Os três primeiros meses do ano registraram em Roraima o maior número de focos de incêndio do País. Só em março, foram 2.433, um recorde nos últimos dez anos, segundo informou o coordenador da Operação Roraima Verde 2019 e PrevFogo do Ibama/RR, Kurtis Bastos.
O satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou em janeiro 383 focos e em fevereiro, 629. Nos primeiros dez dias de abril, já foram 855. Para comparação, em todo mês de abril do ano passado foram registrados apenas 181 focos.
Em todo o ano passado, Roraima registrou 2.410 focos de calor. Este ano, até a tarde de sexta-feira, 12, já foram detectados 4.300, superando muitos Estados em apenas três meses, como Ceará, onde houve 3.034 casos em 2018.
Os municípios com maior quantidade de focos de calor detectados pelo satélite de referência, de janeiro a abril, foram: Caracaraí, com 1.322; Mucajaí, com 584; Iracema, com 473; Rorainópolis, com 427; Cantá, com 242; Amajari, com 195; Pacaraima, com 156; Bonfim, com 153; Uiramutã, com 149, e Caroebe com 146.
Pelo último cálculo levantado pela coordenação da área de atuação do Ibama/RR, em terra indígena, que é de aproximadamente 2.576 milhões de hectares, os incêndios florestais já atingiram 294.624 hectares, representando 0,09% da área de atuação.
O coordenador informou que, além dos focos de incêndio, a operação já combateu, até a tarde de sexta, 227 médios e grandes incêndios florestais nas áreas de atuação das brigadas que se concentram nas terras indígenas. A região da Raposa Serra do Sol, nos municípios de Uiramutã e Normandia, é campeã de incêndios florestais com 92 ocorrências. Os demais ocorreram na Serra da Moça, em Boa Vista; Tabalascada, no Cantá; Araçá, em Amajari; São Marcos, em Pacaraima.
“Percebemos que sem uma política estadual de controle do uso do fogo para limpeza agrícola para plantio e um plano de contingência nos municípios e no Estado, o fogo trará consequências diretas e indiretas na economia, seja para o produtor rural ou na qualidade do ar que prejudicará as populações mais sensíveis, e na degradação ambiental”, alertou.
Previsão é de pouca chuva para a região
Atuação do Prevfogo no Estado prioriza o controle e combate às chamas em terras indígenas através da Operação Roraima Verde 2019 (Foto: Divulgação/Operação Roraima Verde )
O coordenador da Operação Roraima Verde 2019 e PrevFogo do Ibama/RR, Kurtis Bastos, informou que o período seco no Estado ocorre entre os meses de novembro e abril e a meteorologia aponta que a estação seca está chegando ao fim, com previsão do início das chuvas para os próximos dias. Porém, ele destacou que a previsão para as regiões onde ocorre a maioria dos incêndios é de poucas chuvas.
“Pela previsão, serão chuvas que vão fazer pouca diferença para controle dos focos de incêndios na região”, afirmou.
Ele destacou que a atuação do Prevfogo no Estado prioriza o controle e combate às chamas em terras indígenas através da Operação Roraima Verde 2019 que atua com seis brigadas, totalizando 116 brigadistas, com apoio pontual de 10 outros vindos de Rondônia, e revezamento de 11 técnicos no comando. A operação conta ainda com apoio de três helicópteros.
“As prefeituras municipais têm dado apoio logístico, assim como a população regional tem voluntariamente se engajado no combate, na medida do possível”, disse Ari Alfredo Weiduschat, assessor do Ibama/RR.
Ele cita que a metodologia adotada no Manejo Integrado do Fogo (MIF), com a queima programada e controlada, tem mostrado uma redução significativa na necessidade de combate nos períodos mais críticos, como agora.
“Este indicador deverá balizar recomendações para a Defesa Civil do Estado e dos municípios, como estratégia de prevenção e combate de incêndios florestais no futuro”, disse.
HISTÓRICO – Para Ari Alfredo, o fato que se repete neste período a cada ano tem explicações peculiares e aponta a quase totalidade da área do Estado que se encontra acima da linha do Equador, no Hemisfério Norte, apresentando um regime pluviométrico diferente dos outros Estados da Amazônia e com precipitação média anual de aproximadamente 1.800 milímetros.
“Roraima comporta a maior savana amazônica, ‘o lavrado roraimense’, de cerca de 61 mil quilômetros quadrados, compartilhada em parte com a Guiana. Como é sabido, as savanas têm o fogo como fator de sua própria formação ancestral. Contudo, as atuais práticas humanas na agricultura e pecuária têm influenciado no aumento dos casos de incêndios. À medida que se repetem, os incêndios fragilizam as áreas florestadas, resultando nesses novos recordes de focos de calor. Os incêndios atingem grandes proporções, são de difícil controle, e provocam um processo de savanização crescente da Amazônia nesta região”, concluiu. (R.R)