Cotidiano

RR registra 4 casos da Síndrome de Guillain-Barré com uma morte

Relação da doença com o vírus zika está sendo monitorada e investigada pelo Governo do Estado após registro de casos

A Síndrome de Guillain-Barré (SGB), doença autoimune rara, que geralmente se desenvolve após infecções bacterianas e virais e que pode estar relacionada com o zika vírus, fez as primeiras vítimas em Roraima. Três pacientes estão internados no Hospital Geral de Roraima (HGR) e um quarto morreu na noite de quarta-feira, 06, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), por complicações decorrentes da doença.

A morte do paciente foi confirmada pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), que esclareceu que o quadro clínico não apresentou fatores de ligação com o vírus zika. A secretaria negou a existência do registro de outros casos da doença na unidade hospitalar, embora os profissionais de saúde confirmem.

Conforme a Sesau, vários vírus, assim como possivelmente o zika vírus, podem provocar a síndrome, e assim como todas as possíveis consequências do zika, a relação do Guillain-Barré com o vírus está sendo monitorada e investigada pelo governo.

À Folha, a neurologista do Hospital Geral, Ana Rosa, confirmou a existência de mais casos da síndrome na unidade. “Tem mais três pacientes internados com a doença, mas não tem relação com o zika. Uma mulher apresentou os sintomas a partir de um quadro de pneumonia, um venezuelano, que pegou por um tumor de rim, e o outro não tem histórico epidemiológico e não sabemos como pegou a doença”, disse.

Conforme ela, o paciente que morreu estava há vários meses internado no HGR. “Eu que tratei o paciente, que morreu por complicações por ter ficado muito tempo internado. É uma doença que causa dificuldades respiratórias e tem uma recuperação lenta”, explicou.

A médica afirmou que nenhum dos pacientes que estão internados teve quadro comprovado de zika antes de serem diagnosticados com Guillain-Barré. “A gente pede sorologia para vírus, mas não temos nenhuma que possa confirmar a relação desses casos com o zika vírus, então não temos como saber”, frisou.

DOENÇA – Guillain-Barré é uma doença autoimune rara, que geralmente se desenvolve após infecções bacterianas e virais. A causa antecedente mais relacionada com a síndrome é uma infecção gastrointestinal pela bactéria Campylobacter jejuni, que pode estar presente em alimentos. Ao detectar a invasão no corpo, o sistema imunológico reage de forma excessiva para combater os intrusos e acaba atacando o próprio sistema nervoso periférico.

Ao longo da evolução do quadro, que pode levar 15 dias, a pessoa passa a perder os movimentos e a capacidade muscular, mas o cérebro e a medula não são afetados.

O período de internação varia de acordo com a gravidade do quadro e com o tempo de recuperação do paciente. A perda da capacidade de movimentar-se e o comprometimento dos músculos da respiração podem implicar em complicações, como a embolia pulmonar, aumentando o risco de morte.

ALERTA – Em dezembro de 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta global em que associava o zika ao aumento de implicações neurológicas, incluindo a Guillain-Barré. Em 2013, com o surto do vírus, a região da Polinésia Francesa – onde houve um aumento em 20 vezes do número de casos do zika – registrou que, entre as síndromes neurológicas seguidas da infecção pelo zika, a SGB era a mais comum.

No Brasil, o Ministério da Saúde reconhece que o zika vírus pode causar a doença, mas não há dados nacionais de ocorrências da SGB. Um levantamento oficial desses números esbarra no fato de que a síndrome não é de notificação compulsória, ou seja, seu registro para monitoramento não é obrigatório.

Em outros estados, como Pernambuco, médicos e pesquisadores identificaram o vírus transmitido pelo Aedes agypti em sete pacientes com a síndrome. (L.G.C)