Cotidiano

Roraima é o segundo estado no ranking de suicídio

Estado lidera os principais índices envolvendo o problema e é preciso buscar ajuda especializada

Assim que se passarem 40 segundos após o início da leitura desta matéria, uma pessoa terá cometido suicídio. Esta estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) se torna mais alarmante quando um dos menores estados do país, Roraima, atualmente ocupa o 2º lugar no ranking brasileiro de ocorrências desta natureza.

A estudante Jhenne Yasmin, de 17 anos, há pouco mais de quatro anos viu sua jovem vida ser tomada por uma profunda melancolia. Em estado de depressão, ela decidiu desistir de tudo. Porém, todas as suas tentativas falharam.

“Naquele momento eu não consegui encontrar uma luz ou ajuda. Mas depois que eu tentei cometer suicídio, parece que as coisas começaram a se encaixar na minha cabeça. Eu comecei a pensar mais sobre o motivo de estar aqui”, relata a adolescente, que hoje realiza palestras sobre o assunto.

O problema vivenciado pela estudante, entretanto, é muito mais comum do que se possa imaginar.

O depoimento dela chamou a atenção durante sessão especial voltada à valorização da vida e à prevenção do suicídio, realizada nesta terça-feira (17), na Assembleia Legislativa de Roraima. 

O evento foi requerido pela deputada Ione Pedroso (SD) e realizado em parceria com os deputados Catarina Guerra (SD) e Evangelista Siqueira (PT), que também lutam pela causa na Casa Legislativa. A autora da proposição explicou que ações de sensibilização sobre o tema também têm sido levadas ao interior do Estado. “É importante sensibilizar a sociedade sobre a valorização da vida e que sempre existe uma vírgula para a gente recomeçar. Queremos, até o final do mês, conseguir levar informação a toda população”, ressaltou Ione Pedroso.

Segundo levantamento feito pelo Ministério da Saúde (MS) entre os anos de 2007 e 2017, divulgado em setembro do ano passado, mais de 106 mil óbitos autoprovocados aconteceram no Brasil durante uma década inteira.

Quando divididos por gênero, Roraima apresenta a parcela de 7% das mulheres que tiraram suas vidas, seguido pelo Piauí (4,6%) e Santa Catarina (4,4%). Na análise que utiliza os índices habitacionais, o estado também lidera com 122,2% em relação aos maiores aumentos para o sexo feminino. Em segundo está o Amazonas, com 118,7%, e logo após o Acre, com 106,2%. 

Nos casos envolvendo homens, Roraima está em segundo, registrando 15,4%. O estado fica atrás somente do Piauí (16,6%) e à frente do Rio Grande do Sul (15,2%). Entre os maiores aumentos de suicídio para o sexo masculino, os três primeiros são Rondônia (118,2%), Maranhão (56,6%) e Rio de Janeiro (41,0%).

Infelizmente, nestes números entram dois homens que fizeram parte da vida da técnica em enfermagem Diane Sthefany Ferreira, de 27 anos. Pouco tempo após o tio de Diane se matar, o seu irmão, de 21 anos, também partiu desta forma.

“Não é fácil. Foram dias que eu sinceramente não lembro nem como consegui dar conta de cuidar dos meus pais, já que era somente eu e meu irmão. Recordo somente de acordar e dormir. Eu fiquei e depois a gente vai vivendo e muda a perspectiva. Passei a parar de me lamentar pela ida do meu irmão e passei a agradecer pelos anos que estivemos juntos. Muda a nossa empatia, que fica mais forte”, disse.

Nem todo depressivo é um potencial suicida

De acordo com a psicóloga Maíne Ferreira da Silva, o desejo de tirar a própria vida não é um sintoma exclusivo da depressão. “A maioria dos suicidas sofria de algum transtorno psicológico, dentre eles esquizofrenia, bipolaridade, borderline, depressão ou ansiedade. Mas quando se chega a essas ideações suicidas, a gente fala que o indivíduo alcançou um nível de vazio existencial, como se fosse uma casca, e não conseguisse se encher com coisas boas”, explicou.

Segundo Maíne, para chegar nesse momento, o depressivo já ultrapassou diversos níveis de melancolia. “Não é do dia pra noite que essas coisas surgem na nossa vida. As pessoas têm uma ideia de que o depressivo é aquela pessoa extremamente triste e amuada. Sempre dou o exemplo daqueles artistas famosos que ninguém nunca esperou que tivessem depressão e cometeram suicídio, como é o caso do ator Robin Williams”, frisou.

Quando a tendência suicida é detectada pela família, a psicóloga recomenda a busca de ajuda especializada, para que o tratamento seja iniciado imediatamente. “Acolher em vez de julgar, escutar, oferecer conforto e apoio às pessoas que estão adoecidas. E entender que não é do dia para noite que a pessoa ficará curada”, finaliza.

Atendimento psicológico é oferecido pelo SUS

A população de Boa Vista que necessita de atenção psicológica pode receber atendimento em quatro Unidades Básicas de Saúde (UBS) dos bairros Buritis, Silvio Botelho, Hélio Macedo e Asa Branca. Além das unidades, o serviço também é disponibilizado no Centro de Atenção Psicossocial (Caps II) Dona Antônia de Matos Campos, no bairro São Francisco, que de maio a julho deste ano realizou 3.457 atendimentos/procedimentos em pacientes. Dependendo da situação do acolhido, ele poderá ser encaminhado ao CAPS III. Casos de urgências identificados no momento do acolhimento são encaminhados ao Hospital Geral de Roraima e Hospital da Criança Santo Antônio.