O caso de uma adolescente de 16 anos, vítima de um estupro coletivo em uma comunidade no Rio de Janeiro, que afirmou ter sido dopada e violentada por 33 homens, chocou a população e trouxe novamente à tona dados alarmantes do tipo de violência cometido contra as mulheres. Segundo dados do 8º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, Roraima tem a maior taxa de estupros do País, onde são conferidos 66,4 casos por grupo de 100 mil pessoas.
O crescente número de estupros ou tentativas fez com que, em 2014, o número de registros chegasse a mais de 2.500. Em geral, a violência é praticada contra crianças e adolescentes. O sociólogo e professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Linoberg Almeida, afirmou que o estupro tem se tornando um desvio de conjunto de regras estabelecidas por mulheres e homens. “Estupro é crime social. Não é doença mental do estuprador, um desvio de comportamento de um homem, ou 33 homens. Reduzir a isso é diminuir as consequências da ‘cultura do estupro’. É desvio coletivo”, afirmou.
Ele lembrou os recorrentes casos que acontecem no País. “São meio milhão de casos no Brasil por ano, e as centenas de roraimenses vítimas de algo que nasce no invisível: a ‘esfregada de perna’ sem permissão no lotação, o assédio no ônibus, o assobio pretensioso na rua… Essa mulher prioridade de ser conquistada violentamente é problema cultural e social. São pais, padrastos, namorados, amigos que não estão só num beco escuro. Estão bêbados, dentro de casa e numa segunda-feira qualquer. Ou sóbrios, esperando a hora de atacar”, disse.
Conforme o sociólogo, para reduzir as estatísticas é necessário integrar políticas públicas de segurança. “É preciso fugir das propagandas vazias e das disputas entre governos estaduais, municipais e federal por votos. É necessário articular segurança pública e educação, formar polícias continuamente e apoiar ações endógenas, pensadas por eles para problemas vividos por eles policiais, por eles professores, por eles pais e mães”, analisou.
Para ele, ser governadora e prefeita num estado com epidemia de violências deveria ser motivador para ações conjuntas. “Ser mulher na gestão central deveria gerar uma imagem de empoderamento de meninas, mulheres… Governadora e Prefeita, de mãos dadas, seriam espelho de como a liberdade e a defesa do corpo são metas número um. Conversar sobre relações de poder com apoio luxuoso de movimentos de mulheres, feministas (sem ranços), jornalistas, professores… Uma rede de proteção e prevenção, com menos drones e mais olho no olho”, afirmou.
Almeida disse, porém, que a sociedade em geral tem se mostrado omissa ao estupro. “Mas, governo, sociedade, escola, rua, casa são omissos – criminalizam o estupro, mas fazem vista grossa a heranças privadas. Disputam espaços de poder. Somos todos vítimas de nosso silêncio, ao invés de preencher os silêncios com papos diários sobre as causas do estupro”, frisou. (L.G.C)