Cotidiano

RR está entre os cinco estados com maior número de suicídios

O Governo Federal descobriu que todos os anos 11 mil jovens brasileiros tiram a própria vida

Os casos e tentativas de suicídios registrados pela Polícia Militar e unidades de saúde, serão mapeados nos próximos meses. A Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) fará o trabalho na perspectiva de acessar o Projeto de Prevenção ao Suicídio, promovido pelo Ministério da Saúde (MS). O problema é que Roraima está entre os cinco estados brasileiros com maior número de suicídios.

No projeto, serão investidos R$200 mil em campanhas de promoção, vigilância e atenção integral à saúde mental por meio da Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde (SUS). A proposta acontece após constatação do Ministério da Saúde que a cada ano, 11 mil brasileiros tiram a própria vida.

Em todo o país essa é a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Conforme o Ministério da Saúde, Roraima é um dos cinco estados brasileiros com maior índice de suicídio para cada 100 mil habitantes, junto com Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Piauí.

Pesquisa do MS com dados de setembro de 2017 indica que em cada grupo de 100 mil pessoas, 5,1 homens/ano tiram a própria vida ao ano, entre as mulheres as suicidas são 0,9/ano.

De acordo com a Sesau, em Roraima, no período de 2010 a 2015, foram registrados 161 suicídios e 431 tentativas. O diretor de Saúde Mental da Sesau, Renato Amaral, acredita que os números sejam maiores em razão dos casos não notificados.

“Muitos casos não são registrados. E isso deixa os números incertos quanto a realidade. Vamos trabalhar para que nosso banco de dados seja alimentado de forma sistemática. Já observamos casos de suicídios serem relatados como ‘morte por violência’ ou ‘enforcamento’”, justificou.

Renato disse que mesmo antes do mapeamento é possível indicar, em quais regiões o projeto será aplicado com intensidade. “Ele é voltado para as regiões Sul e Centro-Oeste. Mas, Boa Vista será incluída, por ser o município com grande número de casos. Com os dados que temos, sabemos que estas regiões são as de maior incidência”.

O diretor de Saúde Mental contou que uma comissão permanente será encarregada da promoção e vigilância das ações e orientação de profissionais. “Queremos servidores de carreira nesta comissão porque mesmo que haja mudança de governo o trabalho continuará sendo feito”.

A diretora do Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) III, Sofia Salomão, acredita que apenas a conscientização não será suficiente. Por isso, o projeto também visa a capacitação de profissionais das mais diversas áreas. “Além das campanhas é importante orientar os profissionais nas escolas, nas unidades de saúde e dentro da polícia. Há trabalhadores que adoecem pela carga de trabalho. Outros, que desenvolvem o problema no cérebro. O profissional que for prestar atendimento deve conhecer os fatores externos e internos”, sugeriu.

Ela afirmou que as campanhas de conscientização tentarão reduzir ao máximo o emprego da palavra ‘suicídio’, para não estimular a ideia na cabeça de quem recebe informação sobre o tema. “Curiosamente, o mês de setembro, chamado de Amarelo, para prevenção do suicídio, foi o que mais teve casos em todo o Brasil. Por isso, a melhor forma de educar é não remeter ao suicídio, mas nos problemas que podem levar a ele”, frisou. (P.B) 

 ESPECIALISTA DIZ: 

Falta de perspectiva motiva tentativas de suicídios

De acordo com a psicóloga clínica, Tatiana Saldanha, o desejo de tirar a própria vida vem da falta de planos ou visão para dias futuros, independente disso ser resultante de uma depressão ou não.

“As pessoas tendem a achar que apenas a depressão leva ao suicídio. Mas pode haver outros fatores, que levam a perda de perspectiva. Chamo isso de ‘grande golpe’. Ocorre quando a pessoa passa por uma tragédia, uma mudança brusca, uma desesperança”, explicou.

Segundo Tatiana, em Roraima é comum o contato com pacientes que cogitam o suicídio relatando falta de perspectiva por problemas familiares, trabalhistas ou tragédias. “É difícil apontar algo que justifique Roraima estar entre os estados de maior índice de suicídios. Existem fatores como os fluxos migratórios, atual e de outras épocas. Pode ser cultural pela forma como algumas famílias tradicionais se portam perante a educação dos filhos. Há o fato de que o roraimense ainda não se atenta aos problemas de autoestima, achando que é frescura”, explicou.

A psicóloga cobrou atenção de parentes para eventuais problemáticas, dando atenção e lembrar a pessoa com tendência suicida sobre a importância que ela tem. 

“Mudanças de comportamento são um alerta. Ver se a pessoa está perdendo interesse em conversar ou em projetos. São comportamentos que podem parecer sutis, mas devem ser observados. Caso isso ocorra, vá ao psiquiatra. Peça acompanhamento psicológico, e fique ao lado da pessoa. Lembre que ela é importante e essencial, porque se ela está com esse problema, é porque não sabe disso”, concluiu. (P.B)

Unidades Básicas oferecem tratamentos preventivos

Em nota enviada pela Prefeitura de Boa Vista, foi mencionado que todas as Unidades Básicas de Saúde em Boa Vista são aptas para o acolhimento de pessoas que estejam sofrendo de depressão ou cogitando o suicídio. Nelas, exames são feitos para averiguar a existência de transtornos mentais e, após isso, realizar o encaminhamento para a instituição ideal.

“O Centro de Atenção Psicossocial – CAPS II, na Avenida Major Williams, 1494, Centro, também está de portas abertas para dar suporte às pessoas que precisam de acolhimento e que enfrentam momentos de crise.”, relatou. (P.B)