que 13 mil metros quadrados do perímetro pertençam à Prefeitura de Boa Vista. Questionado sobre o assunto, o Executivo estadual não comentou até a publicação da reportagem.
A Empresa de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Emhur) informou que a área remanescente será usada para a ampliação do Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA) devido à “crescente demanda para o atendimento médico infantil”.
Com a redução do perímetro, a Sinart precisou reformular o projeto original, que passará, por exemplo, a contemplar uma área de estacionamento, em vez de duas. Assim, a empresa só vai conseguir ampliar de 50 para 65 a quantidade total de vagas.
“Vai ter uma parte que é de estacionamento rotativo para as pessoas que vêm desembarcar, pegar seu passageiro. Algo bem parecido com o que acontece no shopping. E tem outra área também que vai ser pago, tudo com controle de cancelas, com monitoramento de toda a área”, destacou.
Segurança do terminal
Para reforçar a segurança no local, a empresa promete investir aproximadamente R$ 800 mil com a instalação de grades, custo que não estava previsto no projeto original. “Vamos mudar toda a fachada, que vai ser toda com cerca de proteção, fachada de vidro”, reforçou o gerente. “Não vamos impedir o acesso das pessoas. O que vamos fazer é o controle de quem é essa pessoa. Não é questão relacionada à migração, é uma questão da segurança, como acontece no shopping, no aeroporto”.
O contrato de concessão obriga a empresa, inclusive, de impedir a circulação de pessoas em situação de rua, andarilhos, pedintes e vendedores ambulantes nas áreas internas e externas da rodoviária e a autoriza a recorrer às forças de segurança, caso precise manter a ordem.
Uma das medidas já adotadas pela Sinart, para proteger o local, foi contratar a mesma empresa de segurança que atende a Operação Acolhida, força-tarefa que assiste socialmente migrantes e refugiados da Venezuela. Além disso, a concessionária fechou uma parceria com a PM para dispor viaturas e agentes no local, principalmente nos três horários de pico: 5h às 9h, 13h às 14h, 17h às 21h30.
A Sinart também comunicou à PM a intenção de instalar, com recursos próprios, uma base policial para prever atuação fixa e preventiva da corporação na rodoviária e no entorno. Procurada pela Folha, a polícia ainda não respondeu.
Na área de embarque e desembarque, a Sinart pretende instalar um detector de metais para bagagens semelhante ao visto em aeroportos e grandes rodoviárias brasileiras. Desde 2023, o equipamento usado pela rodoviária, de responsabilidade do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), é focado no controle sanitário de doenças e pragas.
A empresa vai manter a permissão para o passageiro ingressar na plataforma de embarque e desembarque com a condição de apresentar o bilhete da viagem. “A rodoviária de Boa Vista está sendo integrada ao sistema nacional, então, nós vamos trabalhar com o mesmo padrão de São Paulo, Rio, Cuiabá, Curitiba, Florianópolis”.
Outras principais intervenções a serem feitas
- Adequação da acessibilidade;
- Construção de balcão da Central de Atendimento ao Usuário;
- Controle de acesso e novas mobílias na plataforma e nas áreas comuns;
- Equipamentos e cancelas no estacionamento;
- Implantação do Sistema de Informações de Passageiros;
- Modernização das fachadas das lojas;
- Novas placas de sinalização interna;
- Pintura das fachadas e padronização visual dos letreiros;
- Pintura e novo letreiro na fachada;
- Pintura interna do telhado;
- Reforma da pavimentação asfáltica e sinalização no estacionamento rotativo.
