Cotidiano

Roraima tem indicação a prêmio nacional pela primeira vez

Juíza roraimense é uma das finalistas em premiação que reconhece pessoas que lutam pelo fim da violência doméstica ou familiar

A juíza titular do 1º Juizado de Violência Doméstica do Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR), Maria Aparecida Cury, é a representante roraimense entre as finalistas do Prêmio Viva, que tem como objetivo reconhecer pessoas que atuam diretamente no combate à violência contra a mulher dentro do território brasileiro. Para a magistrada, a indicação foi uma forma de entendimento que o trabalho feito está devidamente mostrando resultados.

De acordo com o Instituto Maria da Penha, a cada dois segundos uma mulher é vítima de violência física ou verbal no Brasil. A realidade desse cenário brasileiro é base para ações no enfrentamento à violência contra as mulheres prevalente na sociedade. Em Roraima, a magistrada atua com enfoque na educação social desde muito cedo para que os dados de casos violentos sejam cada vez menores.

Maria Aparecida apontou que a fundamentação da Lei nº 11.340/06, mais conhecida como Lei Maria da Penha, é focada na mudança comportamental da sociedade através da educação de igualdade de gênero e que desde muito cedo deve ser incentivado o pensamento crítico para que as diferenças sejam diminuídas.

Com o projeto “Maria Vai à Escola”, o juizado desenvolve um projeto pedagógico nas escolas municipais, com crianças do ensino fundamental a partir dos 9 até os 11 anos. “A gente faz tudo o que pode. Vemos a importância desse trabalho, pois entramos nas escolas por meio das professoras, para falar com as crianças, visando à mudança da cultura da violência”, explicou.

Já foram mais de dois mil alunos inclusos no projeto, que consiste em oito aulas com temas relacionados aos direitos humanos e desigualdade de gênero, além de informações sobre a Lei Maria da Penha. “Trabalhamos tudo em cima do artigo 5º da Constituição Federal, que fala que somos iguais perante a lei. A violência contra a mulher é um problema de direitos humanos, um problema da sociedade, então trabalhamos esse artigo voltado para a violência”, ressaltou.

Segundo a juíza, o debate com crianças possibilita as chances de mais adultos com consciência social sobre os problemas enfrentados pelas mulheres. Os adolescentes também participaram de outro projeto desenvolvido pelo juizado, sempre com conversas sobre a necessidade de igualdade entre homens e mulheres, e que a violência não pode acontecer por questões de gênero.

“Nós vivemos em uma sociedade machista, que só mudará por meio da educação. Segundo a ONU Mulheres, somente daqui a 80 anos vamos ter essa igualdade, mas temos que continuar lutando para mudar esse cenário”, completou.

MEDIDAS PROTETIVAS – Sem descartar a violência já sofrida pelas mulheres, Maria Aparecida esclarece que o magistrado atua com a emissão de medidas protetivas junto às vítimas. No programa, a mulher violentada será encaminhada para assistência social e terapêutica.

“A cultura machista leva a mulher a acreditar que a violência que ela sofre é normal, infelizmente. Então, além da educação, precisamos ter políticas públicas para o empoderamento das mulheres, porque existe um mito que só mulheres dependentes financeiramente dos homens sofrem violência, mas isso não é verdade”, destacou.

A juíza apontou que a dependência afetiva é um dos principais motivos para que vítimas de violência doméstica permaneçam em relacionamentos abusivos, mas que por meio de trabalho social é possível sair desse ciclo violento. Entretanto, essas atividades precisam ser ampliadas para que o debate sobre a violência contra a mulher possa ser combatida.

PRÊMIO VIVA – A premiação acontece no dia 22 de novembro, em São Paulo. Serão sete categorias com 21 finalistas, na área da Saúde, Sociedade Civil, Revendedoras, Segurança, Justiça, Autonomia Econômica e Empreendedorismo e Eles por Elas. A votação para o prêmio é por meio de voto popular na internet até o dia 18 de novembro e também haverá um júri popular composto por especialistas.

“Independente de ganhar ou não, a indicação já é um reconhecimento, principalmente para quem é do Norte. No nosso estado não temos praticamente políticas públicas para as mulheres, mas cabe às mulheres mudar isso”, concluiu a juíza.