Cotidiano

Roraima está em alerta com casos da doença na Venezuela e Guiana

O mosquito transmissor da Chikungunya é o mesmo da dengue, e os cuidados para prevenir a doença devem ser redobrados

Autoridades de saúde de todo o país encontram-se em estado de alerta desde o ano passado para a possível chegada do vírus Chikungunya ao Brasil. De origem africana, o vírus causador da doença também chamada de Chikungunya espalhou-se pelo continente asiático chegando à Europa e recentemente às Américas Central e Sul. Recentes casos registrados nos países vizinhos, Venezuela e Guiana, fizeram com que Roraima redobrasse os cuidados. Bonfim, Pacaraima e Rorainópolis são os municípios que mais correm risco.
A nova ameaça epidemiológica é transmitida tal como a dengue, pelos mosquitos Aedes Aegypti e o Aedes Albopictus. O que diferencia uma doença da outra é que em alguns casos a Chikungunya causa febre muito alta. Além disso, a pessoa infectada pode passar meses e até anos após a infecção com fortes dores nas articulações.
Na manhã de ontem, representantes das Unidades de Vigilâncias Epidemiológicas (UVE) dos hospitais referências de Roraima estiveram reunidos para fazer atualização dos profissionais que trabalham na área. Eles discutiram quanto a dinâmica de dispersão da doença pelo mundo, principalmente pelas Américas, onde se espalhou rapidamente.
Segundo o técnico epidemiologista do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cievs), Rodrigo Brasil, esta é uma preocupação levantada pelo Ministério da Saúde e técnicos da área vêm se reunindo desde o mês de dezembro de 2013, a fim de monitorar a doença. O epidemiologista explicou que a medida tem sido realizada em todos os estados. A diferença é que devido os casos registrados na Guiana e na Venezuela, Roraima teve de redobrar esse monitoramento.
De acordo com o técnico, os três municípios que estão mais vulneráveis por fazerem fronteiras – Bonfim, Pacaraima e Rorainópolis – serão considerados pontos estratégicos para o monitoramento da doença. “Para nós técnicos é uma situação que temos que considerar, que mensurar os riscos por Roraima ter proximidade com esses países. Por isso temos que sensibilizar ainda mais a nossa rede de vigilância de acordo com o protocolo do Ministério da Saúde”, disse.
No Brasil já há registros de casos da Chikungunya, mas são chamados de “casos importados”, em que pessoas foram infectadas em países por onde passaram, que tinham a circulação do vírus. Os pacientes voltaram ao Brasil onde desenvolveram e descobriram o quadro clínico. Um exemplo ocorreu no final do mês de maio, quando seis militares chegaram de missão no Haiti e foram diagnosticados com a febre do Chikungunya  no Instituto Adolfo Lutz em São Paulo.
De acordo com Rodrigo Brasil, Roraima ainda não apresentou caso suspeito. Ele relatou que, do ponto de vista técnico, todas as medidas estão sendo tomadas, como a sensibilização e capacitação dos profissionais da área de saúde para que todas as medidas de vigilância da detecção de confirmação ou não de casos da doença sejam feitos rapidamente.
O epidemiologista acrescenta que do ponto de vista da sociedade o primordial é reforçar todas as ações de controle do vetor, ou seja, combater o mosquito transmissor da doença. “A mesma conversa de sempre: olhar o quintal, não deixar material que acumule água, como por exemplo, olhar o vaso de plantas ou deixar garrafa pet espalhada no quintal de casa”, lembrou. “Precisamos redobrar essa atenção porque temos a possibilidade da introdução de um vírus perigoso no estado”, frisou.   
TRATAMENTO – Sobre o diagnóstico, dependendo da fase da doença, são utilizadas  abordagens diferentes de diagnóstico. Um deles é o chamado isolamento viral, que pode ser realizado em mosquitos coletados no campo ou em amostras de soro na fase aguda. Este é usado se a doença estiver no início. Caso estejam passados oito dias após o início dos sintomas, o método usado é a sorologia, em que é utilizado o soro obtido a partir de sangue total. Quanto ao tratamento, este é semelhante também ao da dengue, apenas de suporte. O médico monitora os sintomas do paciente, faz hidratação e administra alguns medicamentos analgésicos.
Pesquisador diz que é impossível evitar entrada do vírus no país
O vírus Chikungunya é conhecido desde a década de 50, quando foi isolado pela primeira vez, posteriormente se espalhando pelo continente africano. Conforme o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Amazonas, Felipe Gomes Naveca, numa entrevista cedida à Folha no mês de junho em recente passagem pelo estado de Roraima, o Chikungunya sofreu uma mutação. Essa mutação o tornou mais fácil de ser transmitido. Isso faz com que haja uma preocupação maior, e de 2005 para cá tornou-se importante estudar e acompanhar a dispersão desse vírus, pois não há vacina como prevenção.
O pesquisador analisou que a entrada do vírus no Brasil é praticamente impossível de ser impedida. Ele explicou que quem viaja e é infectado pelo vírus demora alguns dias para apresentar os sintomas; além disso, o fato de os transmissores da Chikungunya serem os mesmos da dengue, que registram altos índices a cada ano, torna a situação pior, pois espalham-se rapidamente.  
Ele afirma que o mesmo alerta que se tem para a dengue tem que haver para a Chikungunya, pois o vetor e o quadro clínico são os mesmos. Consequentemente as medidas de controle e prevenção devem ser as mesmas. “Se tivermos um bom trabalho de prevenção da dengue teremos também um bom trabalho na prevenção desse outro vírus”, disse Naveca.
Durante a entrevista, o pesquisador da Fiocruz analisou ainda que há um impacto inclusive econômico com a situação. “A pessoa que é infectada e consequentemente vem a adoecer terá dificuldade para se recuperar, visto que é um longo período, e ainda será obrigada a se afastar do trabalho”, explica. A situação é mais perigosa quando atinge recém-nascidos e idosos acima de 65 anos. Naveca acrescenta que deve haver um trabalho intenso no combate dos vetores ao redor daquele foco da doença pra tentar impedir a disseminação dela. “Portanto a sociedade deve também estar atenta”, completou. (M.F)