Tatiane Ramos
Colaboradora Folha
Roraima não terá vacinação contra febre aftosa em 2020 de acordo com o cronograma divulgado pelo MAPA (Ministério da Agricultura). A equipe da Agência de Defesa Agropecuária de Roraima (ADERR), está traçando o que é necessário para que o estado fique livre da vacinação quando for vistoriado e seja reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Hoje, o único Estado brasileiro isento da vacina é Santa Catarina – SC.
O estado possui atualmente um rebanho bovino estimado em 850 mil cabeças de gado e a última campanha de vacinação do rebanho bovino foi em abril, em animais de 0 a 24 meses ao custo total de cerca de R$ 1 milhão. O índice de cobertura foi de 97,4%, considerado um dos melhores dos últimos anos.
Marcos Eugênio, médico veterinário, da Agência de Defesa Agropecuária de Roraima (ADERR), fala que para retirar a vacina é necessário cumprir uma série de etapas presentes no plano estratégico. “Dentro do Plano estratégico existem as etapas. O Brasil foi dividido em cinco blocos e cada um vai passar por essas fases e retirar a vacina em momentos diferentes”, diz.
O principal ganho para a pecuária roraimense será a abertura de novos mercados, possibilitando aos produtores a exportação para outros Estados e para fora do Brasil, caso o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento declare o estado livre de febre aftosa sem vacinação. Há países – como o Japão, por exemplo – que só compram carne de quem não usa a vacina.
Para esclarecer melhor aos produtores, no mês de agosto será realizado o I Fórum do Plano de Ação que irá apresentar detalhes do projeto à sociedade civil de Roraima. No entanto, o veterinário informa que até lá, os pecuaristas podem procurar a Aderr e esclarecer dúvidas. “Estamos aqui para informar quais são as vantagens, riscos e benefícios, e o próprio Fórum a ser realizado será um momento importante para tirar essas dúvidas e fazer esclarecimentos. Estamos abertos a sugestões”.
O que prever o Plano – O PNEFA (Plano Nacional de Erradicação e Febre Aftosa) prevê as seguintes diretrizes: gestão compartilhada entre governos e iniciativa privada, aperfeiçoamento das capacidades do SVO (Serviço Veterinário Oficial), regionalização das ações, sustentação financeira, adequação e fortalecimento do sistema de vigilância, agilidade e precisão no diagnóstico, previsão de imunógeno (partícula, molécula estranha ou organismo capaz de induzir uma resposta imunológica) para emergências veterinárias, cooperação internacional e educação em saúde animal.
Sem vacina, custos serão minimizados para pecuaristas
O custo do pecuarista para vacinar o rebanho que hoje chega a R$ 2 milhões, vai reduzir drasticamente (Foto: Secom-RR)
O pecuarista terá despesas reduzidas quanto à compra da vacina e os demais procedimentos para imunizar o gado, pois hoje é o produtor é quem arca com elas. “Além do custo com a aquisição da mercadoria, tem o deslocamento, gelo, transporte dos animais do pasto para o curral, e nesse manejo os animais podem até perder peso, uns até se machucam podendo ter fraturas graves. São essas rotinas e gastos necessários para vacinar que serão reduzidos”, disse Marcos Eugênio.
Pecuaristas de Roraima que conversaram com a Folha veem como benéfico esse plano estratégico sem a vacinação. Segundo Genival da Silva, residente do município de Mucajaí que há 10 anos atua no ramo, “Isso judia muito do gado, pois quando damos a vacina, os animais ficam cerca de uma semana com febre e sem conseguir se alimentar direito. Dependendo da quantidade de gado que o fazendeiro tem, o custo para imunizar é alto”.
Antônio José Neto, pecuarista há 20 anos, declara que o gado fica estressado e sofre quando recebe a vacina, pois aparecem hematomas, dá caroços, e sem a vacinação vai ser melhor para o animal.
Marcos Eugênio informa que as fiscalizações com as barreiras da febre aftosa estão adequadas, e a prioridade é na fronteira com a Venezuela, chamada de barreira da zona de proteção. “Quando se fala de plano estratégico, um dos objetivos principais e que mais devemos ter cautela é com a barreira internacional, porque nós conseguimos ter um controle do que está dentro das fronteiras do Brasil. Então nós precisamos reforçar essa proteção que fica no município de Pacaraima, nas propriedades fronteiriças com a Venezuela, e a principal barreira sanitária animal está lá nesta zona”, conclui.
Para o presidente da Coopercarne (Cooperativa de Carne), Nadisson Pinheiro, a diminuição de custos, o acesso a outros mercados, além da redução do trabalho de manejo do rebanho, vão trazer benefícios ao produtor.
“No primeiro momento, o custo será minimizado com a compra da vacina e o trabalho de levar o gado a cada seis meses no curral, além do benefício de oportunizar novos mercados. Mas devemos lembrar que vai aumentar a responsabilidade do pecuarista com obrigação de sempre prestar informações sobre o rebanho ao órgão fiscalizador, no caso a ADERR”, disse Nadisson.