Os casos de microcefalia aumentaram consideravelmente nos últimos meses no Brasil, principalmente no Estado de Pernambuco, colocando todo o país em estado de alerta, inclusive Roraima. O Ministério da Saúde informou, na terça-feira, que já foram notificados 739 casos suspeitos em 160 cidades de nove estados do país. A principal hipótese para o surto continua sendo o contágio por zika vírus – identificado no Brasil pela primeira vez em abril. A microcefalia faz com que o bebê nasça com o crânio menor do que o normal. O maior número de ocorrências aconteceu em Pernambuco, com 520 casos suspeitos.
Segundo a coordenadora da Vigilância em Saúde de Roraima, Daniela Souza, embora o Estado não tenha apresentado nenhum caso de microcefalia, já existe uma preocupação em relação aos 1.117 registrados com suspeitas de zika e um estudo já está sendo feito pelos técnicos da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau). “Entre os casos suspeitos de zika, estamos levantando que são as mulheres férteis, que possivelmente podem ter engravidado neste período. Vamos fazer uma busca ativa entre as mulheres que engravidaram e que tiveram a zika ou não, e analisar a possibilidade de relação e fazer o acompanhamento”, frisou.
Ela explicou que o Ministério da Saúde ainda não confirmou essa relação entre as mulheres grávidas que tiveram zika ao nascimento de bebês com microcefalia, como vem sendo cogitado em nível nacional, mas está capacitando técnicos para tomar posicionamentos sobre o caso. “Estamos com técnicos da Sesau participando de reuniões, em Brasília, para discutir os posicionamentos que devem ser adotados e assim podermos orientar os técnicos da atenção básica dos municípios, tanto de Boa Vista quanto do interior do Estado”, afirmou.
Uma reunião está marcada para ocorrer na manhã de hoje, no prédio da Vigilância em Saúde do Governo do Estado, onde os técnicos que participaram do encontro em Brasília vão repassar as informações. “Vamos discutir qual vai ser o fluxo de encaminhamento dessa grávida que tenha tido zika, que passará a ser melhor assistida e com um olhar diferenciado, na tentativa de evitar males maiores, como o que está acontecendo em Pernambuco”, disse.
CAMPANHA – Daniela Souza afirmou que o Ministério da Saúde vai entrar com uma campanha pesada alertando a população para a retirada de lixo nas casas, o principal causador da proliferação do mosquito Aedes aegypti, o mesmo que transmite a dengue, a chikungunya e a zika. “Precisamos da ajuda da população para combater o Aedes aegypti, pois o maior criadouro é o lixo. Sem a população não tem como os poderes públicos municipal, estadual e federal dar conta da demanda de lixo que a população produz nas residências”, frisou.
Exemplificando a dificuldade enfrentada pelo poder público para combater os criadouros, ela citou os trabalhos dos carros fumacê, que passam na frente das casas, mas não atingem o quintal, local onde o acúmulo de lixo é mais frequente. “A única maneira de evitar a zika, a dengue e a chikungunya é evitar o criadouro do Aedes aegypti. A grande maioria destes criadouros está dentro das casas, nos vasos de plantas, no balde que apara água do ar-condicionado, da caixa d’água mal coberta, na piscina mal cuidada, pequenas quantidades de água que ficam no fundo do quintal, e isso precisa ser revisto e cuidado pelas pessoas”, frisou. (R.R)
Para coordenadora, zika evoluiu e não se sabe o que ainda pode vir
Outra preocupação da coordenadora da Vigilância em Saúde de Roraima, Daniela Souza, é quanto à evolução da zika no pouco tempo que apareceu no Brasil. Ela lembrou que a doença se apresentou inicialmente em abril deste ano com poucos sintomas e já aparece com outras correlações graves. “Temos que nos conscientizar, pois não sabemos que mais surpresas a zika pode estar trazendo. A zika iniciou como uma dengue que se chamava benígma, que não trazia tantos sintomas, mas, infelizmente, agora aparece com uma correlação neurológica grave e que nos faz ficar em alerta”, disse.
Por outro lado, a coordenadora informou que Boa Vista se encontra num momento de infestação relativamente baixo e dentro do índice considerado normal pelo LIRAa (Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti). “Boa vista se encontra num período bom, e não apresenta alta infestação de Aedes aegypti, mas sabemos que, nos meses de fevereiro e março, quando começa o período de chuvas no Estado, a tendência é que aumente os números. Por isso, precisamos que a população tome os cuidados para que estes números não aumentem para um caso mais grave”, disse.
Quantos aos municípios do interior, Daniela Souza ressaltou que Alto Alegre (Centro-Oeste), Caracaraí (Centro-Sul) e Rorainópolis (Sul do Estado) são os que mais apresentam a proliferação do Aedes aegypti, isso devido às condições apresentadas de acúmulo de lixo, não só nas residências, mas também nas ruas. “Alguns municípios têm apresentado dificuldade de fazer a coleta de lixo. Já existe uma parceria com o Governo do Estado para fazer a retirada do lixo nas ruas e tentar resolver esse problema”, disse.
PARCERIA – Daniela informou que existe uma parceria entre o Estado e a Prefeitura de Boa Vista no combate ao mosquito Aedes aegypti, através da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), que instituiu a Rede Sentinela – que reúne a Policlínica Cosme e Silva, o Hospital Geral de Roraima (HGR) e o Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA) – para dar celeridade ao processo de notificação da zika. (R.R)
Bebês nascem com circunferência do crânio menor que a normal
Vários fatores podem provocar a anomalia, como a má nutrição das mães, uso de drogas e álcool durante a gravidez e doenças como rubéola. Porém, no caso de Pernambuco, equipes médicas investigam uma possível relação do surto de microcefalia com o zika vírus.
A doença causa coceira na pele e febre baixa, sintomas que algumas mães relataram apresentar no início da gestação. Como providência para controlar a incidência e descobrir a causa do surto, o governo adotou a chamada situação de emergência em saúde pública de importância nacional. De acordo com o Ministério da Saúde, a medida tem como objetivo facilitar a investigação de novos casos, bem como compras e contratações emergenciais, caso seja preciso.
DOENÇA – A microcefalia é um problema de formação congênita, em que os bebês nascem com o cérebro menor que a média dos recém-nascidos, tendo a circunferência da cabeça menor que 33 centímetros. As crianças nascidas com a anomalia podem ter complicações de visão, audição e fala, além de epilepsia, quadros de convulsão ou retardo no desenvolvimento neurológico, psíquico e motor.
Não existe um tratamento específico para a doença, sendo necessário realizar terapias para melhorar as habilidades da criança. Os médicos orientam para um acompanhamento multidisciplinar durante toda a infância, com neurologista, pediatra, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, entre outros.
De acordo com o Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, algumas crianças com a doença podem ter algum tipo de incapacitação. Já outras com essa mesma anomalia podem se desenvolver semelhantemente a crianças saudáveis, inclusive na capacidade intelectual.